Seu animal de estimação é chamado de “Little Defeat”. Seus fãs “protestam” quando vencem. Mas depois de uma notória série de derrotas que lhes rendeu o apelido de “o pior time de futebol do mundo”, os peixinhos brasileiros Ibis estão prontos para a vitória.
Com sede na cidade de Paulista, no nordeste do Brasil, o Ibis Sport Club chegou à infâmia na década de 1980 por ficar três anos, 11 meses e 26 dias sem vencer uma partida.
Mas o clube regional, que disputa o campeonato pernambucano, respondeu a décadas de ridicularização com bom humor, transformando seu apelido irônico em um símbolo de orgulho e o que está se tornando uma marca poderosa.
Com sua propensão a tweets autodepreciativos e postagens no Instagram se tornando virais, o Ibis atraiu a atenção mundial, inclusive da empresa sueca de apostas online Betsson, que assinou o contrato de patrocínio mais lucrativo dos 84 anos de história do clube em junho passado.
Agora, cheios de dinheiro, os perdedores perenes começam a fazer o impensável: vencer.
“Vamos deixar nossa história como ‘o pior time do mundo’ para os anos 1980, quando o Ibis realmente era o pior do mundo. Não somos mais, embora usemos para marketing, para que as pessoas nos conheçam”, disse o presidente do clube e torcedor apaixonado de Ozir Ramos Junior.
Perdedores ou não, o Ibis mostrou um talento especial para construir sua marca na era das mídias sociais.
Quando Lionel Messi deixou o Barcelona em agosto passado, o Ibis se ofereceu para assinar o sete vezes vencedor da Bola de Ouro, com a condição de que ele não marcasse “muitos gols” ou ganhasse um campeonato.
No evento, o craque argentino partiu para o Paris Saint-Germain, com quem o Ibis agora se compara, já que nenhuma das equipes teve sorte na conquista da Liga dos Campeões.
– Perdedores adoráveis -
“Somos conhecidos em todo o planeta como os piores do mundo. Mas não vamos misturar isso com nosso lado profissional. Temos pessoas muito competentes”, disse Ramos à AFP.
O acordo de patrocínio com a Betsson permitiu à Ibis melhorar sua infraestrutura esportiva e pagar salários reais aos seus jogadores, que antes jogavam pelo “amor à camisa”, disse Ramos.
Na temporada passada, o clube conquistou a promoção da segunda divisão pernambucana para a primeira divisão do estado pela primeira vez em 21 anos.
O campeonato é a porta de entrada para a Série D, o escalão inferior do sistema de ligas nacionais do Brasil, embora o Ibis, de volta à forma, tenha lutado para entregar resultados e corre o risco de ser rebaixado novamente.
É apenas um revés temporário, diz o técnico Paulo Jesse.
“Hoje só trabalhamos com vencedores. Vamos nos livrar da nossa reputação de pior do mundo”, disse o treinador, segurança escolar em seu trabalho diário.
O Ibis certamente percorreu um longo caminho desde sua pior ignomínia, quando passou de 20 de julho de 1980 a 17 de junho de 1984 sem vencer um jogo, acumulando 48 derrotas e seis empates, com 25 gols a favor e 225 contra.
A sequência de derrotas foi tão ruim que a revista esportiva Placar escreveu um perfil do clube, declarando-o “o pior time do Brasil”, apelido que logo se tornou mais famoso do que os Pássaros Negros oficiais do clube.
Ibis afirma que ele ainda detém um Recorde Mundial do Guinness para a pior sequência de derrotas do mundo, embora não haja registro disso.
– Apelo universal –
Israel Leal, autor de um livro sobre a equipe, diz que os íbis têm apelo universal.
“Ibis é resistência. É como qualquer um de nós que está passando por um momento ruim e depois começa a lutar para vencer”, disse ele.
“Durante muitos anos o clube não fez nada além de perder e agora está ganhando.”
O proprietário Ramos diz que os íbis têm um jeito de conquistar o coração das pessoas.
Entre os torcedores que torcem pelos times mais populares de Pernambuco, Náutico e Sport Recife, “o Ibis é o segundo time favorito de todos”, disse ele.
Mesmo as lendas mais queridas do clube tendem a ser estrelas comuns, como Mauro Shampoo, um cabeleireiro com uma enorme cabeleira que jogou como meio-campista do Ibis no final dos anos 80.
Ele afirma ter marcado um gol, na derrota por 8 a 1 para o Ferroviário do Recife.
Mas não há registro disso.