Tapioca mistura hip-hop com música popular brasileira

CARACTERISTICAS
Tapioca mistura hip-hop com música popular brasileira

Por Gus Navarro 04 de abril de 2022

música popular brasileira — em português, metrômusica popular brasileira (MPB)é frequentemente associado a uma sensação tropical e a uma atmosfera descontraída. E se o artista de MPB que você está ouvindo se inclina mais para a bossa novasAmbas, ou CHorror, A música é quase garantida para definir o tom para uma noite divertida com os amigos. Mas não se engane: sob a superfície fria, a música do maior país da América do Sul é tão socialmente consciente quanto otimista.

“A música popular brasileira (MPB) desenvolveu-se em parte como uma resposta musical ao golpe militar de 1964 que derrubou um governo populista de esquerda inclinado à reforma”, diz Lorraine Leu, professora de estudos culturais latino-americanos na UT-Austin. “Antes do golpe, a cena cultural de esquerda havia se tornado muito dinâmica em imaginar a nova sociedade que surgiria dessas reformas. A derrota da esquerda provocou um grande exame de consciência por parte dos produtores culturais”. À medida que o Brasil enfrentava o regime político pós-golpe, que durou até 1985, surgiram artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben e Maria Bethânia, capturando a imaginação dos brasileiros em todo o país.

“A MPB inicial focou fortemente em questões de identidade nacional e como imaginar uma comunidade nacional sob regime autoritário”, explica Leu. “Embora esse cenário altamente politizado significasse expressar suas credenciais esquerdistas tocando formas tradicionais ou folclóricas da música brasileira, a MPB tornou-se uma mistura criativa do tradicional e do nacional com influências estrangeiras contemporâneas.”

À medida que a MPB ganhava popularidade no Brasil, a música acompanhava inteiramente os brasileiros que viajavam, estudavam no exterior ou se mudavam para novos países. No caso de Alessandro Vlerick, sua mãe se mudou para a Bélgica. Conhecido como Le Tagarel, Vlerick é um músico e letrista que cresceu na Bélgica. Crescendo, Vlerick ouviu e eventualmente fez todos os tipos de música. Mas a MPB sempre esteve presente. “Minha mãe e meu pai tinham um restaurante brasileiro”, diz Vlerick. “Então, durante toda a minha juventude houve muita música brasileira. Minha mãe era louca por Jorge Ben.”

Nos anos 2000, Vlerick conheceu o músico e entusiasta do hip-hop Simon Carlier, também conhecido como SiKa, através de amigos em comum. Os dois se deram bem e começaram a fazer música juntos. O que começou como dois artistas tentando colaborar se transformou em uma amizade. Nos 15 anos seguintes, Vlerick e Carlier lançaram alguns projetos de rap francês de sucesso moderado, continuando a sair e experimentar a música. Nessa época, Vlerick viajou para o Brasil e voltou com vários discos. “Conversamos muito sobre a música que ele trouxe. A ideia inicial era como testá-lo”, lembra Carlier. “Então começamos a falar sobre fazer algo que outros criadores de batidas ou descobridores de caixas pudessem tentar. Para reverter o processo.

O resultado final desse processo é Viajar por. Publicado por Vlerick e Carlier sob o nome Tapioca através da Registros de Jacarta, Viajar por é uma amálgama de muitos estilos musicais. Vlerick canta e faz rap quase inteiramente em português em Viajar por, e o processo de fazer o álbum o levou a pensar sobre uma linguagem que ele tinha sido em toda a sua vida de novas maneiras. “O que sempre gostei nos cantores eruditos brasileiros foi a suavidade. A fluidez. E também, os ritmos. Acho o canto brasileiro muito rítmico”, diz Vlerick. “Acho que como rapper você também confia no ritmo. Foi muito interessante experimentar todos os ritmos e sotaques e tentar aprender a cantar melhor em português”.

Por um lado, o projeto pode ser facilmente categorizado como hip hop; não demora muito para pegar quase Sincopação de boom bap fora do tempo misturada com linhas de baixo funk e padrões de quatro no chão. Mas o que se ouve acima de tudo é a influência da MPB.

Em parte, a essência da MPB vem da música. Seja “Seu Olhar”, a sétima faixa, ou “Maracuyá”, a quarta faixa, as composições têm um ar descontraído e praiano. Mas por baixo da atmosfera descontraída encontram-se temas mais profundos. Em “Voyage”, a segunda música, Vlerick canta sobre querer ficar longe de tudo e ver o mundo; a sexta faixa, “Melodia”, impulsionada por um refrão cativante, linha de baixo robusta e cordas, é um hino sobre autoestima. E ao longo do álbum, falantes de português de todo o mundo falam sobre o papel que a tapioca, a farinha feita da raiz da mandioca, tem desempenhado em suas vidas. Essa tapioca é imperdível parte da culinária e da cultura nas Américas, no continente africano e na Europa não é pouca coisa.

Em “Voyage”, Vlerick e Carlier pegaram na ideia inicial de experimentar a MPB e criaram algo completamente novo, que se encaixasse em um legado maior da música brasileira criado nos anos 60, 70 e 80, diz o professor Leu. “Eu entendo a música popular brasileira como uma conversa. Artistas estão sempre em diálogo uns com os outros em seu trabalho, tanto com seus contemporâneos quanto com figuras anteriores que podem ter morrido antes de nascerem. Eu diria que depois que a MPB surgiu, a música no Brasil se tornou o fórum cultural mais importante para se pensar os espaços de mudança de identificação que a mudança social pode gerar. Esse é o seu legado.”

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