Publicado em Rede brasileira atual
De Celso Napolitano, Presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo
A entrevista da empresária Viviane Senna, no jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (16) – “É claro que a reabertura de escolas não agrava a pandemia”, página B3, aqui – está cheio de ingenuidades, falsidades e até falácias sobre um assunto que merece ser tratado com mais seriedade. Viviane Senna aborda a questão do retorno às aulas presenciais.
Como psicóloga, ela mostra que entende pouco de epidemiologia. Na opinião de equipe qualificada sobre o assunto, constatou-se que 64,4% das crianças e adolescentes são portadores do vírus e são assintomáticos. É o que indica o inquérito sorológico realizado por técnicos da cidade de São Paulo. Ao afirmar que o número de crianças infectadas pelo covid-19 no mundo é pequeno, ele esquece que, mesmo assintomáticas, as crianças carregam o vírus para casa. E assim potencialmente contaminando pais, amigos, vizinhos, colegas e até mesmo estranhos em transportes públicos lotados.
O entrevistado também mostra um desconhecimento ingênuo da realidade social da escola pública. Ao zombar dos ‘campeões da educação’, é preciso lembrar que o Brasil e seus vizinhos também são campeões da desigualdade social. Como comparar os protocolos de retorno às aulas desenvolvidos por um pequeno grupo de escolas de elite com as condições limitadas de outras três mil pequenas escolas particulares que compõem a rede privada de ensino da cidade de São Paulo?
Viviane Senna, volta às aulas não é pra ninguém
A palavra mágica para reduzir a exposição dos escolares ao perigo da poluição nas escolas parece ser a “rotação” da presença. Com alunos frequentando a escola, com permissão dos pais, em poucos dias. Mas os educadores, a quem nunca foi pedido que opinassem, terão de comparecer todos os dias. Em contato direto com crianças que, mesmo assintomáticas, podem transmitir o vírus mortal.
A “rotação” proposta também expõe outro falso argumento a favor de um rápido retorno à escola. A necessidade urgente de pais que precisam se apresentar para trabalhar. E para isso, eles devem deixar seus filhos sob a custódia da escola. E os dias em que a criança não pode ir à escola? Com quem eles ficarão? O raciocínio não está fechado.
Por fim, temos por parte do “especialista” como está o folha, a opinião genérica e perigosa de que “podemos abrir um restaurante, um centro comercial, no dia 25 de março, um bar, um salão de beleza, tudo antes das escolas” – bem, frequentam-se o restaurante, as lojas e os salões por quem quiser, mas o educador será obrigado a estar presente nas escolas, receber os alunos presencialmente e também preparar material e cuidar da educação a distância de quem fica em casa, seja por escolha própria ou porque “não é. agendada ”.
Exemplo internacional
O exemplo internacional continua sendo uma boa referência para nós. Notícias recentes informam que, na França, mais de oitenta escolas que voltaram às aulas presenciais foram fechadas nos últimos 15 dias devido a casos de covid-19. Parece um número pequeno, considerando que existem 60.000 escolas naquele país. Mas olhe só: só no estado de São Paulo, com 11 mil escolas particulares, houve mais mortes (32,9 mil desde março) do que em toda a França (31 mil), que registrou 8 mil novos casos de contaminação no último final de semana. . Para manter a proporcionalidade com a França, a reabertura de escolas agora, em São Paulo, poderia causar um aumento de até 80 mil casos de contaminação por aqui, causando o fechamento de 800 escolas reabertas irresponsáveis.
Não é o que queremos para nosso povo. Como diz com muita sensibilidade a jurista e escritora Andréa Pacha, em manifestação nesta quarta-feira, “infelizmente não tivemos paz nem uma política responsável para enfrentar esta pandemia”. Não podemos falhar.