UFPR encontra substâncias cancerígenas na Bahia de Paranaguá

Um estudo inédito de pesquisadores do Centro de Estudos Marinhos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) revelou a presença de hidrocarbonetos aromáticos (HPA) em amostras coletadas na Baía de Paranaguá. Os hidrocarbonetos são substâncias que vêm do petróleo, da queima de combustíveis fósseis ou da queima de vegetação, podem ser cancerígenos e mutagênicos em grandes concentrações.

O alerta em relação à contaminação ambiental faz parte da tese de doutorado defendida por Marina Reback García, cujo professor é César de Castro Martins. Diferentes classes de hidrocarbonetos foram encontradas em manguezais e podem ser de origem natural, assim como poluentes do meio ambiente. “Este é o primeiro estudo na região e envolve uma escala espacial muito ampla, pois conseguimos fazer essas análises tanto na região mais sujeita à atividade humana, como nas baías de Paranaguá e Antonina, mas também coletamos e analisamos sedimentos de manguezais mais isolados, na região da baía de Laranjeiras, Pinheiros e Guaraqueçaba ”, explica o professor.

Embora o estudo tenha identificado HAPs, também indicou que os níveis dessas substâncias presentes nos manguezais paranaenses são menores do que em outras baías brasileiras. O fato, porém, não reduz os riscos para uma região que é considerada berçário natural para inúmeras espécies marinhas e é um importante ecossistema sequestrador de carbono, ajudando a minimizar o aquecimento global.

Segundo Marina, o acúmulo desses compostos é preocupante devido à pesca de caranguejos e ostras, o que indica que eles podem afetar os animais da base da cadeia alimentar desse ecossistema. “Esses compostos, principalmente da queima do petróleo e seus derivados, usados ​​na navegação ou mesmo de águas residuárias, podem estar se acumulando nesses locais, que depois serão utilizados para a pesca. Então esse é o principal alerta que pode ser dado ”, resume.

Além dos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, a pesquisa abrangeu outros compostos formados pela combinação de hidrogênio e carbono. Parafina, gasolina e naftalina são alguns dos nomes mais populares associados aos hidrocarbonetos e usados ​​na vida cotidiana. A pesquisa da UFPR também identificou compostos muito resistentes à degradação, chamados de biomarcadores do óleo, que são como “esqueletos” de antigas formas de vida, que constituem o óleo. “Estudar essas moléculas em manguezais nos ajuda a identificar a presença de óleo nesse ecossistema, mesmo quando outros poluentes como os PAHs sugerem um baixo impacto humano”, reflete o professor.

Segundo os cientistas, o impacto dos hidrocarbonetos associados à atividade humana nos manguezais do Complexo Estuarino pode ser considerado baixo, mas é importante analisar os sinais nas baías de Antonina e Paranaguá e no entorno da Ilha do Mel, regiões onde ocorrem as ocupações. urbano. e atividades portuárias. Por outro lado, o eixo Norte-Sul, nas baías das Laranjeiras e Pinheiros, apresentou baixa evidência de compostos relacionados à atividade humana. “Tais condições devem ser consideradas no planejamento de novos projetos na região”, alertam os pesquisadores.

O professor César aponta ainda outro resultado relevante: com a caracterização e análise dos hidrocarbonetos presentes nos manguezais dessas regiões, será possível ter uma noção mais precisa, em longo prazo, da evolução do estado de contaminação desses mesmos pontos. Em caso de acidente ambiental, por exemplo, esses dados obtidos na investigação seriam uma espécie de marco zero para o Sistema Estuarino de Paranaguá.

O risco é maior em locais com mais atividade humana

A coleta de amostras foi realizada em cerca de 40 pontos distribuídos nas baías principais do Complexo Estuarino de Paranaguá: Antonina, Paranaguá, Laranjeiras, Guaraqueçaba e Pinheiros. Os pesquisadores removeram a lama da superfície dos manguezais com cerca de dois centímetros de profundidade, uma indicação de que haviam sido depositados mais recentemente. Em seguida, foram levados ao laboratório e extraídos com solventes orgânicos para que a equipe, por meio de técnicas de cromatografia gasosa e espectrometria de massa, pudesse identificar e quantificar essas substâncias.

As análises foram realizadas intencionalmente em regiões mais preservadas e em outras mais sujeitas às atividades humanas. “As baixas concentrações de hidrocarbonetos mostram o estado de conservação da região. No entanto, em alguns pontos mais próximos de onde há atividade humana mais intensa, as concentrações de PAH e biomarcadores são um pouco maiores. São locais que exigem mais atenção e acompanhamento ”, enfatiza o professor.

Entre esses pontos, destaca-se a região próxima ao porto de Paranaguá e um terminal de embarque na Ilha do Mel. Nesses locais, a equipe se concentrou na análise de biomarcadores de óleo. “Essas substâncias são capazes de demonstrar a entrada de petróleo e derivados, vindos principalmente de embarcações e pequenas embarcações e de esgoto doméstico”, enfatiza Marina.

Já nas baías de Antonina e Guaraqueçaba, os hidrocarbonetos detectados estavam mais associados aos restos vegetais do próprio mangue. Isso indicaria, segundo ela, que se trata de áreas muito abrigadas e que, embora preservadas, também podem acumular poluentes de outras regiões. “A investigação traz então uma indicação de áreas ambientalmente sensíveis, capazes de acumular essas substâncias”, resume.

Manguezal na Ilha do Mel. Foto: Arquivo Fabio Conterno / Gazeta do Povo.

Ilha do Mel em alerta

A maior concentração de HAP foi identificada no entorno da Ilha do Mel, próximo ao Terminal Encantadas. As médias totais de Paranaguá e Antonina também foram superiores às de Pinheiros e Guaraqueçaba. No caso de Antonina e Paranaguá, os níveis são moderados e se distribuem pelo manguezal, mas a Ilha do Mel é um ponto específico que chama a atenção dos pesquisadores.

Em aliança com pesquisadores da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, o estudo chegou a outro indicador relevante: o das relações entre as concentrações de biomarcadores derivados do petróleo com compostos biogênicos, que são naturais e não têm origem na atividade humana. Isso ajuda a identificar a presença de óleo no meio ambiente, mesmo quando os níveis de outros hidrocarbonetos são relativamente baixos.

O estudo também alerta para contribuições crônicas: ou seja, poluentes que se depositam diariamente, em pequenas quantidades, fenômeno diferente dos que ocorrem em acidentes ambientais, por exemplo. O que acontece, segundo Marina, é que a baixa capacidade de purificação desses compostos do manguezal favorece a absorção e o acúmulo, no dia a dia, no ecossistema.

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