Tributos no Brasil: do asilo à reforma necessária

Um livro que pesa 15 toneladas, tem dois metros de altura e contém quase 50.000 páginas. Ela existe na vida real e está exposta no estado de Minas Gerais em um quarto de hotel, único local onde o autor, promotor Vinícios Leôncio, encontrou espaço para abrigá-la.

E este livro ridiculamente grande consiste inteiramente em leis tributárias brasileiras.

média de 35 novas regras fiscais eles são escritos todos os dias no Brasil, o que torna o esforço de aprender todos eles, quanto mais aplicá-los, uma tarefa ignominiosa e quase impossível. “Enquanto falamos, pode apostar que uma nova regra está sendo feita em algum lugar do país”, diz Leôncio, que dirige um escritório especializado em direito tributário em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.

Não é incomum que quem paga impostos não saiba exatamente o que está pagando e quem arrecada não saiba o que está arrecadando. Ainda assim, a Receita Federal do Brasil é implacável: apelidada de “Leão” por sua agressividade em encontrar possíveis erros de cobrança.

O Brasil tem vários regimes tributários diferentes nos níveis federal, estadual e municipal, que muitas vezes se sobrepõem. A notória burocracia do país aumenta o custo de fazer negócios no Brasil e sufoca a inovação.

Segundo dados do Banco Mundial de 2019, são necessárias em média 1.500 horas por ano (ou 187 jornadas de oito horas) para cumprir a legislação tributária brasileira.

A Câmara dos Deputados do Brasil aprovou recentemente uma proposta de reforma tributária do governo federal com o objetivo de simplificar esse complicado conjunto de regras.

Vários impostos sobre o consumo serão fundidos em dois impostos sobre valor agregado (IVA), chamados CBS (federal) e IBS (local).

A proposta já está pronta para ser votada no Senado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera que os senadores ajustem uma emenda de última hora de 35 páginas apresentada pelos legisladores com várias novas disposições, como permitir que os governos estaduais mantenham impostos adicionais sobre produtos primários e semi-acabados até 2043. , substituindo fundos semelhantes em alguns governos estaduais. .

Reformar o barroco código tributário brasileiro é algo que já foi cogitado várias vezes nas últimas décadas, mas só agora chegou ao estágio em que poderia ser efetivamente implementado.

“A votação da reforma tributária exigiu um acordo substancial em todas as linhas políticas”, diz Bruna Santos, diretora do Instituto Brasil do Wilson Center. “Isso incluía apoio da esquerda, do centro e até de alguns membros do partido de Jair Bolsonaro. É realmente um avanço significativo.”

O enorme livro de direito tributário do Sr. Leôncio foi escrito entre 1991 e 2014 e não foi atualizado desde então. Ele calcula que, se tivesse continuado com o trabalho, o livro teria dobrado de tamanho, chegando talvez a 30 toneladas.

“Depois dessa reforma tributária, o livro encolheria pelo menos 95%. Acho que pesaria menos de 100 quilos”, diz o advogado. Pelo menos 6.000 leis diferentes serão consolidadas, segundo sua contagem.

Uma das mudanças mais importantes da reforma é que, a partir da entrada em vigor, os tributos não serão mais cumulativos. Os produtos serão tributados no ponto de destino, o que busca acabar com as chamadas “guerras fiscais” em que os Estados tentam se equiparar oferecendo incentivos fiscais mais atrativos para atrair empresas.

Segundo o governo federal, a reforma não reduzirá efetivamente o valor dos impostos que os brasileiros pagam ou o valor arrecadado. Será elaborado um sistema de freios e contrapesos para compensar eventuais perdas com tributos especificamente destinados aos estados e municípios, a partir de denúncias desses órgãos. Um conselho será criado para administrar os regulamentos fiscais do IVA.

O ganho econômico para o país com a reforma, segundo especialistas, viria de uma maior eficiência do sistema tributário, o que poderia aumentar a competitividade e melhorar a arrecadação no longo prazo.

Há a promessa de reduzir a carga tributária de produtos de primeira necessidade, como alimentos e remédios, mas ainda não foram definidas as alíquotas específicas que incidirão sobre esses produtos. Cerca de 42% das receitas tributárias do Brasil vêm do consumo, a forma mais regressiva de tributação porque atinge proporcionalmente mais os pobres.

Os itens da cesta básica terão alíquota zero da CBS, mas ainda é necessária uma lei complementar para definir exatamente quais produtos serão beneficiados. O impacto final nos preços, na inflação e na economia como um todo ainda é desconhecido.

“Mesmo com a indefinição de muitos dos índices finais, agora teremos uma certa clareza”, diz Leôncio. “Acho que finalmente aconteceu porque a sociedade amadureceu e os legisladores perceberam que precisamos sair do hospício.”

Relatório BI Brasileiro

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