O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o desafiante Luiz Inácio Lula da Silva recorreram a ataques não edificantes enquanto lutam por votos cruciais antes do que deve ser um segundo turno apertado no final do mês.
A campanha de Bolsonaro lançou na terça-feira um anúncio de televisão ligando o esquerdista Lula ao crime, dizendo que ele recebeu o maior número de votos de prisioneiros no recente primeiro turno da votação.
Outro anúncio de ataque focou no histórico de corrupção no Partido dos Trabalhadores de Lula, sugerindo que os eleitores seriam cúmplices no apoio ao ex-presidente.
Enquanto isso, aliados de Lula apreenderam um vídeo de 2016 de Bolsonaro no qual o então legislador disse que estava preparado para cometer canibalismo durante uma viagem à selva amazônica com uma tribo indígena.
“Bolsonaro comeria carne humana”, gritava um vídeo de campanha postado após o primeiro turno das eleições de 2 de outubro, que mais tarde foi proibido pelo tribunal eleitoral do país.
Os ataques mostram como as luvas foram removidas na corrida pela presidência da democracia mais populosa da América Latina, à medida que a distância entre os dois candidatos diminuiu.
Os dois políticos polarizadores competirão em um segundo turno em 30 de outubro, após um primeiro turno mais próximo do que o esperado, mas inconclusivo. Nessa votação, Lula obteve 48,4% dos votos válidos, enquanto Bolsonaro obteve 43,2%, confundindo os pesquisadores que estimavam seu apoio em trinta e poucos anos.
Bolsonaro precisará de mais de 6 milhões de votos adicionais no segundo turno para ser reeleito.
A taxa de rejeição de Lula entre os eleitores aumentou consideravelmente desde o primeiro turno das eleições. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha no final da semana passada constatou que houve alta de 6 pontos percentuais, enquanto a de Bolsonaro caiu um ponto percentual.
Ambos os candidatos reclamaram dos novos vídeos de ataque e apresentaram acusações de notícias falsas, embora o conteúdo ofensivo muitas vezes não seja criado pelas próprias campanhas.
Filipe Campante, professor da Universidade Johns Hopkins, disse que esses anúncios são a “consequência natural do papel dominante da mídia social no cenário político da mídia”.
Ele continuou: “A mídia social tem duas características principais que importam aqui. Primeiro, o conteúdo escandaloso gera mais engajamento, e o engajamento é rei.
“Dois… qualquer um é um provedor de conteúdo. Então você pode postar conteúdo escandaloso com um pouco mais de distância da campanha oficial.”
Após uma campanha de primeiro turno dominada por duas personalidades divisivas que careciam de detalhes políticos, os cidadãos que esperavam um debate mais esclarecedor sobre questões como a economia até agora ficaram desapontados.
As acusações mais baixas contra Lula apontam para a sensibilidade dos cristãos evangélicos, uma comunidade crescente no Brasil que tende a ser socialmente conservadora, compõe cerca de um terço da população de 215 milhões e é um dos pilares do apoio de Bolsonaro.
A equipe de Lula foi forçada a negar que planeja fechar igrejas e defendê-lo contra acusações de satanismo, insistindo em sua própria fé cristã. “Lula não tem pacto nem nunca conversou com o diabo”, dizia um panfleto publicado esta semana.
“Esse tipo de debate tem sido um terreno fértil para Bolsonaro manter sua base ativa nos últimos anos”, disse Mario Braga, analista sênior da Control Risks.
A campanha de Bolsonaro foi impulsionada por importantes vitórias na eleição para governador. Em Minas Gerais, um estado-chave no sudeste do país, o governador Romeu Zema prometeu apoiar Bolsonaro e pode desempenhar um papel crucial na mudança da região que votou em Lula no primeiro turno.
Reportagem adicional de Carolina Ingizza em São Paulo