URUARA, Brasil (Reuters) – Agentes ambientais brasileiros marcharam pela floresta tropical com facões nesta quinta-feira em busca de criminosos nas primeiras operações antidesmatamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu acabar com a crescente destruição herdada de seu antecessor, Jair. Bolsonaro.
A Reuters acompanhou exclusivamente as incursões lideradas pela agência ambiental Ibama no estado do Pará, onde a floresta tropical está localizada, para impedir que madeireiros e fazendeiros derrubassem ilegalmente a floresta.
A agência também realizou buscas esta semana nos estados de Roraima e Acre, disse a coordenadora de regularização ambiental do Ibama, Tatiane Leite.
Cerca de 10 agentes do Ibama saíram em caminhões na quinta-feira de sua base no município de Uruara, no Pará, junto com uma dezena de policiais federais, em direção a um grupo de pontos onde imagens de satélite mostraram madeireiros e fazendeiros recentemente derrubando a floresta ilegalmente.
Em 12 horas em estradas de terra que cortam ilegalmente uma reserva indígena, o comboio chegou a cinco áreas desmatadas e queimadas na época das eleições de outubro passado, que opuseram Lula a Bolsonaro.
Todas as áreas estão dentro da reserva indígena Cachoeira Seca, onde o desmatamento é terminantemente proibido.
Quatro dos terrenos pareciam ter sido abandonados posteriormente, sem nenhum sinal de pessoas morando nas proximidades ou em processo de transformá-los em fazendas. Agentes disseram que poderia ser um sinal de que fazendeiros ilegais desistiram de gastar tempo e dinheiro transformando terras ilegais em pastagens produtivas, sabendo que Lula fez campanha com promessas de acabar com o desmatamento.
“As pessoas sabem que neste governo a fiscalização vai ficar mais dura e não vão deixar usar uma área que desmataram ilegalmente”, disse Givanildo dos Santos Lima, agente que comanda a missão do Ibama em Uruara.
“Se o outro governo tivesse vencido, você teria encontrado gente aqui, pastos bem cuidados e gado.”
O governo de Bolsonaro cortou funcionários e fundos do Ibama para fiscalização ambiental em seus quatro anos de mandato, enquanto o ex-presidente criticou o Ibama por impor multas a fazendeiros e garimpeiros.
Bolsonaro deu ao Exército e depois ao Ministério da Justiça autoridade sobre as operações de combate ao desmatamento, deixando de lado o Ibama, apesar da vasta experiência e sucesso da agência no combate à destruição da Amazônia.
Uma área maior que a Dinamarca foi desmatada no governo Bolsonaro, um aumento de 60% em relação aos quatro anos anteriores.
Em outra área da reserva, os agentes encontraram uma casa recém-construída com várias motosserras e abastecida com alimentos para semanas, indicando que os ocupantes teriam fugido pouco antes da chegada do Ibama.
Flanqueados por policiais com armas semiautomáticas, os agentes do Ibama abriram caminho pela selva adjacente para chegar a uma área do tamanho de 57 campos de futebol repletos de árvores caídas e toras carregadas.
Alguns milhos plantados aleatoriamente brotaram até a altura do joelho, no que parecia ser uma tentativa de recuperar a área para eventualmente transformá-la em pasto para gado, disseram agentes.
“Vamos voltar com um helicóptero e pegá-los de surpresa”, disse Lima.
Ele estava otimista de que o Ibama poderia realizar mais batidas no governo Lula, com o objetivo de multar os desmatadores e impedir que criminosos tentassem desmatar mais áreas.
Lula, na campanha eleitoral do ano passado, prometeu colocar o Ibama de volta no comando do combate ao desmatamento com recursos e pessoal reforçados. Ele assumiu o cargo em 1º de janeiro, então o dinheiro adicional e a equipe ainda não chegaram às autoridades da linha de frente.
O governo Bolsonaro negou vários pedidos da Reuters para acompanhar as missões do Ibama durante a gestão 2019-2022. Seu governo instituiu uma ordem de silêncio proibindo agentes do Ibama de falar com a imprensa, que os agentes dizem ter sido revogada.
Lula assumiu o cargo pela primeira vez em 2003, quando o desmatamento na Amazônia estava próximo do recorde histórico e, por meio da aplicação rigorosa das leis ambientais, ele o reduziu em 72%, quase um recorde, quando deixou o cargo em 2010.