Tecnologias policiais no contexto brasileiro.

Crédito: Edgar Su / Reuters

No meu último artigo, supus que os protestos que se seguiram à morte de George Floyd (25/05/2020), nos Estados Unidos e na Europa, poderiam levar a uma aceleração da substituição da polícia humana por tecnologias digitais.

Embora isso contrasta com a partida momentânea do trio. IBM, Amazonas e Microsoft Desde a venda de algoritmos de reconhecimento facial à polícia, a situação mais ampla é de crescente desconfiança em relação ao desempenho deles, e essa é a senha para o avanço da tecnologia na área.

É importante notar que os três são os principais doadores de dinheiro e tecnologia para combate ao crime nos Estados Unidos e que seus executivos seniores costumam investir as horas perdidas em conselhos de segurança municipais e estaduais em diferentes regiões do país. Finalmente, como Kashmir Hills apontou para ele New York Times 24/6“O gesto dessas empresas foi basicamente simbólico, uma vez que não são grandes players nesse setor. As tecnologias usadas pelos departamentos de polícia são fornecidas por empresas menos conhecidas do público, como Vigilant Solutions, Cognitec, NEC, Rank One Computing e Clearview AI “.

No Brasil, a situação é bem diferente, principalmente pelo fato de o crime ser epidêmico. Isso tende a levar à aceitação apática de qualquer tipo de aparato tecnológico que prometa reduzi-lo, sob a lógica de que, se for menos ruim, é bom. Você pode entender quem pensa assim, mas o fato é que é das concessões feitas na batalha contra o mal maior que as prisões daqueles que pensam que são livres geralmente são feitas. Com isso em mente, escrevi este artigo no qual reviso o ferramentas tecnológicas para combater o crime não violento que eles estão mais em evidência e que são, ou quase foram, adotados no Brasil.

Antes de começar, é importante observar que algumas das principais tecnologias policiais em uso no Brasil não se enquadram na categoria “mais evidências”. Isso ocorre porque eles tendem a ter um uso exclusivamente interno, além de serem complicados ou tediosos para quem não está na área.

O PMSP Operations Center (COPOM), por exemplo, possui uma sala de controle com diferentes sistemas equipados com inteligência artificial (aprendizado de máquina) para otimizar viagens, melhorar a comunicação e prever a localização de novos eventos, conforme recomendado por Metodologia CompStat, famoso nos Estados Unidos. Uma plataforma importante é a Detectar sistema, Que produz mapas de crimes usando dados de diferentes centros, dados biométricos e outras fontes.

O Sistema Ômega, por outro lado, é uma plataforma de inteligência de dados para a polícia civil do mesmo estado, que serve para produzir idéias investigativas, baseadas na integração de diferentes tipos de informações sobre suspeitos. O PMSP Mobile Data Terminal Integrator (TMD) possui uma estrutura computacionalmente sofisticada, permitindo a ocorrência e consulta de eventos por telefone celular ou tablet. Etc.

Tudo isso ficará para mais tarde, para que possamos ver as tecnologias que estão fazendo mais barulho.

Filmadoras de rua

As câmeras de segurança tradicionais registram o que acontece nas áreas ao seu alcance e as enviam Dados para um centro de monitoramento em que, cada vez mais, o primeiro a ajudar é um algoritmo, que pode ser do Sistema Detecta ou de outro sistema interno.

Uma maneira de expandir esse uso é disponibilizando gravações por meio de transmissão para quem quer ver, assim como a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego da Cidade de São Paulo), que permite o acesso a várias câmeras em tempo real. Existem também projetos mais ousados, como o “City Chambers” da cidade de São Paulo. Além de propor a instalação de 10.000 câmeras pela cidade e criar um intercâmbio de informações entre diferentes agências de segurança, o projeto incorpora câmeras de residências e empresas interessadas em participar, ampliando sua área de cobertura. As câmeras públicas podem ser acessadas aqui.. Vale ressaltar que o número de câmeras atualmente presentes é baixo.

Câmeras no veículo

A tendência de usar câmeras em veículos policiais, no para-choque dianteiro e dentro do carro, começou há mais de 30 anos, para gerar evidências contra aqueles que estão cometendo crimes e transparência em relação à polícia, principalmente quando combinados com a localização. . Veículos GPS.

Nos modelos mais antigos, as imagens eram de baixa qualidade (VGA) e restritas a pequenas caixas pretas, semelhantes às aeronaves. No entanto, a tecnologia mais barata tornou comum as câmeras de automóveis que gravam em Full HD e que possuem um recurso chamado High Dynamic Range (HDR), que permite a interpretação das situações mais caóticas. A transmissão também se tornou popular.

Um famoso estudo da Associação Internacional de Chefes de Polícia (IACP) descobriu que câmeras em veículos Melhore bastante o profissionalismo policial e a confiança dos cidadãos.. Paralelamente, eles desempenharam um papel básico no treinamento policial; Por exemplo, a combinação de dados de GPS, velocidade de condução e gravação de vídeo permite a conversão de atividades que deram errado em material de estudo.

Em setembro do ano passado, o deputado Emerson Miguel Petriv encabeçou um projeto de lei (4223/19) que recomendava que todos os carros da polícia civil e militar fossem equipados com câmeras e GPS; Em novembro, o projeto foi arquivado pela Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, com a opinião da deputada Fabiana Silva Poubel. Segundo ela, as câmeras são caras e serviriam apenas para obrigar a polícia (conheça seus argumentos em detalhes)

Câmeras individuais

As câmeras individuais são do tamanho de pequenos telefones celulares, presas em uniformes e gravam mídia. Os mais modernos podem gravar mais de 12 horas seguidas, antes do download. Existem variações processuais, mas, em geral, a idéia é que elas permaneçam conectadas durante todo ou quase todo o horário de trabalho, permitindo uma melhor coleta de evidências e transparência nas ações de cada policial. Eles têm um apoio massivo em todo o mundo, independentemente de gênero e renda. Nos Estados Unidos, por exemplo, Quase 90% das pessoas apoiaram seu uso, mesmo antes dos protestos de maio. Os policiais, por sua vez, geralmente os rejeitam como se sentem sob guarda. Reclamações de que as câmeras são deliberadamente desligado, ou coberto com fita adesiva, não cause mais surpresas.

Finalmente, existem perguntas mais sutis. Por exemplo: seria bom permitir que os cidadãos filmados vissem a gravação? Em caso afirmativo, isso deve se aplicar aos suspeitos, mesmo sem condenação? E a polícia prestes a denunciar confrontos violentos? Enquanto uma pesquisa empírica de 2016 mostrou que a adoção de câmeras individuais Reduz bastante as queixas contra policiais e crimes, uma revisão mais recente sugeriu uma imagem menos encorajadora. Segundo os autores, o impacto de câmeras individuais depende intimamente de práticas “menos consensuais”, como acesso dos cidadãos aos registros em que aparecem e limitação desse acesso a policiais envolvidos em confrontos violentos.

O uso dessas câmeras está avançando no Brasil, embora de forma tímida. Dois estados de destaque são Santa Catarina e São Paulo. Em julho do ano passado, a primeira polícia militar adquiriu 2425 câmeras individuais, para serem distribuídas em diferentes cidades. Aqui você vê um exemplo de uso, em São Bento do Sul.

Em São Paulo, o processo de adoção começou alguns meses antes, mas permanece tímido, longe de atingir toda a força da polícia militar, que excede 80.000 policiais e bombeiros. De acordo com Relatório da Folha de S. Paulo, as primeiras mil câmeras foram adquiridas no início do ano passado, destinadas a seis batalhões.

Um ponto de atenção é que os cidadãos não têm acesso às gravações em que aparecem, sem ordem judicial, o que limita seu papel de controle. Além disso, como recordou Fernanda Mena, em artigo esclarecedor sobre o assunto“Se as câmeras parecem capazes de impedir ações abusivas, o mesmo não pode ser dito em relação à punição da violência letal ilegal praticada pelas forças policiais. Esses casos são investigados dentro da corporação por Corregedorias sem independência institucional, o que isso traz conflito de interesses.

Reconhecimento de face e outros algoritmos.

Os registros feitos pelas diferentes câmeras podem ser usados ​​para identificar pessoas, placas e tudo o que for de interesse. Em geral, o software responsável por isso funciona em duas etapas: detecção (“aqui é um rosto humano”) e reconhecimento (“aqui é assim”). Quando as câmeras estão em espaços onde as pessoas se movimentam livremente, o software tende a processar registros daqueles que não deram permissão explícita para fazê-lo. Isso está na base da controvérsia que eles geram.

No entanto, quem considera que o problema está relacionado aos direitos de imagem está errado. Isso, de fato, é fundamental para a liberdade de expressão; Por exemplo, nos protestos mencionados acima, a polícia dos EUA usou o reconhecimento facial para produzir evidências contra os manifestantes.

Acontece que esses algoritmos tendem a atingir o mercado contaminado pelo viés racial, que se fortalece com o uso, criando uma bola de neve do racismo tecnológico. Eles tendem a cometer mais erros na identificação de negros, mulheres e idosos, produzindo um número alarmante de falsos positivos, como o próprio governo dos EUA reconhece. Foi o que aconteceu com Robert Julian-Borchak Williams, preso injustamente após um bug no sistema de reconhecimento facial, que foi atingido pelos investigadores envolvidos no caso, no distante ano de 2020, quando a tecnologia ainda não estava pronta. vencimentos, conforme relatado por New York Times, em 24/06/2020. Lá, o problema deixa de ser reduzido ao custo / benefício da troca de privacidade por segurança e se torna o custo / benefício de aumentar o desequilíbrio de uma balança tradicionalmente desequilibrada, podendo assim destruir vidas inocentes.

Pelo menos 37 cidades brasileiras possuem sistemas de reconhecimento facial. Em um deles, instalado no Rio, quando o sistema identifica um suspeito catalogado no banco da polícia civil (mais de 93% de possibilidades), a imagem atual aparece ao lado do registro de tela de um centro de controle e, segundo confirmação manual da identidade, os oficiais de campo são notificados e recebem o formulário Whatsapp. Acesse este infográfico do Instituto Igarapé Conheça todas as iniciativas brasileiras instaladas até o ano passado. Em São Paulo, o reconhecimento facial usado no Sistema Detecta já levou a várias prisões.

A Rede do Observatório de Segurança fez uma coletando dados sobre abordagens policiais motivadas pelo reconhecimento facial durante os meses de março e outubro do ano passado. Como escreveu Pablo Nunes, coordenador de pesquisa da Rede “(…) em relação aos casos em que havia informações sobre raça e cor, ou quando havia imagens daqueles abordados (42 casos), 90,5% das pessoas eram negras e 9,5% eram brancos “.

Procurei dados mais amplos sobre a proporção de preto / branco nas abordagens policiais que não usavam tecnologia, mas não há nada atual sobre o assunto. Por outro lado, o anuário de segurança pública de 2017 revela uma relação de 3-1 entre mortes em preto e branco (3240 x 963 vidas), em ações policiais (ou aqui você acessa o anuário completo) Apesar de surpreendentemente alto, essa relação contrasta com o 9-1 anterior.

Em outra linha, câmeras conectadas a sistemas de reconhecimento facial foram instaladas no metrô de São Paulo, que, enquanto servia de segurança, aproveitou a oportunidade para monitorar as reações das pessoas à publicidade exibida. A ação do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) levou ao fechamento do sistema. Esse caso nos lembra que o reconhecimento facial é a ponte entre marketing e repressão.

Perfil genético

Os crimes costumam deixar vestígios; Estes geralmente contêm DNA de criminosos. No entanto, como você chega aos seus proprietários originais? Como no caso do reconhecimento facial e de outras formas de biometria, isso pode ser feito desde que exista um banco de dados biológico no qual a amostra colhida na cena do crime possa ser coletada. Desse ponto de vista, a coleta e o armazenamento de material genético (DNA) de suspeitos se espalharam para os Estados Unidos e outros países, inclusive no século passado.

Em 2019, esse princípio foi radicalizado pelo governo chinês, comprometido em criar um banco genético para toda a população masculina do país (acesse aqui para mais detalhes desta operação, realizada com tecnologias americanas)

No Brasil, uma lei de 2012 (12.654 / 2012) permitia a coleta de dados genéticos de suspeitos e a criação de bancos genéticos com dados sobre os condenados por crimes hediondos. No ano seguinte, um decreto instituiu o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG). Seis anos após a criação do BNPG, foi proposto através do pacote criminal Sérgio Moro (A Lei 13.964 / 2019), que condenou certos crimes hediondos, foi forçada a desistir de seu material genético. Isso ocorreu em um contexto de expansão acelerada da expansão do banco que, no ano passado, acolheu mais de 55 mil novos perfis genéticos.

Como esperado, as notícias dividiram opiniões. Embora aqueles que já cometeram um crime tenham demonstrado maior probabilidade de cometer outro, o monitoramento genético pode ter um papel inibitório, além do valor investigativo, contra o princípio constitucional de que ninguém é obrigado a apresentar provas contra si mesmo, conforme observado cabelo pesquisadores do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM). Por esse motivo, a proposta (presente no Art. 9-A, caput, § 5, § 6 e § 7) acabaram de sair da versão final da lei.

Fechar

Há casos em que as tecnologias policiais são indubitavelmente boas para os cidadãos, como câmeras individuais, câmeras de veículos e sistemas monótonos de integração e digitalização, mencionados no começo deste artigo. Existem outros onde ferramentas tecnológicas tendem a combinar aspectos positivos e negativos.

Nessas circunstâncias, uma maneira de tomar partido é equilibrar custos e benefícios; outro, adicione imperativos categóricos avaliações de utilidade. Isso me parece muito melhor a médio e longo prazo, embora atualmente leve à exclusão de alternativas estatisticamente justificadas.

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About the Author: Adriana Costa

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