Brasília, 17 de agosto (EFE) .- Uma comissão do Senado brasileiro reconfirmou na terça-feira a suspeita de que o presidente Jair Bolsonaro usou dados falsos para alegar que o número de mortes na Covid-19 havia sido “inflado” por governadores e prefeitos.
O grupo legislativo tomou depoimento de Alexandre Marques, funcionário do Tribunal de Contas da União (TCU), que admitiu ser autor de um “documento de trabalho” que Bolsonaro citou, como se fosse um documento oficial daquele órgão fiscal, para alegar que o país sofreu “50 por cento menos mortes” por Covid-19.
O presidente fez essa afirmação em junho passado, quando 475 mil brasileiros já haviam morrido por causa da Covid – e hoje o número de mortos é de cerca de 570 mil – e acusou prefeitos e governadores de “inflar” os números anteriores para receber mais recursos. Estado para enfrentar a crise de saúde.
A informação foi negada na época pelo TCU, mas mesmo assim Bolsonaro insistiu que “documentos” daquela entidade admitiam a possibilidade de que o número de mortes de Covid estivesse sendo “exagerado” de forma fraudulenta.
O representante do TCU disse ao comitê que o “documento de trabalho” era apenas parte de uma discussão “preliminar” que ficou de fora quando se constatou que não houve fraude nas cifras de óbito, que pelo contrário provavelmente foram “entendidas”. relatado ”devido à falta de testes para a Covid em muitas partes do país.
“Foi uma discussão muito preliminar”, disse Marques, admitindo ter enviado o documento de trabalho ao pai, o coronel Ricardo Silva Marques, que o encaminhou ao Bolsonaro.
“Meu pai é amigo do presidente e ele mandou para ele. Fiquei bravo com isso porque nunca imaginei que iria compartilhar com ninguém “, disse ele.
Marques esclareceu também que o “documento” que o presidente circulava entre os grupos de mensagens tinha “adicionado” a logomarca do TCU e que não constava do “documento de trabalho” que ele havia enviado ao pai e depois chegado a Bolsonaro.
“O discurso do presidente” com base naquele “documento de trabalho” foi “completamente irresponsável”, acrescentou Marques, chamando seu uso pelo presidente de “injustificado”.
Segundo o senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da comissão, a inserção da logomarca do TCU “para dar caráter oficial” àquele documento pode ser mais grave do que simplesmente divulgar informações falsas.
“Podemos estar enfrentando um crime contra a fé pública e um caso de falsificação de documentos”, disse Rodrigues, uma alegação que foi apoiada por outros senadores da oposição.
A comissão legislativa, que apura possíveis omissões do governo no tratamento da pandemia, já revelou negociações irregulares de vacinas, além de outros assuntos suspeitos, como distribuição de medicamentos ineficazes contra o coronavírus na rede pública de saúde.