O relacionalismo é um dos temas mais quentes no mundo táctico do futebol e, com o sucesso consistente do Real Madrid na UEFA Champions League, torna-se ainda mais relevante. Na campanha da última temporada, Los Blancos chocou o mundo uma e outra vez, conseguindo reviravoltas históricas contra PSG, Chelsea e Man City. Contra alguns dos melhores estrategistas do mundo, os homens de Ancelotti estavam calmos, totalmente compostos em meio ao caos. De facto, do ponto de vista posicional a que estamos habituados, a táctica do Real Madrid é um caos.
Embora ainda exista uma intenção coletiva de determinar o resultado do jogo, buscando desenvolver a posse de bola em vez de apostar aleatoriamente, as organizações lineares que tendemos a procurar não existem. Ao contrário da construção de 3-2 do Man City, por exemplo, a estrutura do Real é emergente e não imposta.
Nesta filosofia, onde o inteligível tem o mesmo poder do sensível, o movimento e o posicionamento dos jogadores tornam-se muito mais relacionais. Em todos os sentidos. Abandonando as demarcações espaço-temporais como pontos de referência, as táticas dão lugar a relações que se assemelham a uma conexão metafísica, seja entre os jogadores, seja entre o jogador e o jogo.
À medida que continuamos a explorar essa filosofia, o espectro de nossa análise cresce. Embora a maior parte do trabalho feito até agora sobre o relacionalismo olhe para o coletivo, é hora de explorar também sua dimensão individual. No futebol atual, o Real Madrid rodrygo talvez possa ser visto como o símbolo do relacionalismo. Citando Ancelotti, “Rodrygo não é um especialista em uma posição, mas no futebol de ataque”.
A importância do brasileiro nos merengues continua a crescer, e para entender o papel do Rayo na equipe de Ancelotti é preciso olhar do ponto de vista do relacionalismo. Nisto relatório de reconhecimentonosso análise tática assume um novo nível quando exploramos o papel de Rodrygo no Real Madrid de Carlo Ancelotti.
(Em todos os lados
No Brasil, cresce o sentimento de que o herdeiro do 10 da Seleção é Rodrygo. Mais do que o número, Rodrygo assume o papel histórico de um camisa 10 brasileiro, um meio-campista sem restrições posicionais. Assim como Neymar com a Amarelinha, o papel de Rodrygo na tática do Real está se tornando central. O ex-jogador do Santos sempre foi conhecido como ponta; no entanto, está longe de ser um típico jogador de banda larga.
Olhando para o seu mapa de toques na La Liga e na Liga dos Campeões nesta temporada, Rodrygo percorre todo o meio-campo de ataque. Do frouxo 4-3-3 de Ancelotti, ele começa como ponta-direita ou ponta-esquerda, se é que podemos chamar assim. Quando os Los Blancos têm a posse de bola, o jovem de 22 anos percorre as pistas do meio sem muita restrição ou referência espacial.
Para pintar uma imagem mais clara, podemos usar outro brasileiro em um ambiente completamente diferente para comparação. A transição de Raphinha para o futebol europeu foi totalmente oposta à de Rodrygo: longe dos holofotes e das orientações de Ancelotti. Da mesma forma, enquanto Rodrygo joga na ala funcional do Real Madrid, Raphinha está no Barcelona de Xavi com um jogo posicional manual.
À esquerda, o mapa de calor de Rodrygo conta uma história semelhante ao seu mapa tátil, de roaming e liberdade posicional. Por outro lado, à direita, o mapa de calor do Raphinha é completamente diferente. A movimentação do extremo do Barcelona está muito mais centrada no canal da ala direita, sangrando ligeiramente para o meio-campo em algumas zonas.
Rodrygo e Raphinha, apesar de brasileiros, são jogadores completamente diferentes, fruto de processos completamente diferentes. Ao entender as características posicionais de um jogador, é importante considerar sua carreira no futebol, bem como o sistema tático do qual ele faz parte.
Enquanto um se desenvolveu sob escolas funcionais e expectativas significativas, o outro silenciosamente abriu caminho através da pirâmide europeia. Esse processo tem uma influência monumental na sua relação com o jogo como um todo.
Passando para o campo de jogo, podemos usar alguns exemplos para destacar como Rodrygo ocupa os espaços com a posse de bola. Apesar da frequência com que flutua pelos canais centrais, o brasileiro ainda tem amplitude e profundidade em seu jogo. Às vezes, ele se vê ocupando as áreas amplas para esticar o campo e fazer corridas atacando o espaço atrás da linha de base.
No entanto, esse comportamento está longe de ser universal na posse. Se Rodrygo vê ou não esse movimento como apropriado depende de vários fatores, incluindo onde a bola e os jogadores estão, a situação do jogo e muito mais.
Por outro lado, e isso pode ser mais intuitivo para você, muitas vezes sai de sua origem ampla e se move em direção aos canais centrais. Contra o Villareal abaixo, a posição real de Rodrygo é claramente ilustrada em comparação com sua posição teórica em um 4-3-3. Ao flutuar em direção ao centro do campo, ele busca apoio, colocando-se à disposição para jogar.
Quase 20 segundos depois, Rodrygo segue vagando pelos canais centrais sem dar sinais de retorno à lateral direita. Isso tem algumas consequências óbvias quando a organização defensiva é levada em conta. Suas viagens distantes da ala direita muitas vezes tendem a torná-lo o homem extra, estando no meio-campo inferior, por exemplo. No entanto, esta jogada não é uma estratégia tática para criar uma sobrecarga, mas sim uma intuição natural para encontrar o jogo e apoiar os seus companheiros.
apoiar
Apoio, ou suporte em inglês, está no coração do futebol brasileiro. Pensando nas históricas seleções brasileiras de 1970 ou 1982, foi a ideia do Jogo Bonito que caracterizou aquelas equipes e, em geral, o futebol brasileiro. Nessa abordagem, a proximidade entre os jogadores ficou muito mais próxima, e nessa estrutura, as interações e relacionamentos foram intensificados.
Nesta proximidade, a estrutura da equipa tende a tornar-se assimétrica e emergente, sem formas nem organizações impostas. São características que agora estamos assimilando a jogadores como Real Madrid e Fluminense, ou jogo funcional.
Com essa dimensão cultural, é natural que os jogadores brasileiros torçam ou apoiem; seu movimento é mais orientado para a bola e menos orientado para a estrutura. Esta é uma característica do papel de Rodrygo nas táticas de Ancelotti.
Veja o exemplo abaixo, contra o Chelsea, por exemplo. Os brancos têm a posse de bola no lado direito e tentam quebrar o bloco rasteiro do Chelsea. Lá estão Luka Modrić e Dani Carvajal enquanto Rodrygo, o “extremo direito”, está na área. O brasileiro se aproxima imediatamente da bola, procurando um espaço para receber a bola e jogar com os companheiros.
Alguns minutos depois do jogo, podemos identificar outra instância em que o brasileiro busca dar apoio aos companheiros. O Rayo passa significativamente da sua posição na ala direita para as pistas do meio, onde se encontram Toni Kroos, Karim Benzema e Eduardo Camavinga. Kroos, o portador da bola, encontra Rodrygo que faz uma “parede” para Benzema.
No entanto, não se trata apenas de ir em direção à bola. Entender as referências ao seu redor (bola, adversário, companheiros) permite que Rodrygo faça o movimento mais adequado. Abaixo, por exemplo, Marco Asensio recebe a bola no canal esquerdo após uma sequência de passes curtos entre alguns jogadores. Ao recebê-la, Asensio se vê com espaço para atacar e acelera o jogo.
Primeiro, o espaço que Asensio ataca é disponibilizado por Rodrygo. Movendo-se através de tLateral-direito, o jovem de 22 anos ocupa o centro do Villarreal e o impede de se deslocar para perto de Asensio. Em segundo lugar, enquanto Asensio acelera a posse e a torna mais vertical, Rodrygo se movimenta de acordo e corre para frente, longe da bola. Isso é crucial para que Asensio possa continuar sua carreira sem congestionar ou desacelerar esse cenário vertical.
relacionar
O propósito fundamental por trás do apoio (apoio) do brasileiro é se relacionar. Rodrygo basicamente examina o campo em busca de oportunidades para se conectar e interagir com seus companheiros de equipe e, como resultado, seu mapa de passes abrange todo o campo. Quando você olha para a colocação dos passes, parece o mapa de passes de um time inteiro – na verdade, está em toda a quadra de ataque.
Ao conectar este mapa de passagem para onde seus companheiros de equipe tendem a ser mais ou menos, podemos visualizar como isso acontece. Há uma ligeira superioridade do lado esquerdo do campo, onde está Vini. Os merengues costumam concentrar os jogadores neste lado do campo e, como resultado, a conexão de passes tende a ser mais curta. Por outro lado, pelo lado direito, as distâncias de passagem aumentam e tornam-se mais esporádicas em todo o campo.
Essa tendência de focar no lado esquerdo do campo é significativa e pode ser ilustrada na imagem abaixo. Desde o início, a estrutura assimétrica é clara, juntamente com a natureza não linear da organização do jogador. Mais uma vez, Rodrygo deixa a lateral direita para apoiar e interagir com os companheiros. Olhando para a imagem abaixo, é nas imediações de Camavinga que corre para a frente, Benzema atrás dele e Asensio num ângulo mais escuro.
Escadas verticais, ou escadinhas como são chamadas no Brasil, são bastante comuns na estrutura do Real Madrid. É essencialmente quando três ou mais jogadores se alinham em uma linha vertical ou diagonal. O desenvolvimento mais típico dessa estrutura é um passe vertical que busca evitar o intermediário, que pode ser descolado para dar uma opção imediata quando o jogador mais distante recebe a bola.
Outra forma de explorar essa estrutura é através do que no Brasil se chama light cut ou, simplesmente, manequim. Novamente o passe busca pular o intermediário, mas desta vez com mais ênfase. Existem várias formas de explorar isso, e é totalmente situacional, mas o surgimento dessas estruturas verticais é bastante comum (e natural) em equipes funcionais.
No exemplo abaixo, podemos ver como Rodrygo faz o papel de intermediário quando Dani Ceballos encontra Benzema. Rodrygo limpa a faixa de ultrapassagem antes de dar apoio imediato a Benzema ao recebê-la. Após receber o saque do atacante francês, Rodrygo está pegando a bola de frente para o gol e atacando pela linha de base, cenário ideal.
Estas relações espontâneas com os seus pares são fruto da proximidade nas estruturas de Madrid, sendo o desenvolvimento destas relações extremamente conjuntural. Rodrygo desempenha um papel vital nessa abordagem funcional da posse de bola e atua diretamente em sua cultura e desenvolvimento como jogador.
Conclusão
Enquanto o Real Madrid continua a ter sucesso na Liga dos Campeões, a relevância do relacionalismo continua a crescer. Com ela, emerge, ou melhor, ressurge uma nova lente de análise e tática do século XX.
No entanto, o conceito continua a ser explorado pela comunidade analítica e a filosofia passa de um estado abstrato para uma alternativa mais concreta e explorável para coaches e analistas de todo o mundo.
Para continuar com essa transição, é importante ampliar nossa análise do relacionalismo para uma perspectiva individual, e Rodrygo, do Real Madrid, é o exemplo perfeito.