AILSA CHANG, HOST:
E na semana passada eu estava em uma varanda com vista para esta bela vista do lado leste de Los Angeles.
Espere, em primeiro lugar, quantos degraus de pedra subi para chegar até você agora? (O riso).
RODRIGO AMARANTE: Cento e oito.
CHANG: Você está falando sério, 108?
AMARANTE: Sim. Sim.
CHANG: Já fiz meu treinamento.
AMARANTE: Sim.
CHANG: Estávamos na casa do músico Rodrigo Amarante. É um bangalô situado em uma colina verdejante.
Espere, então o que acontece quando você esquece algo em casa e tem que voltar para cima?
AMARANTE: Trabalho na minha bunda brasileira.
CHANG: (risos).
Amarante, de origem brasileira, ficou conhecido nos Estados Unidos pelo trabalho com a banda Little Joy. Hoje, ele sai com seu segundo álbum solo chamado “Drama”, que acabou aqui em sua casa.
(SOM DA CANÇÃO DE RODRIGO AMARANTE, “MARE”)
CHANG: Há quanto tempo você mora em Los Angeles?
AMARANTE: Acho que há 13 anos, algo assim.
CHANG: Treze anos.
AMARANTE: Sim, e nesta casa nove.
CHANG: Eu li que você sentiu que LA permitia, entre aspas, “começar de novo”. O que você quer dizer com isso? Do que você começou de novo?
AMARANTE: Então eu realmente não escolhi vir aqui. Tive uma carreira no Brasil como músico. Ele tinha duas bandas, muito diferentes uma da outra, e ambas fizeram muito sucesso. Então, para recomeçar no sentido de que eu era, sabe, algo conhecido no Brasil pela minha música, então quando eu estou aqui, ninguém sabia quem eu era, sabe?
CHANG: Como você se sentiu?
AMARANTE: Mesmo assim, muita gente não sabe quem eu sou.
CHANG: Como você se sente como alguém …
AMARANTE: É uma sensação maravilhosa.
CHANG: … Quem se sente conhecido no Brasil?
AMARANTE: Foi maravilhoso porque foi …
CHANG: Você gostou de ser anônimo.
AMARANTE: É, mas não só por não ser reconhecida ou coisa parecida, em termos de desafio de escrever, sabe?
CHANG: Sim.
AMARANTE: Eu não jogo para meus fãs.
CHANG: Sim.
AMARANTE: De repente, tenho que conquistar uma sala de estranhos com a minha música, certo? E isso é um tesouro. Isso é punk.
CHANG: Não foi desanimador?
AMARANTE: Não, é isso … quer dizer, é isso que eu queria. Coloque a música à prova. E estou começando a escrever nessa língua que vou aprendendo à medida que vou escrevendo, sabe? E é isso: todo o desafio é perfeito, sabe? O desempenho é um perigo.
(SOM DA CANÇÃO, “MARE”)
AMARANTE: (Cantar em um idioma diferente do inglês).
CHANG: Então, quando você se mudou para cá, estou apenas curioso, se alguém lhe perguntasse, o que LA representa para você?
AMARANTE: Ser estrangeiro, nesse sentido, é uma experiência muito valiosa.
CHANG: Ser novo em um lugar.
AMARANTE: Sim, todos nós conhecemos o sentimento, sabe? Mas quando você realmente se muda para algum lugar, é diferente de visitá-lo. Na visita você pega isso, tipo hipersensibilidade, né? Mas quando você mora lá mesmo, você passa por isso, principalmente se a linguagem está envolvida, pode ser muito difícil, sabe?
Quando cheguei, meu inglês não era muito bom, então senti que não tinha o senso de humor que me foi apresentado. Eu sentia que não conseguia transmitir meu senso de humor. Portanto, ele tinha a sensação de que as pessoas achavam que era bobagem ou que não era interessante. E esse é um processo pelo qual o estrangeiro passa. E é doloroso, mas me sinto muito rico e importante. Foi pra mim, sabe?
CHANG: Bem, estou curioso para saber como as percepções de onde você pertence evoluíram conforme você se movia ao longo da vida. Por exemplo, você chamou este último álbum de “Drama”. Diga-me por que você escolheu esse nome.
AMARANTE: Foi um nome que surgiu, eu estava escrevendo esse arranjo de cordas. E eu não fiz, na época, eu fiquei tipo, por que estou escrevendo isso? Mas me senti bem, o que acabou sendo o lançamento do álbum.
(SOM SINCRONO DO “DRAMA” DE RODRIGO AMARANTE)
AMARANTE: E mandaram-me a esta memória da minha infância. Foi o momento em que meu pai, e eu devíamos ter 8 ou 7 anos, era meu pai, que era um pai maravilhoso, mas ele me levou para fora. E era hora do ritual, de passar do menino ao homem. Então ele raspou minha cabeça. Mas fui mandado para aquele momento e entendi que o drama era o que eu deveria desfazer para me tornar um homem, naquela falácia repetitiva que meu pai me transmitia.
CHANG: Quando seu pai disse que é hora de cortar o cabelo para ser homem, quais foram os pensamentos que passaram pela sua cabeça?
AMARANTE: Aí tive vergonha de me sentir feia.
CHANG: Você tinha vergonha de se sentir feio.
AMARANTE: Porque entendi que não devia …
CHANG: Tenha vaidade.
AMARANTE: Ele podia ter um certo tipo de vaidade, sabe, talvez a vaidade dos músculos. Mas a verdade é que no dia seguinte me senti mal. Mas aquela sensação, sabe, eu sabia que não deveria me preocupar em ser bonita, mas me preocupei. E então acho que foi isso que ficou comigo.
CHANG: O conceito de masculinidade de seu pai como uma pessoa que não se importa em ser bonita, você concorda com esse conceito de masculinidade hoje? Está aí…
AMARANTE: Não, claro que não. É por isso que escrevi este álbum e o chamei de “Drama”, porque estou respondendo a isso. Eu rejeito essa ideia.
CHANG: Você me disse que, quando veio para os Estados Unidos, teve que aprender um idioma completamente novo. E às vezes, quando você se comunica com as pessoas, alguns aspectos de sua emoção e seu humor não são transmitidos às pessoas com quem você está falando. Isso acontece quando você está se apresentando para uma multidão que fala inglês, e há uma parte de você que não é transmitida?
AMARANTE: Não me lembro quem disse isso, mas alguém disse que aprender uma nova língua é como ter outra personalidade. E é um exagero, mas posso relacionar porque o idioma é … é muito divertido aprender um novo idioma, mas expõe tanto sobre a cultura, sabe, que você pode ver refletido. Sim, estou atuando, mas de certa forma, não é importante porque os amantes da música ouvem música em todos os tipos de idiomas. E também há algo bonito nisso. Se você não entende as palavras, você tem mais espaço naquele espelho para projetar. Você pode inventar algo que está aí, sabe? E você pode ocupar esse espaço e fazer o seu próprio.
Às vezes eu pergunto assim … e eu pergunto pra você, quer que eu cante em português ou em inglês? E não sei se as pessoas ficam tensas com a pergunta, mas continuam dizendo que não importa. Eu pensei, isso deve importar. E então posso dizer, bem, minhas palavras não importam?
(O RISO)
AMARANTE: Mas eu sei o que eles querem dizer, sabe? Tem algo em cada um deles, sabe?
CHANG: E com isso Amarante convidou-nos para a sua sala. Ele nos sentou, pegou um violão branco muito gasto chamado Butter (ph) …
AMARANTE: Manteiga, sabe, tem as marcas do meu trabalho. E é a guitarra …
CHANG: … E ele nos apresentou nossa primeira apresentação de música ao vivo desde o início da pandemia. Também foi o primeiro.
AMARANTE: Oh sim. Então, porque conversamos sobre isso, que idioma você quer ouvir?
CHANG: E os portugueses?
AMARANTE: Tudo bem, mais espaço para a imaginação.
CHANG: Exatamente. Porque não entendo uma palavra.
AMARANTE: Você sabe que entende, não verbalmente. Então essa música se chama “Tara”.
(SOM DA CANÇÃO, “TARA”)
AMARANTE: (cantando em português).
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