Uma ampla imunização da população mundial contra o covid-19 e uma mudança no impacto da doença levarão até 2022 para ocorrer. O alerta foi feito pela OMS nesta quarta-feira pela manhã, em mensagem clara às autoridades e às populações para que continuem adotando medidas de precaução e distanciamento social.
Na terça-feira, a empresa farmacêutica AstraZeneca suspendeu o teste de estágio final de sua vacina candidata Covid-19 após uma suspeita de “reação adversa séria” em um participante do estudo. A vacina, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, está sendo testada no Brasil e em outros países.
Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, insistiu na semana passada que “nenhuma vacina será distribuída para reguladores, governos e a OMS estão confiantes de que o produto atingiu os padrões mínimos de eficácia e segurança.”
Agora, sua mensagem foi alertar sobre a dificuldade que o produto terá de atingir uma proporção maior da população e gerar imunidade rebanho. “Muitos pensam que a vacina é a solução milagrosa, que chegará no dia 1º de janeiro e basicamente resolverá os problemas do mundo”, disse o cientista. “Não vai acontecer assim”, declarou.
Segundo ela, os primeiros resultados dos ensaios clínicos devem ficar prontos entre o final do ano e o início de 2021. Mas, depois disso, ainda há o período de avaliação e licenciamento, seguido da produção e distribuição.
“Vemos meados de 2021 como um cenário otimista para a chegada de doses limitadas aos países”, disse Soumya.
Segundo ela, essas primeiras doses devem ir para os profissionais de saúde, seguidos dos idosos e dos doentes crônicos. Só então haverá uma expansão do processo. “Lentamente, você estará cobrindo o resto da população e levará alguns anos”, disse ele.
Até lá, o representante da OMS insiste que o mundo precisará de medidas preventivas e de saúde que tenham dado frutos.
“É importante que as pessoas saibam que, quando a vacina chegar, demorará para que a produção se expanda até que toda ou pelo menos 60% ou 70% da população alcance a imunidade de que estamos falando, a imunidade do rebanho. , que pode realmente retardar a transmissão “, explicou o cientista-chefe da OMS.
“Não estamos falando em erradicar o vírus. Estamos falando em reduzir o impacto que ele tem na sociedade e na vida de hoje”, insistiu Soumya. “Sem dúvida, vai demorar até 2022 para que essa mudança ocorra. Até lá, as pessoas devem ser disciplinadas. Essa é a única solução”, acrescentou.
Não desista da segurança
Soumya enviou outra mensagem, desta vez para governos que estão tentando acelerar os processos de aprovação de vacinas.
Segundo ela, “todos devem entender que não é porque a OMS fala em agilizar processos que vamos comprometer a segurança” dos produtos. “Ainda temos que seguir as regras do jogo, precisamos passar por testes clínicos para aprender sobre eficácia e segurança”, disse.
Segundo Soumya, mesmo após a concessão da licença, haverá monitoramento e coleta de dados sobre a vacina. “Existe um sistema e ele será seguido”, garantiu.
Para a OMS, acelerar a chegada de uma vacina significa harmonizar as normas regulatórias e investir na fabricação, antes mesmo do resultado final. Mas não abandone os testes necessários.
Dentro da agência global, um processo de aprovação também ocorrerá e um grupo de especialistas independentes avaliará cada produto com base em dados científicos, capacidade de produção, preço e dificuldades de armazenamento.
Soumya acredita que as doses podem custar entre US $ 20 e US $ 30 e admite que, hoje, o mundo não tem capacidade de produção para abastecer todas as pessoas que vão precisar das vacinas. “Esta é a primeira vez que o mundo vai precisar de bilhões de doses”, disse ele.
Mariângela Simão, vice-diretora da OMS, também foi clara: “a doença não vai acabar logo”.