Qual é o fenômeno mais prejudicial para o agronegócio brasileiro?

Homem agachado em terra firme

Foto: Pedro Silvestre / Canal Rural

Dentre os diversos fatores que modificam o padrão climático no Brasil, o mais importante é o chamado “El Niño – Oscilação Sul”, mais comumente denominado fenômeno El Niño e La Niña. São o aquecimento, quando nos referimos ao El Niño, e o resfriamento, o La Niña, na porção equatorial do Oceano Pacífico.

O Pacífico é o maior oceano do planeta e cobre quase metade do mundo. Portanto, qualquer mudança de temperatura aumenta ou diminui sua evaporação e gera mais ou menos energia na atmosfera. A energia muda a intensidade e a direção dos ventos em todo o mundo, ou seja, muda os padrões de chuva.

No Brasil, os maiores efeitos são sentidos nos extremos norte e sul do país, com aumento das chuvas e temperaturas mais amenas durante o La Niña e diminuição das chuvas e aumento das temperaturas durante o El Niño no Nordeste.

No norte, o El Niño normalmente enfraquece as chuvas e aumenta a temperatura no leste da região (Pará, Amapá e Tocantins). Por outro lado, Acre, Rondônia e o oeste da Amazônia passam por períodos de chuvas mais intensas do que o normal. Nos anos La Niña, ocorre uma situação inversa com chuvas intensas no leste e chuvas menos intensas na parte oeste da região. Em Roraima, o padrão do Nordeste é válido: nos anos do El Niño, a chuva enfraquece, enquanto nos anos do La Niña, as chuvas tendem a ser mais intensas.

Na região sul, os anos La Niña aumentam a possibilidade de secas. Além disso, os invernos tendem a ser mais frios. Nos anos de El Niño, a chuva se torna mais intensa, especialmente durante o inverno e a primavera e os períodos de frio são menos frequentes.

Os estudos não encontram grande correlação nas chuvas do Sudeste e Centro-Oeste, uma vez que as duas regiões estão em uma área de transição. Mas há uma redução do período de chuvas nos anos do El Niño na maioria das duas regiões, com exceção das áreas mais próximas ao Paraná.

Nos anos La Niña, aumenta a probabilidade de chuvas mais intensas no norte das duas regiões, enquanto secas regionalizadas podem aparecer durante o verão e outono de São Paulo e Mato Grosso do Sul. A temperatura tem maior correlação com efeitos, tornando-se maiores nos anos do El Niño e menores nos anos do La Niña, especialmente no sudeste.

Em uma atualização de 12 de novembro de 2020, a Agência Meteorológica e Oceanográfica da América do Norte (NOAA) aumentou a probabilidade de um forte La Niña entre o final da primavera e o início do verão (entre novembro e janeiro). Estima-se que a temperatura esteja pelo menos -1,5 ° C abaixo do normal na porção central equatorial, o que deixaria o fenômeno como um dos três mais intensos dos últimos 20 anos. Os outros La Niños fortes ocorreram entre 2007 e 2010 e 2011. No outono de 2021, o fenômeno se enfraquece, dando lugar à neutralidade.

A seca na América do Sul chama atenção

De acordo com a NASA, o atual A seca é a segunda pior desde 2002. Essa seca é superada apenas pelos anos de 2015-2016, quando foi causada por um intenso El Niño. Nos últimos seis meses, choveu pelo menos 400 milímetros a menos que o normal entre Colômbia e Venezuela, no sul do Brasil, nordeste da Argentina, sul da Bolívia e algumas áreas da Amazônia, como o sul e oeste da Amazônia. oeste do Acre e norte de Roraima e Amapá.

Existem duas explicações para a falta de chuva. No sul do Brasil, o fenômeno La Niña explica uma seca persistente com perdas na agricultura e risco na geração de eletricidade e abastecimento de água nas cidades. No norte da América do Sul, o efeito ocorre no Atlântico Norte, mais quente. As chuvas tropicais têm se concentrado no hemisfério norte, incluindo a geração de um número recorde de furacões este ano.

milho, seca, seca

Foto: Secretaria de Agricultura de Santa Catarina / Divulgação

Com a manutenção do La Niña, projeções apontam chuvas abaixo da média no centrar-se em do Brasil em dezembro e janeiro, área que abrange toda a região sul e partes de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além disso, também há previsão de chuvas abaixo do normal no Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile. Mais ao norte, predomina a sazonalidade, ou seja, a chuva. A probabilidade é de precipitação acima da média no Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso e grande parte da Região Norte. Chuvas acima da média também ocorrerão na área mais sujeita a secas da América do Sul, entre a Colômbia e Venezuela.

Por fim, voltando ao Brasil, no norte do Nordeste e no litoral norte, ou seja, do Rio Grande do Norte ao Amapá, os próximos dois meses serão menos chuvosos do que o normal. Por conta da temperatura, chamam a atenção o final da primavera e início do verão, mais quentes que o normal em Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de Paraguai, Argentina, Uruguai e Chile. Por outro lado, na maior parte do Brasil, a temperatura ficará próxima da média. Entre o leste de São Paulo e o sul da Bahia, dezembro e janeiro prometem ser ainda um pouco menos quentes que a média histórica, típica do La Niña.

conclusão

A resposta ao título deste artigo é: depende.

Tanto o La Niña quanto o El Niño são um fenômeno que influencia o regime de chuvas e, dependendo da sua região e da intensidade desse fenômeno, como estamos vivenciando em 2020, as possibilidades de perdas de safra são consideráveis.

Os produtores rurais do Pará, Amapá e Tocantins, por exemplo, enfrentam a falta de chuvas com o El Niño, mas no ano La Niña os afetados são os produtores do Acre, Rondônia e oeste do Amazonas. Isso é só quando falamos da região Norte.

No sul, a estiagem chega forte com o La Niña, o que pode se confirmar com o cenário atual do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte do Paraná. El Niño aumenta a seca no Nordeste.

clima gota de chuva

Foto: Pixabay

O Centro-Oeste, principal pólo produtor de cereais, apesar de não sofrer necessariamente com secas como as registradas no Sul, pode experimentar períodos prolongados de chuvas irregulares durante os dois fenômenos. No entanto, regiões mais ao sul, como Mato Grosso do Sul, são diretamente afetadas pela seca nos anos La Niña.

O Sudeste, como zona de transição, assim como o Centro-Oeste, sofrem secas nas regiões mais a oeste de São Paulo e nos arredores do Paraná e Mato Grosso do Sul, especialmente nos anos La Niña.

Mas, para enfrentar essas anomalias, a ciência já tem aliados que podem ajudar a plantar janelas e reduzir perdas. Pesquisadores latino-americanos, incluindo profissionais de saúde Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), tecnologia usada big data – análise de grande quantidade de dados – para melhor compreender os efeitos dos eventos climáticos El Niño e La Niña sobre a variabilidade da distribuição das chuvas e a consequente interferência no cultivo de grãos no Brasil.

O estudo analisou e cruzou dados de 50 municípios dos estados de Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Tocantins, responsáveis ​​por 39% da produção de cereais do país. O resultado foi um programa de cultivo para reduzir os riscos de estresse hídrico associados à perda de produção nessas áreas.

É assim que a ciência pode contribuir para as safras futuras que podem ocorrer sob a influência de qualquer um dos fenômenos.

A pesquisa estabeleceu a dinâmica da estação chuvosa no verão para as estações meteorológicas, considerando anos com El Niño, La Niña e neutro, quando nenhum dos eventos ocorre. Isso foi feito definindo as datas de início e término das chuvas, a quantidade total de chuva, a duração da estação chuvosa e o número de dias secos e úmidos dentro desse período.

O tempo avança cada vez mais e é possível prever a intensidade das chuvas em certas áreas com bastante antecedência. No novo site de meteorologia do Canal Rural, por exemplo, você pode cadastrar seu imóvel e ter previsões detalhadas com até 7 meses de antecedência.

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About the Author: Edson Moreira

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