DAVID BILLER, Associated Press
1 dia atrás
ARQUIVO – Um navio de passageiros deixa a cidade portuária de Breves, localizada na ilha de Marajó, estado do Pará, na foz do rio Amazonas, Brasil, quinta-feira, 3 de dezembro de 2020. O regulador ambiental do Brasil recusou a quarta-feira, 17 de maio de 2023, para conceder uma licença para um controverso projeto de perfuração de petróleo offshore perto da foz do rio Amazonas, provocando comemoração de ambientalistas que haviam alertado sobre seu potencial impacto. (Foto AP/Eraldo Peres, arquivo)
RIO DE JANEIRO (AP) – O regulador ambiental do Brasil recusou-se na quarta-feira a conceder uma licença para um controverso projeto de perfuração de petróleo perto da foz do rio Amazonas, provocando aplausos de ambientalistas que alertaram sobre seu possível impacto.
A decisão de rejeitar o pedido da petrolífera estatal Petrobras para perfurar o bloco FZA-M-59 foi tomada “com base em um conjunto de inconsistências técnicas”, disse o presidente da agência, Rodrigo Agostinho, destacando as preocupações ambientais.
Com a produção existente do Brasil chegando ao pico nos próximos anos, a Petrobras procurou garantir mais reservas na costa norte do Brasil. A empresa destinou quase metade de seu orçamento de exploração de US$ 6 bilhões para cinco anos para a área.
O presidente-executivo Jean Paul Prates havia dito que o primeiro poço seria temporário e que a empresa nunca registrou vazamento em perfuração offshore. A empresa não conseguiu convencer o órgão ambiental.
“Não há dúvida de que foram oferecidas à Petrobras todas as oportunidades para sanar pontos críticos de seu projeto, mas que ainda apresenta preocupantes inconsistências para uma operação segura em uma nova fronteira exploratória com alta vulnerabilidade socioambiental”, escreveu Agostinho em sua decisão.
A área única e biodiversa abriga faixas de manguezais pouco estudadas e um recife de coral, e ativistas e especialistas disseram que o projeto corre o risco de infiltrações que podem colocar em risco o ambiente sensível.
Oitenta organizações ambientais e da sociedade civil, incluindo WWF Brasil e Greenpeace, pediram que a licença fosse rejeitada e aguardasse um estudo aprofundado.
“Agostinho está protegendo um ecossistema praticamente desconhecido e mantém a coerência do governo Lula, que prometeu em seu discurso pautar-se no combate à crise climática”, disse o Observatório do Clima, rede de organizações ambientais sem fins lucrativos, em uma declaração. lucro. declaração.
Durante os primeiros mandatos presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2010, as grandes descobertas em alto mar tornaram-se um meio para financiar programas de saúde, educação e assistência social. Alguns membros de seu Partido dos Trabalhadores continuam a ver o petróleo como um meio de garantir o progresso social.
O ministro da Energia, Alexandre Silveira, disse em março que a área é o “passaporte para o futuro” para o desenvolvimento da região Norte do Brasil. Em seus mandatos anteriores, Lula usou a mesma frase para descrever as descobertas de petróleo offshore em uma área conhecida como pré-sal.
Mas Lula tem se esforçado para demonstrar o despertar ambiental que experimentou nos anos seguintes, com a proteção da Amazônia como elemento de sua campanha no ano passado para derrubar Jair Bolsonaro e retornar à presidência.
Ativistas e especialistas alertaram que a aprovação do projeto de petróleo offshore pode ameaçar o mundo natural, mas também prejudicar a nova imagem de Lula como defensor do meio ambiente.
O processo de obtenção da licença ambiental do bloco FZA-M-59 teve início em 2014, a pedido da BP Energy do Brasil. Os direitos de exploração foram transferidos para a Petrobras em 2020.
Suely Araújo, ex-diretora do órgão ambiental e hoje especialista em políticas públicas do Observatório do Clima, disse que Agostinho acertou não só para o projeto específico, mas também para o país.
“A decisão neste caso suscita um debate mais amplo sobre o papel do petróleo no futuro do país. É hora de estabelecer um cronograma para eliminar os combustíveis fósseis e acelerar a transição justa para países exportadores de petróleo, como o Brasil, e não abrir uma nova fronteira de exploração”, disse Araújo em comunicado. “Aqueles que dormem hoje sonhando com a riqueza do petróleo tendem a acordar amanhã com um ativo ocioso, um desastre ecológico ou ambos.”
Outros megaprojetos controversos na Amazônia que permanecem na mesa incluem o recapeamento de uma rodovia que cortaria a floresta tropical preservada, a construção de uma grande ferrovia para transportar grãos e a renovação da licença para uma gigantesca hidrelétrica.
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A jornalista da Associated Press Eléonore Hughes no Rio de Janeiro contribuiu para este relatório.