Polícia brasileira encontra minuta de decreto que anula resultado eleitoral na casa do ex-ministro de Bolsonaro

Adriano Machado/Reuters

O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em Brasília, em 1º de novembro de 2022.

(CNN) A polícia brasileira vasculhou a casa do ministro da Justiça do ex-presidente Jair Bolsonaro e encontrou um projeto de decreto propondo a introdução de um estado de defesa para anular o resultado da eleição presidencial do país, disse a porta-voz do ministério à CNN.

A porta-voz do Ministério da Justiça, Lorena Ribeiro, disse que a Polícia Federal encontrou o documento durante um mandado de busca e apreensão na casa de Anderson Torres na terça-feira.

Ele disse que propôs a implementação de um “estado de defesa” no Tribunal Superior Eleitoral enquanto Bolsonaro ainda era líder para anular a vitória de seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de outubro. A minuta não foi assinada por Bolsonaro, disse Ribeiro.

A defesa estadual é uma medida legal que permite ao presidente em exercício intervir em outras áreas do governo para garantir a ordem pública. Embora Bolsonaro tenha perdido as eleições de outubro, ele permaneceu presidente até o final de dezembro.

A CNN não teve acesso ao documento e Torres, que atuou como ministro da Justiça até a saída do governo Bolsonaro, divulgou nota nas redes sociais negando ser o autor do decreto.

“Como ministro da Justiça estamos perante audiências, sugestões e propostas dos mais diversos tipos”, escreveu. “Na minha casa havia uma pilha de documentos a serem descartados, onde provavelmente foi encontrado o material descrito na matéria”, acrescentou. “Tudo seria levado para trituração no Ministério da Justiça na época.”

Torres sugeriu que a minuta do decreto havia vazado deliberadamente para a mídia para desacreditá-la.

“O documento intimado foi recolhido enquanto eu não estava presente e vazou fora de contexto, ajudando a alimentar narrativas falaciosas contra mim. Fomos o primeiro ministério a entregar relatórios gerenciais para a transição (de poder)”, afirmou. “Respeito a democracia brasileira. Tenho a consciência tranquila em relação ao meu papel como ministro”.

Depois de deixar o governo, Torres assumiu a chefia da Segurança do Distrito Federal de Brasília, mas foi demitido no domingo depois que manifestantes romperam barreiras policiais e entraram em prédios do governo. Ele havia viajado para Orlando, Flórida, supostamente de férias, poucos dias antes dos tumultos e estava lá quando os eventos se desenrolaram.

Torres prometeu encurtar suas férias e enfrentar a justiça depois que a Suprema Corte do Brasil emitiu mandados de busca e prisão, negando qualquer irregularidade.

O Supremo Tribunal Federal do Brasil emitiu uma ordem de prisão preventiva para Torres com base em um mandado de prisão emitido na quarta-feira.

Os documentos preliminares foram relatados pela primeira vez pelo jornal brasileiro Folha de S. Paulo na quinta-feira.

O novo ministro da Justiça do Brasil, Flavio Dino, disse à CNN Brasil na quinta-feira que a existência do projeto de decreto era “terrível” e chamou o que estava pedindo de “inconstitucional”.

“Não tive acesso ao documento e segundo a imprensa se tratava de um decreto golpista que enfatiza o que vimos no dia 8 de janeiro (dia dos motins), que não foi um caso isolado. Foi um elemento de uma corrente, um elo de uma corrente golpista no Brasil que teve atos preparatórios e surpreendentes, como um decreto de intervenção militar no Tribunal Eleitoral, que é inconstitucional”, disse Dino.

Adriano Machado/Reuters

Apoiadores do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro realizam protestos contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, Brasil, em 8 de janeiro de 2023.

Ele também criticou Torres por guardar o documento em sua casa. “Um agente público, ao tomar conhecimento de um crime, não deve guardar tal documento em sua casa. É algo que realmente mostra a vontade de fechar o STF, o Congresso, para impedir a liberdade do povo brasileiro de escolher seus governantes. E todas as tentativas falharam, inclusive a de 8 de janeiro.”

“O que posso dizer à nação brasileira é que se alguém me der um documento dessa natureza, será preso, porque é criminoso. Eu não guardaria, não trituraria”, disse Dino.

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