O Brasil aprovou uma emenda constitucional que eleva o teto de gastos do governo em pelo menos R$ 145 bilhões (US$ 28 bilhões), permitindo que o presidente eleito de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, cumpra as promessas de campanha de fornecer fundos adicionais para bem-estar e infraestrutura.
O projeto de lei, aprovado pela grande maioria dos legisladores em Brasília na quarta-feira, autorizará a anulação por um ano de uma regra fiscal que limita os aumentos nos gastos do estado.
Grande parte do dinheiro extra financiará a promessa de Lula de manter uma transferência mensal de R$ 600 (US$ 115) chamada bolsa família (“bolsa família”), recebido pelas 20 milhões de famílias mais pobres.
A aprovação da lei foi o primeiro grande teste político para o novo presidente, que iniciará um terceiro mandato histórico no comando do maior país da América Latina em 1º de janeiro.
O ex-metalúrgico de 77 anos, que governou pela última vez de 2003 a 2010, prometeu reverter a queda dos padrões de vida e eliminar a fome.
No entanto, a perspectiva de maior generosidade do Estado tem preocupado a comunidade empresarial, que teme que isso possa prejudicar as finanças públicas do Brasil, já que o crescimento doméstico deve desacelerar no próximo ano e as nuvens se acumulam sobre a economia mundial.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, disse que a legislação “sinaliza um começo muito ruim” para o novo governo.
“Essa é só a ponta do iceberg de várias despesas que podem aparecer depois. Começa com Bolsa famíliamas vai haver muita pressão para gastar em educação, saúde, investimento público acima de tudo”, afirmou.
As ações brasileiras e o real foram atingidos pela volatilidade desde a estreita vitória eleitoral de Lula sobre o presidente de direita Jair Bolsonaro no final de outubro, enquanto os custos dos empréstimos do governo aumentaram.
No entanto, uma concessão imposta ao novo governo em negociações com líderes do Congresso ofereceu algum alívio aos mercados financeiros nos últimos dias: seu plano original de obter uma isenção de dois anos do “teto de gastos” consagrado constitucionalmente diluído para 12 meses na versão final da conta.
Ao restringir o crescimento do orçamento federal à taxa de inflação, os investidores veem o teto de gastos como um pilar da credibilidade fiscal do país. Lula criticou o limite e disse que será substituído por outra medida.
A renúncia mais curta torna provável que os ministros tenham que renegociar outra renúncia antes do final de 2023 com o Congresso, onde a coalizão liderada pelo Partido dos Trabalhadores de Lula não tem maioria governista.
Aline Contar, analista política da Ágora Assuntos Públicos, disse: “Mesmo com o texto diluído, pode ser considerado uma vitória política de Lula, mas a votação mostra a necessidade de apoio do bloco central de legisladores”.
o bolsa família O estipêndio foi temporariamente aumentado em 50% sob Bolsonaro antes de sua campanha fracassada de reeleição, mas deveria cair para R$ 400 em 2023.
Outros elementos do novo pacote de gastos incluem um adicional de R$ 150 para cada criança nas famílias que recebem o benefício e um aumento no salário mínimo.
Lula recebeu um impulso esta semana depois que um juiz do Supremo decidiu que o programa de assistência social poderia ficar fora do limite de gastos públicos. A aprovação da legislação dará ao seu governo ainda mais espaço fiscal para gastar em outras áreas.
Além dos R$ 145 bilhões de gastos adicionais que serão permitidos em decorrência da emenda constitucional, ela também permite investimentos adicionais de até R$ 23 bilhões caso a arrecadação de impostos supere as expectativas.