Para combater a covid-19, o governo federal controlará seu telefone celular

O governo federal usará os dados de geolocalização do seu telefone celular para combater o coronavírus por meio de políticas públicas de saúde. As operadoras de telefonia Algar, Claro, Oi, Tim e Vivo fornecerão os dados de localização de 222,2 milhões de linhas móveis ao Ministério da Ciência, Inovação, Tecnologia e Comunicação (MCTIC).

A medida foi anunciada nesta sexta-feira (27), em vídeo com o ministro Marcos Pontes, no Twitter do MCTIC, que posteriormente a eliminou. Somente na quinta-feira (2), as operadoras confirmaram que colaborariam com o governo e como isso seria feito.

No domingo (29), a postagem foi removida, mas o vídeo está disponível abaixo:

Como vai funcionar?

Segundo o Sinditelebrasil (sindicato das telecomunicações), os dados serão transferidos para uma nuvem pública, onde serão unificados e anonimizados. Em outras palavras, não será possível identificar a pessoa que se muda ou sai de casa. A idéia não é violar o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que estabelece regras para garantir a privacidade dos cidadãos.

O objetivo é monitorar:

  • mobilidade populacional;
  • deslocamento
  • pontos de aglomeração;
  • situações de concentração de pessoas;
  • risco de contaminação pelo novo coronavírus.

As informações de geolocalização a serem utilizadas são as dos clientes das cinco empresas, que representam 97,8% dos 227,1 milhões de acessos móveis no Brasil. Esses dados serão direcionados para a sala de monitoramento de crises no governo federal.

Os operadores criarão aplicativos para órgãos públicos mapearem a evolução da pandemia. A iniciativa pode receber outros colaboradores, como universidades e startups. Eles podem adicionar outros dados e até criar tecnologia com base nessas informações.

Segundo Pontes, o acordo “permite o uso de dados de aglomerações urbanas para combater o coronavírus”. O ministério quer saber se as pessoas seguem a orientação do isolamento social, e a associação também envolve o Ministério da Saúde. InclinaçãoO MCTIC não retornou para pedidos de entrevista.

Monitoramento de células na Coréia do Sul e Itália

O monitoramento celular foi implementado em outros países, por isso alarmou os ativistas. Na Coréia do Sul, o governo estabeleceu um extenso programa de triagem para os infectados com o novo coronavírus.

Lá, quando uma pessoa é positiva para o vírus, o governo tenta entrar em contato com quem estava com ele e com os lugares por onde passou antes do diagnóstico. As autoridades locais enviam mensagens de texto com informações, como idade, sexo e onde a pessoa esteve, mas sem dizer quem ela é.

Em alguns casos, é possível identificar quem é o paciente. As mensagens informam qual loja no shopping a pessoa visitou e se ela estava ou não usando uma máscara.

Tornar-se público com a rotina de alguém e com muitas informações é criticado por ativistas de direitos humanos na Coréia do Sul. A estratégia, no entanto, foi elogiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e a Itália também implementou essa ferramenta.

Estado de vigilância no Brasil?

No Brasil, a iniciativa federal adquiriu novos contornos na última semana, quando o Ministério da Economia publicou duas resoluções que permitem a troca de dados entre os órgãos do executivo federal sem a necessidade de autorização ou justificativa do órgão.

Dessa forma, o MCTIC poderá compartilhar dados de localização geográfica mais rapidamente com o Ministério da Saúde. Na quarta-feira (1), o ministro Luiz Henrique Mandetta exigiu que as operadoras de telecomunicações forneçam dados mais rapidamente.

Isso levantou preocupações sobre a privacidade dos cidadãos e o aparato de vigilância do estado, diz Bruna Santos, analista de políticas públicas da Coding Rights.

“O Brasil segue o exemplo de vários países que aumentaram o aparato de vigilância estatal durante a crise, porque é necessário ter acesso a informações que normalmente estariam presas em ministérios e agências”, diz ele.

Pontes diz que “não há problema com a privacidade”. Teles diz que a iniciativa só funcionará para agir contra a covid-19.

Antes do governo federal adotar a ferramenta de monitoramento, os municípios e alguns estados trabalhavam com sistemas similares.

A cidade do Recife firmou parceria com a empresa In Loco para descobrir se as pessoas saem de casa usando os dados de geolocalização dos telefones celulares. A coleta de dados funciona por meio de aplicativos e ferramentas para smartphones. 800.000 pessoas são monitoradas na capital de Pernambuco.

Segundo André Ferraz, executivo da In Loco, é possível identificar se uma pessoa saiu de casa ou não, embora não seja possível saber quem ele é. Ele diz que a empresa apagará os dados coletados durante a parceria quando a pandemia terminar. Com esses detalhes em mãos, a cidade envia mensagens para pessoas que não ficaram em casa.

No Rio de Janeiro, a TIM firmou uma parceria de monitoramento com o governo da cidade. TIM CTIO Leonardo Capdeville disse Inclinação Isso proporia a outras operadoras a implantação do sistema em todo o Brasil.

Para Diogo Moyses, coordenador do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), a TIM deveria ter pedido autorização aos clientes antes de compartilhar seus dados com a cidade do Rio.

“Em teoria, eles [os consumidores] Eles devem primeiro autorizar o uso dos dados, e não a empresa, e, em seguida, se o cliente desejar, solicitar à empresa que não os utilize “, diz ele.

Segundo Moyses, não existe um padrão legal que autorize as empresas de telecomunicações a coletar dados desse tipo no Brasil. Essa proposta, portanto, constitui uso indevido e uso desproporcional de dados, diz ele.

A lei que serviria para esse tipo de situação é a LGPD, que entrará em vigor em agosto deste ano e estabelece que as empresas precisam do consentimento do usuário para coletar, armazenar e processar dados pessoais.

Para órgãos governamentais, o LGPD estabelece que o cidadão autoriza a coleta de seus dados ou não, após ser informado sobre o objetivo da coleta. Porém, a resolução do Ministério da Economia estabelece que o consentimento da pessoa não é mais necessário.

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