O Mundial de Clubes é um grande negócio no Brasil, onde, por toda a sua dimensão global, a competição é uma continuação das rivalidades locais por outros meios.
Os representantes sul-americanos este ano são o Palmeiras, da cidade de São Paulo. As outras grandes equipes da cidade já têm um título mundial em seu nome. São Paulo ganhou a primeira versão do formato atual em 2005, o Corinthians ganhou uma versão pioneira em 2000 e foi o último campeão sul-americano em 2012, e Santos, uma cidade portuária a uma hora de distância, pode reivindicar o antigo título intercontinental, superando os campeões da Europa em batalhas em casa e fora em 1962 e 1963.
O Palmeiras reivindica status semelhante para um torneio internacional que venceu em 1951. Mas, pelo menos no que diz respeito aos rivais, isso não conta. Mas as discussões acabarão se o Palmeiras sair vitorioso do Mundial de Clubes deste mês.Ninguém pode negar que o Palmeiras, tradicional time da comunidade italiana de São Paulo, pode se considerar campeão do mundo.
É, no entanto, um grande “se”.
– ESPN+: bate-papo CWC e muito mais no ESPN FC Daily (somente nos EUA)
A Europa exerceu um domínio sobre o troféu apesar de – para a fúria e descrença ocasional dos sul-americanos – dar a tudo muito pouca importância. Os europeus muitas vezes agem como se o Mundial de Clubes fosse muito mais um inconveniente do que uma oportunidade. E, no entanto, os três triunfos sul-americanos – todos brasileiros – no formato atual datam de mais de uma década atrás. Os campeões europeus sempre chegaram à final. Em cinco ocasiões os campeões sul-americanos não conseguiram passar da semifinal – a última vez aconteceu há um ano, para o Palmeiras.
E depois ficou ainda pior. O Palmeiras não só perdeu a semifinal, para o Tigres do México, como também foi derrotado na repescagem pelo terceiro lugar, perdendo nos pênaltis após empate em 0 a 0 com o campeão africano Al Ahly, do Egito – que agora reencontra na semifinal de terça-feira.
O Palmeiras é o primeiro time em 20 anos a reter o título da Copa Libertadores. Mas esse triunfo também os expõe a riscos: eles podem se tornar o primeiro time sul-americano a falhar duas vezes para chegar à final do Mundial de Clubes. Torcedores de Corinthians, São Paulo e Santos aguardam ansiosamente mais uma humilhação. Doze meses atrás o Palmeiras estava tão parado, tão desprovido de ideias que não chegou a ameaçar um gol em seus dois jogos. Eles podem ter se tornado muito melhores em apenas um ano?
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Há motivos para esperança. A experiência do ano passado é claramente um benefício, e o mal-humorado treinador português Abel Ferreira parece ter uma equipe com um repertório ofensivo mais amplo do que o de um ano atrás.
O ponto forte continua sendo a unidade defensiva apertada, onde o excelente goleiro Weverton está bem protegido pela dupla de zagueiros Luan e Gustavo Gomez, paraguaio, o principal organizador da defesa. No meio do campo, o dinâmico canhoto Danilo se tornou um meio-campista confiante e completo que poderia ter se mudado para a Europa em janeiro se não fosse por esta competição. Outro canhoto, o meia-atacante Raphael Veiga terminou o ano passado na melhor forma de sua vida. O pequeno Rony, contratado como ala, se transformou em um atacante central vesgo e perigoso. E desde o Mundial de Clubes do ano passado o Palmeiras recebeu de volta o ídolo do clube Dudu, que traz sutileza extra ao ataque.
Há outras razões para acreditar. A final quase certamente seria contra o Chelsea – certamente não o mais forte dos campeões europeus recentes, lutando pela forma, com mais de um olho em um jogo da Liga dos Campeões no final deste mês e com o técnico Thomas Tuchel confessando que seus jogadores estão cansados. Pode haver deficiências aí para o Palmeiras explorar.
Mas primeiro, claro, coma Al Alhy. E aqui também o calendário favoreceu o Palmeiras. Os egípcios têm seus melhores jogadores de plantão com a seleção na Copa das Nações Africanas. O treinador do clube, Pitso Mosimane, tem algumas decisões a tomar. Ele pode levar seus jogadores de Camarões para Abu Dhabi a tempo para o jogo de terça-feira? Em que tipo de condição física eles estarão? Ele deve manter a fé na formação que derrotou o Monterrey do México no sábado, ou seria mais sensato trazer reforços?
O Palmeiras precisará vingar sua saída antecipada do Mundial de Clubes do ano passado e voltar ao Brasil como campeão para silenciar seus rivais. Foto por Colin McPhedran/MB Media/Getty Images
Seja qual for a sua escolha, o Palmeiras começará como favorito. Mas os brasileiros podem ficar desapontados por não enfrentar o Monterrey. Os mexicanos se abriram para o impressionante contra-ataque egípcio, rápido e direto, com trocas diagonais bem trabalhadas para esticar a defesa adversária. O Monterrey certamente teria se encaixado no Palmeiras, que, como o Al Alhy, se sente mais confortável como um time de baixo risco e contra-ataque.
O Al Alhy apresentou ao Palmeiras um desafio bem diferente: espera-se que os brasileiros tomem a iniciativa. Eles podem fazê-lo. Na campanha da Libertadores venceu por 5 a 0 em casa para o Independiente del Valle do Equador e por 6 a 0 contra o Universitario do Peru. Nas duas vezes, a defesa adversária achou impossível lidar com sua velocidade de ataque. Mas se não houver gol cedo na terça-feira, o Palmeiras terá que mostrar paciência e astúcia – o Al Alhy adoraria que eles ficassem desesperados e se comprometessem demais – deixando espaço para uma de suas rápidas pausas. Ferreira, então, certamente mandará Dudu para ampliar o campo pela direita, esperará ver Rony correndo entre os zagueiros egípcios e esperará que Veiga e Gustavo Scarpa lancem de longe contra uma linha de fundo. Os meias Danilo e Zé Rafael terão que manter a disciplina, garantindo que a defesa do Palmeiras não fique exposta.
As apostas são altas. Nos próximos dias, o Palmeiras vai ganhar dois jogos, voltar como campeão mundial e forçar os torcedores rivais a um silêncio temporário. Ou eles podem esperar estar no lado errado de uma sessão prolongada. Triunfo e desastre raramente estiveram tão próximos.
Fonte: espn.co.uk