Os telefones Samsung medem a saturação de oxigênio; Isso ajuda a detectar covid? – 25/06/2020

A crise do novo coronavírus causou um aumento na demanda pelo oxímetro, um dispositivo que mede a saturação de oxigênio no sangue, uma das maneiras de perceber a doença no organismo. Como alternativa ao produto, circulou um vídeo nas redes sociais que ensina como fazer essa medição com o aplicativo Samsung Saúde, em telefones Samsung. Mas, de acordo com especialistas, o remédio não substitui os exames médicos.

De acordo com o vídeo, a medição pode ser feita após a ativação da função “estresse” da saúde e a colocação do dedo em um sensor próximo à lente da câmera traseira, o mesmo usado para o reconhecimento de impressões digitais. A ferramenta não está disponível em todos os dispositivos Samsung, mas em smartphones topo de linha, como o S-line e o Note, lançados nos últimos anos.

Aí vem a pergunta: se você possui um desses smartphones com medidor de saturação de oxigênio, não precisa comprar um oxímetro? Acalme-se, não é?

“Nenhum aplicativo de celular funciona. Nenhum tem qualidade médica, precisão ou pode ser usado em uma situação em que é necessário depender dele para tomar uma decisão”, diz Renato Sabbatini, médico biomédico, um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Informática de São Paulo. a saúde.

Segundo Sabbatini, os resultados obtidos pelas medições no celular tornam o diagnóstico incorreto em até 20%, quando o valor tolerável é da ordem de 2%. A própria Samsung admite que os celulares vendidos no Brasil não possuem o sensor necessário para a medição.

Em resposta a Inclinação, a empresa afirmou que “conforme declarado nos termos e condições de uso, a Samsung Health se destina apenas ao condicionamento físico e ao bem-estar e não deve ser usada para o diagnóstico, alívio, tratamento, cura ou prevenção de doenças ou outras condições”.

Além disso, a Samsung observou que “qualquer informação encontrada, obtida ou acessada através do Samsung Health está disponível apenas para a conveniência do usuário e não pode ser considerada como aconselhamento médico”.

Porque isso não funciona?

Usando um fotorreceptor, o oxímetro mede a saturação sanguínea e a freqüência cardíaca com dois comprimentos de onda: um na luz vermelha e outro no infravermelho.

O dispositivo lê a quantidade de luz que passou por essa região do corpo e, com base nesses dados, detecta a quantidade de oxihemoglobina e hemoglobina sem oxigênio. Depois disso, um cálculo do dispositivo determina quanto de um dos comprimentos foi absorvido e exibe a porcentagem de saturação sanguínea.

“Se você acender uma lanterna e colocar o dedo, o outro lado acenderá. A medição da saturação de oxigênio é baseada nessa idéia. Quando a luz passa por uma parte fina do corpo, ela absorve componentes”, explica Júlio Lucchi , PhD em Engenharia Eletrônica, Informática e Coordenador Geral do programa de pós-graduação do Instituto Mauá de Tecnologia

Enquanto o oxímetro usa a oximetria de transmissão, os smartphones usam a oximetria de reflexão, que ainda não é tão aceita na medicina. Neste segundo tipo, a ideia é que as luzes, além de passarem pelo tecido, também sejam refletidas na ponta do dedo. Portanto, colocando um receptor para capturar essa luz refletida, é possível calcular a saturação de oxigênio.

Para seguir esse método, aplicativos de terceiros usam o flash da câmera do telefone como emissor de luz e a lente da câmera como receptor. Segundo o The Verge, mesmo um aplicativo para iPhone chamado Pulse Oximeter fez isso, mas foi removido da App Store. Em caso de Samsung, o sensor emite luz vermelho e faz esse duplo dever.

Os problemas já começam com a luz emitida pelo flash. “A luz branca tem todos os cumprimentos das ondas, todas as cores estão lá. Não se sabe até que ponto isso dificulta sua obtenção”, explica Júlio Lucchi. Mesmo o sensor Samsung criado para esse fim não é 100% confiável, de acordo com o especialista.

Por exemplo, se a unha for esmaltada, a maior parte da luz será refletida em vez de passar pelo dedo, gerando dados incorretos. “Haveria uma reflexão dupla no sensor. Dependendo da cor do esmalte, a luz é refletida ainda mais”, explica ele.

Os smartphones também não possuem calibração para medir a saturação de oxigênio, nem foram aprovados pela Anvisa e pelo Inmetro, que regulam e garantem que o oxímetro funcione corretamente.

Quais são os riscos de uma medição incorreta?

Um dos principais problemas do uso do telefone celular para medir a saturação de oxigênio é obter um resultado falso, o que levaria os usuários a tomar decisões erradas, como corridas desnecessárias na sala de emergência.

Renato Sabbatini, por outro lado, aponta para outro problema: relaxamento incorreto do paciente. “Um dos principais problemas é o falso negativo, que pode deixar a pessoa à vontade, não alerta, mas na verdade está passando por algo crítico”, diz ele.

Além disso, a medida deve ser vista apenas como um dado complementar aos exames clínicos. “É inútil ter um oxímetro na mão de um leigo que não sabe como interpretá-lo”, diz o pneumologista Rodrigo Santiago, especialista da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Clystenes Soares, professor de pneumologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), acredita que o celular pode até ser um sinal para o paciente em certos casos. Por exemplo, se uma pessoa já é medida regularmente e foi diagnosticada com Covid, a dificuldade em respirar pode ter valores na aplicação muito mais baixos que o normal.

“Honestamente, eu não dou a mesma credibilidade que um oxímetro, mas às vezes a medição é ainda mais próxima. Quem não possui o oxímetro pode usá-lo como referência. Se a saturação deste dispositivo foi boa e caiu muito agora, deve ser valorizada. Mas se você tiver dúvidas, não use “, destaca.

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