Durante três domingos, o pastor Ricardo Ribeiro, da Igreja Metodista de Valinhos, no interior de São Paulo, conecta seus dois telefones celulares a vídeos ao vivo: um no Facebook e outro no Instagram. De maneira simples e um tanto improvisada, com uma imagem de fundo e apenas as palavras do pastor, Ribeiro mantém suas celebrações. Algo que os religiosos começaram a experimentar mais no Brasil em tempos de coronavírus.
A transmissão ao vivo de serviços e massas pode atingir o pico no Brasil nesta semana, quando as celebrações da Páscoa acontecem.
Ribeiro possui apenas um entendimento básico do uso da tecnologia, mas acredita que, devido ao fechamento de templos religiosos causados pela disseminação da epidemia, seu conteúdo ao vivo na Internet é suficiente para o seu objetivo evangelizador.
“Tivemos que nos reinventar. Mas agradeço a Deus por isso. Em tempos de necessidade, trabalhamos com as ferramentas que temos”, afirmou.
On-line, sem ver os rostos dos fiéis, Ribeiro prega e tenta oferecer conforto espiritual neste momento delicado para a sociedade. Mas ele sabe que, apesar de toda a sua boa vontade, o contato virtual é muito diferente do contato físico.
“São duas coisas diferentes. No serviço presencial, a pessoa tem um contato pessoal. Ore por ela, leve-a ao altar. Ele pode expressar seus sentimentos de uma maneira mais real”, disse ele.
Ainda assim, o pastor respeita a decisão de fechar os templos e declara que, por mais fechado que seja o templo, a igreja permanece operacional.
“Nós somos a igreja. O lugar é apenas um templo. A igreja está viva e caminhando. Nunca deixaremos de servir os necessitados porque o templo está fechado”, disse ele.
Ações como as do pastor Ribeiro tornaram-se comuns. Ao pesquisar por “adoração” ou “massa” ao pesquisar vídeos do Facebook, existem inúmeras opções das mais diferentes denominações religiosas.
Até a Congregação Cristã no Brasil, uma igreja conservadora, relutante em tecnologia e tradicionalmente nunca usando rádio, televisão ou Internet para espalhar sua doutrina, está transmitindo seus serviços no YouTube e no Vimeo.
Obviamente, seus fiéis devem cumprir alguns requisitos, como se estivessem no templo, como vestir o mesmo traje usado na igreja, que inclui terno e gravata para homens e véu para mulheres, procurando um ambiente calmo antes da adoração. Diga uma sentença particular e, devido ao novo coronavírus, siga as recomendações das autoridades de saúde.
Muito mais moderna e acostumada às redes sociais e vídeos no YouTube, a Igreja Batista Água Branca, em São Paulo, viu o número de crentes conectados a seus serviços crescer devido à quarentena. A celebração do último dia 22 de março já teve mais de 105 mil visitas.
Para o líder da igreja Pastor Ed René Kivitz, o culto online tem o mesmo valor que o culto presencial para os fiéis. “Virtual não é o oposto de real, mas o oposto de cara a cara. Nesse sentido, não importa se as pessoas estão presentes no mesmo local físico, mas na conexão e interação”, afirmou.
Kivitz também afirma que sua igreja permanece aberta, não importa o quão fechado o templo esteja.
“O verdadeiro significado da igreja é a comunidade. Ela não fecha; o que fecha é o templo, que é apenas o local de reunião. A comunidade se expressa em sua rede de relacionamentos e serviços que se estende para além do templo”, explicou ele. .
As igrejas católicas também transmitem suas missas online. A freguesia de Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas (SP), adotou a prática devido à quarentena.
Durante a missa, cerca de 700 pessoas participam da celebração on-line, mas, segundo o padre Vinicius Ricardo de Paula, cerca de 60 permanecem 24 horas, pedindo orações e refletindo sobre a mensagem do Evangelho.
“O que mais me surpreende é que, depois desse momento, muitas pessoas que não podiam ver naquele momento entram e assistem à celebração da missa, podendo beber dessa palavra de Deus mais tarde”, afirmou.
Segundo o padre Vinicius Ricardo de Paula, a missa na Internet não substitui o serviço presencial, apesar de ter um grande valor espiritual para quem o auxilia e o acompanha. Mas, para ele, é claro que hoje existe a impossibilidade de aparecer fisicamente nos templos.
Um dos grandes problemas da missa online é a questão da Eucaristia, pois os fiéis permanecem sem comunhão com o corpo e o sangue de Jesus, comendo o anfitrião e bebendo o vinho, segundo a tradição católica.
“É necessário receber Jesus de maneira espiritual. Não podemos deixar de conectar nossos corações a Deus e recebê-lo em graça e sabedoria”, explicou o padre.
Para o padre Vinicius, um templo aberto não é necessário para que os fiéis se unam a Deus. “Estamos no tempo de Deus e Ele vive em nós. Quando vamos ao templo, não é para esquecer o vínculo da comunidade de crentes”, disse ele.
Como muitas paróquias de todo o país estão começando a transmitir suas massas on-line, a diocese de Jundiaí guia com dez dicas para os fiéis que desejam participar da celebração online.
Segundo a diocese, o católico precisa preparar a mente, o espírito, o corpo e a casa para a massa. “Isso cria uma atmosfera de celebração: uma toalha sobre a mesa, uma vela, o crucifixo, a Bíblia aberta. Sua casa é a Igreja Doméstica”, diz o documento.
No momento da Eucaristia, os fiéis devem “ajoelhar-se, adorando piedosamente o Senhor”. Além disso, ele deve orar “enquanto o padre recebe comunhão para si e para a comunidade paroquial”.
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