A data em que os humanos chegaram à América do Sul foi adiada para pelo menos 25.000 anos, de acordo com uma fonte improvável: os ossos de uma preguiça gigante extinta que foram transformadas em pingentes por povos antigos.
Descobertos no abrigo rochoso de Santa Elina, no centro do Brasil, três osteodermos de preguiças, depósitos ósseos que formam uma espécie de armadura protetora na pele de animais como tatus, encontrados perto de ferramentas de pedra apresentavam pequenos orifícios que só humanos poderiam ter feito.
A descoberta está entre as primeiras evidências de humanos nas Américas, segundo artigo publicado nesta quarta-feira (12) na revista Anais da Royal Society B.
O abrigo rochoso de Santa Elina, localizado no estado central do Mato Grosso, é estudado por arqueólogos desde 1985. investigação anterior no local, ele notou a presença de mais de 1.000 figuras individuais e sinais desenhados nas paredes, centenas de artefatos de ferramentas de pedra e milhares de osteodermos de preguiça, com três dos osteodermos mostrando evidências de perfuração criada pelo homem.
O estudo recém-publicado documenta esses lentos osteodermos em detalhes requintados para mostrar que é extremamente improvável que os buracos nos ossos tenham sido feitos naturalmente, com a implicação de que esses ossos remontam à data em que os humanos se estabeleceram no Brasil há muito tempo. anos. Essas datas são significativas por causa da evidência crescente, mas ainda controversa, da ocupação humana muito antiga na América do Sul, como uma data de 22.000 anos atrás para o Toca da Tira Peia abrigo rochoso no leste do Brasil.
Usando uma combinação de técnicas de visualização microscópica e macroscópica, a equipe descobriu que os osteodermos, e até mesmo seus minúsculos orifícios, foram polidos e notaram vestígios de incisões de ferramentas de pedra e marcas de arranhões nos artefatos. As marcas de mordidas de animais em todos os três osteodermos os levaram a excluir roedores como os criadores dos buracos.
“Essas observações mostram que esses três osteodermos foram modificados por humanos em artefatos, provavelmente adornos pessoais”, escreveram os pesquisadores em seu artigo.
Em um e-mail para LiveScienceKick.com, co-autor do estudo Mirian Pacheco, professor de paleontologia da Universidade Federal de São Carlos, Brasil, observou que “é praticamente impossível definir o real significado que esses artefatos tiveram para os ocupantes de Santa Elina”. No entanto, a forma e o grande número de osteodermos “podem ter influenciado a fabricação de um tipo específico de artefato, como um pingente”, disse ele.
A presença de ossos de preguiça modificados pelo homem em associação com ferramentas de pedra de camadas geológicas datadas de 25.000 a 27.000 anos atrás é uma forte evidência de que as pessoas chegaram à América do Sul muito antes do que se supunha anteriormente.
“Nossas evidências reforçam a interpretação de que nossos colegas que trabalham em Santa Elina vêm falando há 30 anos”, Thais Pansanium paleontólogo da Universidade Federal de São Carlos no Brasil, disse em um e-mail para a Live Science, ou seja, que “os humanos estavam no Brasil central há pelo menos 27.000 anos”.
A descoberta mostra que os povos antigos usavam restos de preguiça de várias maneiras, disse ele. Matthew Bennetum geólogo da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido, que investigou as interações homem-preguiça na América do Norte mas não participou deste projeto.
“Este é um trabalho emocionante que, com o tempo, pode apoiar a ideia do povoamento das Américas durante o último máximo glacial”, disse Bennett à Live Science por e-mail.
No entanto, muitos locais na América do Sul ainda não foram totalmente estudados, o que significa que o debate sobre a chegada dos humanos nas Américas está longe de terminar. “Achamos que deveria haver mais evidências esperando para serem encontradas nos abrigos rochosos e cavernas do Brasil em locais pouco ou nada explorados”, disse Pansani.