Em 9 de março de 2022, o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (é rio), em colaboração com a Programa de Yale sobre Comunicação sobre Mudanças Climáticas e Inteligência Ipecorganizou um evento online para comunicar os resultados do relatório da segunda edição Mudanças Climáticas e Percepção Pública no Brasil cujo objetivo é mostrar as percepções mudança climática entre os brasileiros. O evento é o segundo de uma série que começou no ano passado. É o resultado de uma análise quantitativa conjunta realizada pelos três institutos, composta por 2.600 entrevistas.
a relatório mostra que 90% dos brasileiros estão tão preocupados com as mudanças climáticas que começaram a tomar medidas favoráveis ao clima e querem que o governo implemente políticas mais verdes: o público espera que as autoridades coloquem considerações ambientais em suas agendas políticas. A expectativa é que as considerações sobre mudanças climáticas tenham um impacto maior nas eleições brasileiras do que no passado.
O debate foi moderado por Fabro Steibel, Diretor Executivo do ITS. Os painelistas foram Rosi Rosendo, Diretora de Inteligência e Insights do IPEC; Sérgio Abranches, sociólogo, escritor e comentarista político da rede nacional de rádio brasileira cbn (Notícias Centrais Brasileiras); e Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação sobre Mudança Climática de Yale. Eles foram convidados a apresentar os resultados, contextualizá-los e compará-los com as percepções sobre as mudanças climáticas dos cidadãos da Irlanda e do Estados Unidos.
Rosendo aprofundou os dados e mostrou que o aquecimento global é uma preocupação para todas as classes sociais, níveis de escolaridade e opiniões políticas em todo o Brasil. Ele explicou como o aumento do acesso à mídia digital tem sido importante para a conscientização sobre as mudanças climáticas entre os brasileiros. 66% são informados pela mídia e Whatsapp No entanto, apesar de 81% considerarem as mudanças climáticas importantes, apenas 21% dos entrevistados declararam ter conhecimento suficiente sobre o assunto. Nesse sentido, Rosendo apresentou dados sobre como a educação, a idade e a ideologia política influenciam os níveis de consciência dos cidadãos. Em geral, as pessoas de centro-esquerda mais jovens e mais instruídas são mais informadas sobre as mudanças climáticas em comparação com os entrevistados de centro-direita.
Os entrevistados sentiram que era importante reconhecer as mudanças climáticas como consenso e fato. Entre os brasileiros, 96% acreditam que o aquecimento global está acontecendo e 77% concordam que a atividade humana está causando as mudanças climáticas, enquanto apenas 11% veem isso como um processo natural. 90% acreditam que as mudanças climáticas afetarão as gerações futuras, e status de 75% que as mudanças climáticas terão um impacto direto em suas vidas e nas de suas famílias.
Entre os brasileiros, 37% acreditam que o governo deve agir contra as mudanças climáticas, seguidos por 32% que acham que devemos confiar no setor privado e 24% que dizem que os cidadãos são responsáveis. 45% dos entrevistados já votaram em políticos com base em suas propostas de defesa do meio ambiente. Isso implica que as considerações ambientais nas agendas políticas serão relevantes nas próximas eleições.
Em seguida, Abranches refletiu sobre como os resultados podem ser contextualizados na sociedade brasileira. Ele mostrou como as mudanças climáticas provam ser um catalisador para a fluidez social. Abranches destacou:
“Embora os brasileiros estejam cientes das mudanças climáticas, eles não sabem muito sobre isso. As pessoas não precisam ser convencidas das mudanças climáticas. Em vez disso, a sociedade agora precisa de orientação de seus líderes sobre como lidar com esse problema já reconhecido.”
Embora a sociedade brasileira tenha sido historicamente dividida, as preocupações ambientais parecem estar distribuídas igualmente entre todas as classes sociais. Segundo a pesquisa, diz Abranches, 90% se preocupam com os impactos do aquecimento global nas gerações futuras e 77% preferem priorizar o meio ambiente em detrimento da rentabilidade econômica, enquanto apenas 13% escolhem o contrário. Esta visão é semelhante à das sociedades europeias. A inflação, a estabilidade econômica e as políticas públicas em outras áreas continuarão importantes, é claro, mas o meio ambiente será uma consideração importante para candidatos bem-sucedidos em todo o espectro político.
Por fim, Leiserowitz compara as percepções sobre as mudanças climáticas entre três países diferentes: Brasil, Irlanda e Estados Unidos. De acordo com os dados, o Brasil parece estar mais preocupado com as mudanças climáticas do que os outros dois países. Por exemplo, enquanto 96% no Brasil e na Irlanda acreditam que as mudanças climáticas estão acontecendo, apenas 76% nos EUA acreditam. Além disso, 61% dos brasileiros estão preocupados com o aquecimento global em comparação com 37% na Irlanda e 35% nos EUA. No Brasil, 75% acham que experimentarão pessoalmente as consequências das mudanças climáticas, em comparação com 21% nos EUA e 16% na Irlanda.
Diante dos resultados, Leiserowitz argumentou que as preocupações com as mudanças climáticas estão distribuídas uniformemente entre a população brasileira, diferentemente dos contextos irlandês e norte-americano, onde as preocupações com as mudanças climáticas seguem a polarização do sistema político. Leiserowitz também destacou a divisão global Norte-Sul por trás das diferentes percepções das mudanças climáticas. De fato, a maioria dos entrevistados nos EUA e na Irlanda vê as mudanças climáticas como algo alheio a eles, cujos efeitos são destacados em outros países do África e América Latina. Por outro lado, os brasileiros, em média, são mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global e, como tal, estão mais preocupados em enfatizar a importância das considerações ambientais na agenda política nacional e internacional. Essa diferença reflete um padrão de injustiça climática, onde diferentes populações são afetadas de forma desigual pelas mudanças climáticas.
Em poucas palavras, os palestrantes concordaram que as considerações sobre mudanças climáticas estão se tornando mais proeminentes na sociedade brasileira em todos os níveis. As pessoas começaram a realizar ações individuais, como a triagem de lixo para reciclagem, adotada por 75% dos brasileiros ouvidos em o estudo, e consumir menos ou evitar o uso de produtos nocivos ao meio ambiente, segundo 58%. Espera-se que os palestrantes concluam que os futuros governos de todas as ideologias terão que se adaptar a essa nova demanda com a sensibilidade e rapidez necessárias ou não governarão.
Assista ao evento de transmissão ao vivo “Mudanças climáticas e percepção do público no Brasil”, em inglês Aqui:
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