Orlando Silva diz que rastrear mensagens viola a Lei de Proteção de Dados – 22/07/2020

Em debate promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) na noite de segunda-feira (20), o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) defendeu que a Câmara seja “cautelosa” e “cuidadosa” quando se trata de pontos relacionados com a rastreabilidade das mensagens e a identificação dos usuários previstos na proposta Fake News PL (fatura).

Silva evocou a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) – nº 13.709 / 2018 – para garantir a privacidade dos cidadãos na Internet. A lei poderá entrar em vigor no próximo mês se uma medida provisória do presidente Jair Bolsonaro que adia a data inicial da LGPD até maio de 2021 não é votada no Congresso até 29 de agosto deste ano.

“O problema da rastreabilidade tem um ponto crítico na minha opinião, que é a enorme coleta de dados. Eu reivindico esta nossa lei [a LGPD], onde já indicamos que os dados pessoais devem ser coletados minimamente e para a finalidade declarada. Esse é um fator importante para proteger a privacidade das pessoas “, argumenta Silva.

O congressista mencionou a notícia de que o governo propôs compartilhar dados de empresas de telefonia com o IBGE, em abril deste ano, para realizar pesquisas por telefone. Dias depois, o STF (Supremo Tribunal Federal) vetou esse uso.

Para Silva, esse é um ponto sensível do projeto que deve ser debatido até a exaustão, pois ainda não existe uma fórmula que seja um consenso mínimo. “O que me preocupa com a rastreabilidade é como essa coleta será realizada. Mesmo que não haja divulgação com quem se comunica, deve ser um motivo de cautela, pois pode afetar a motivação para falar ou não”, diz ele.

A professora de pós-graduação em Direito da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Vânia Aieta questionou se não vale a pena fornecer dados mais abertos para que a sociedade possa combater a desinformação. “Estamos lidando com robôs, grupos organizados, milícias digitais que começam a difamar e ameaçar jornalistas. Temos que criar dispositivos para proteger os cidadãos, como o direito de resposta garantido pela Constituição”, diz ele.

“O projeto não é uma ‘bala de prata'”

A deputada federal Margarete Coelho (Progressistas-PI) também argumentou que é necessário debater o projeto com calma, mas alerta que não deve haver expectativa de que ele resolva o problema das notícias falsas no país.

“Acho que uma lei não será resolvida. De fato, uma lei nunca será a bala de prata, mas é importante que você apresente um conjunto de ações para reduzir os riscos prejudiciais do processo de desinformação”, diz ele.

Para ela, a missão da Câmara não será fácil porque há um conflito de preceitos fundamentais. “Temos que lidar, por um lado, com o direito à informação, à liberdade de expressão, com a possibilidade de expressar sua opinião; e, por outro, com o direito à individualidade, que o Supremo Tribunal Federal já reconheceu. “, Ele diz.

A política também defende algum controle para a regulação da desinformação, se essa função permanecer com o mercado. “Quem vai regular essa auto-regulação? É possível criar instrumentos de controle neutros? Vamos ver se é possível, vamos nos aproximar, mas é muito importante termos meios de controle, sim”, defendeu.

Siga o dinheiro

Pela deputada Lídice da Mata (PSB-BA), relatora do Notícias falsas CPMI (Comissão Parlamentar de Investigação Conjunta), é necessário elevar os limites que devem ser estabelecidos, mas também focar em quem paga pela desinformação, o famoso “siga o dinheiro” ou siga o dinheiro.

“Tivemos um financiamento em 2018 que provavelmente pode ser caracterizado como caixa 2. Apesar da renúncia do Senado [em debater o tema de como chegar aos financiadores de propagação fake news]Se nos dedicarmos mais tempo, podemos sugerir como isso pode acontecer, tanto financeiramente quanto em outros assuntos “, explica ele.

O fato de a rede global ser “muito dinâmica”, lembra Lídice, significava que o Marco Civil da Internet, aprovado há seis anos, não especificava o impacto das notícias falsas no cotidiano, algo que, segundo ela, trouxe problemas mesmo na luta. coronavírus.

O presidente da Abraji, Marcelo Träsel, diz que a questão precisa de uma longa discussão para evitar uma restrição eventual à atividade de comunicação profissional.

“Nossa preocupação é que algumas das propostas que entraram no PL e no relatório possam levar à criminalização do jornalismo investigativo e outras atividades legítimas, como a investigação da universidade”, diz ele.

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