Muito antes de Guinga fazer seu primeiro álbum como líder, muitos dos artistas mais influentes e queridos do Brasil já haviam gravado sua música.
Ao longo das décadas de 1970 e 1980, estrelas do samba e improvisadores de jazz, ícones pop e mestres do choro acharam irresistíveis suas melodias primorosamente trabalhadas, levando a gravações clássicas de nomes como Elis Regina, Clara Nunes, Elza Soares, Chico Buarque e Miúcha. Até o grande compositor francês Michel Legrand entrou em cena, gravando “Passos e Assovio” de Guinga.
Mas quando o guitarrista e vocalista finalmente começou a gravar seus próprios álbuns – o cantor/produtor Marcos Valle lançou a Velas Records com o álbum de estreia de Guinga em 1991, “Simples e Absurdo”, o primeiro de seus seis álbuns pela gravadora – Guinga não se interessou? em recuperar suas músicas dos artistas que as enviaram.
“Eu tinha um repertório enorme quando comecei a gravar como artista solo”, disse ele, falando em português. “Mas prometi a mim mesmo que só gravaria coisas novas. Eu amo compor. Sou obcecada por escrever, escrever, escrever.”
De volta à Califórnia esta semana para participar do Brazil Camp em Cazadero, onde orientou alguns dos compositores mais empolgantes da Bay Area comprometidos com a música brasileira, Guinga fará uma série de shows na região mostrando a diversidade de seu trabalho. Ele começa sua apresentação na Bay Area no sábado no Oakland’s Sound Room, onde será acompanhado pela cantora e compositora carioca Anna Paes como convidada especial.
No dia 4 de setembro é artista de destaque no festival BrasArte gratuito Brazilian Day e Lavagem em Berkeley. A procissão ao ar livre e o concerto deste ano são dedicados à campeã da cultura brasileira, bailarina, coreógrafa e fundadora da Casa da Cultura da Baía, Conceição Damasceno, que faleceu em abril após longa doença.
Guinga também se apresenta no Kuumbwa no dia 7 de setembro e no Teatro Hammer em San José no dia 8 de setembro com o especialista em palhetas Nailor “Proveta” Azevedo, membro fundador da célebre Banda Mantiqueira de São Paulo, como convidados especiais com vocalista, compositor, pianista e percussionista de Santa Cruz. Cláudia Vilela.
Villela descobriu a música Guinga em meados da década de 1990 em uma visita ao Rio, onde nasceu e foi criado. Vasculhando as lixeiras de uma pequena loja de discos de Copacabana, ele se deparou com um de seus primeiros discos do Velas e, embora não reconhecesse o nome, “conhecia muita gente que tocava nele”, lembrou. “Eu me apaixonei pela música dele, que é tão sofisticada e bonita. Descobri como entrar em contato com ele e fui até a casa dele.”
A amizade deles evoluiu muito além da música. Ao invés de depender da composição para viver, Guinga estudou odontologia e abriu um consultório com sua esposa, que também é dentista. Por muitos anos, ele cuidou dos dentes de Villela sempre que ela estava no Brasil (e de suas duas filhas também). Ela o juntou com seu primo, o aclamado guitarrista Jean Charnaux, e eles se tornaram parceiros musicais inseparáveis, tocando e escrevendo músicas juntos.
Não é à toa que Villela e Guinga ficaram juntos, pois ambos se apaixonaram profundamente pelo jazz. “Passei minha adolescência ouvindo jazz três ou quatro horas por dia”, disse ele. “Foi uma disciplina que me impus assim que a descobri e aos 11 anos comecei a pensar conscientemente em ser músico, e esse jazz foi o que realmente me atraiu.”
Para os concertos Kuumbwa e Hammer, os três músicos vão atuar em várias configurações, incluindo solos, duetos e trios completos. “Vamos tentar manter o fluxo com todas essas músicas”, disse Villela. “Guinga adora uma música que Ricardo Peixoto e eu escrevemos, então vamos tocar juntos. Na verdade, nunca trabalhei com a Proveta, mas admiro muito. Sua forma de tocar é simplesmente linda e elegante, nada chamativa ou exagerada.”
Nascido Carlos Althier de Souza Lemos Escobar na periferia do Rio de Janeiro, Guinga sempre foi conhecido por um único apelido, como muitos músicos e jogadores de futebol brasileiros. Talento precoce, ganhou notoriedade aos 17 anos com sua participação no II Festival Internacional da Canção da TV Globo em 1967.
Crescendo em uma família operária do interior, absorveu uma ampla gama de idiomas brasileiros como samba, coco, baião, modinha, choro e frevo, estilos que mais tarde surgiram em suas composições. Mesmo enquanto mergulhava no jazz e na música clássica, “percebi mais tarde o quão profundamente a música brasileira se implantou em meu subconsciente”, disse ele. “Era a música que se tocava em casa, onde todos tocavam e todos cantavam.”
Entre em contato com Andrew Gilbert em [email protected].
TECIDO DE ALGODÃO
Com Ana Paes: 27 de agosto às 20h no The Sound Room, 3022 Broadway, Oakland; US$ 22,50-US$ 27,50; www.soundroom.org
No Festival da Lavagem: Apresentado pela BrasArte, o evento acontece das 11h às 19h. 4 de setembro; Avenida San Pablo, 1901, Berkeley; Ingresso de US$ 35 para o dia todo; www.brasarte.com.
Com Claudia Villela e Nailor “Proveta” Azevedo: 19h, 7 de setembro, no Kuumbwa Jazz Center, 320-2 Cedar St., Santa Cruz; $ 21 – $ 42; www.kuumbwajazz.org; 20h, 8 de setembro, no Hammer Theatre Center, 101 Paseo de San Antonio, San Jose; $ 15 – $ 45; theaterdelmartillo. com.