Na semana passada, conversei sobre as lições que aprendi da epidemia de coronavírus. Um deles foi de longe o mais chocante. A profunda crise que estamos enfrentando e os efeitos que estão por vir me fazem acreditar que é em tempos de grande dificuldade que os seres humanos são capazes de demonstrar nossa verdadeira natureza. E está presente nas diversas ações de solidariedade, na confiança e na cooperação que vimos entre pessoas, empresas e nações nos últimos dias.
Existem muitos exemplos do poder que essa combinação traz, principalmente considerando todos os trabalhadores que mantêm sua rotina durante esse período. Equipes de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas) têm trabalhado diariamente para promover o bem-estar das pessoas afetadas pela doença ou o medo que causou. Vários países compartilharam pesquisas, técnicas e estratégias para enfrentar os impactos da coronavírus. Sem mencionar os milhares de profissionais que garantem a manutenção de serviços essenciais: agentes de segurança pública, assistentes sociais, catadores e trabalhadores comerciais, como supermercados e farmácias.
Os empreendedores sociais também fazem parte dessa tendência e têm sido fundamentais para enfrentar os desafios dos governos, mesmo em tempos de profunda crise.
Brasil, um país de empreendedores
O Brasil é um dos países com o maior número de empresas estabelecidas, de acordo com o ranking do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), para os anos 2019/2020. Segundo dados de Mckinsey, 39% da força de trabalho entre 18 e 64 anos é um empreendedor em nosso país. Também somos referência em impactar o empreendedorismo, ou seja, empresas que não apenas geram lucros, mas também proporcionam benefícios coletivos. Pesquisa realizada pelo Sebrae / PNUD, em 2017, indica que havia mais de 800 empresas em nosso país nessa categoria.
Não se pode negar: temos uma linha empreendedora e uma vocação para enxergar oportunidades nas mais diversas áreas.
Trabalho no mundo do empreendedorismo há 20 anos e sou capaz de acompanhar as trajetórias de nascimento e crescimento de várias organizações. Sempre me chamou a atenção, pois a inventividade, a resiliência, a coragem e a paixão são ingredientes presentes entre aqueles que se dedicam à atividade de construir negócios e fazê-los prosperar em contextos quase sempre nem estimulantes e favoráveis.
Desde que fundei o BrazilLAB em 2015, e também me tornei empreendedor na agenda da GovTech, tive a oportunidade de aprender sobre as soluções apresentadas pela startups que não apenas se dedicam a enfrentar os desafios de iniciar um novo negócio, mas decidem fazê-lo com o setor público. E os últimos dias também me mostraram como esses homens e mulheres empreendedores estão comprometidos com o bem público.
Inovação, tecnologia e solidariedade para combater a pandemia.
A força de negócios se mobilizou para enfrentar o coronavírus no Brasil.
Vimos várias empresas se reorganizando para oferecer bens e serviços essenciais, seja a produção de respiradores, como é o caso da Tesla, a criação de fundos de emergência para pequenas empresas, como a Facebook – ou a entrega de álcool gel a hospitais – uma iniciativa liderada pela Ambev.
E as startups também participaram desse esforço conjunto. É o que mostra a Associação Brasileira de Startups (ABSTARTUPS), que criou a campanha # StartupsVsCovid19. A partir dele, já foram mapeadas mais de 60 empresas que desejam doar suas soluções para as mais diversas áreas: desde trabalhos remotos e colaborativos, passando por plataformas de compras de supermercados, até assessoria jurídica.
Outra iniciativa está sendo liderada pelas startups Colab e Epitrack. Juntos, eles criaram o Brasil sem coroa, um movimento baseado na estratégia colaborativa de vigilância epidemiológica. Quando você baixa o aplicativo Colab (disponível para Android y iOS), qualquer cidadão pode relatar informações sobre você, por exemplo, se você tiver sintomas de covid-19 ou se tiver tido contato com uma pessoa doente. Esta informação é sistematizada e pode informar os serviços de saúde sobre a doença.
Nos últimos dias, o BrazilLAB também esteve em diálogo com sua rede de empreendedores. São os GovTechs que buscam oferecer suas soluções de forma gratuita, principalmente as que atuam no campo das tecnologias em saúde, novas empresas com soluções em saúde pública.
Como a Até a saúde, que trabalha com os municípios, com salas de situação e serviços de monitoramento, teleconsulta e orientação remota para a população. E ele Universaúde, que compartilhou sua ferramenta de bate-papo on-line para responder às perguntas das pessoas sobre a doença e está disponível 24 horas por dia. Ou até o Red Fox Tech que dava acesso gratuito a sua plataforma de gerenciamento e agenda a comunicação com o pessoal médico para todas as instituições de saúde que precisam de ajuda para organizar turnos e chamadas médicas.
Várias entidades da sociedade civil também se organizaram para contribuir com ações neste momento de crise. É o caso de Union SP, uma iniciativa que reúne vários atores a favor de doações que se tornarão cestas básicas de alimentos e higiene. Uma iniciativa semelhante foi desenvolvida na cidade do Rio de Janeiro pelo Banco da Providência, pelo Instituto Ekloos e pelo Instituto Phi. Todas as três organizações lançaram o movimento. Rio Contra Corona. As doações em dinheiro são usadas para comprar cestas de bens básicos a serem distribuídos aos moradores de mais de 15 comunidades no Rio.
Há também ações especialmente voltadas para os municípios, que serão bastante afetados pela epidemia. Dirigido por Impulso Gov, IEPS e Arapyaú, o Cidades Corona É uma ferramenta prática que o guia sobre as principais etapas a serem tomadas para combater o vírus em um formato “passo a passo”. Além disso, são apresentados exemplos de boas práticas, como a criação de um escritório de crise, estratégias de comunicação com a população e ações específicas de saúde e assistência social.
São informações, serviços e produtos que estão salvando vidas.
A união é a nossa maior força
Eu ainda acredito que não podemos ficar sozinhos neste momento difícil que estamos vivendo. Também não vamos sair sem trabalho conjunto e coordenado. Cada minuto e cada ação são preciosos para atenuar os efeitos negativos da pandemia.
Boas experiências vieram com rapidez e prontidão surpreendentes, e precisamos canalizar toda a força de negócios para agir para enfrentar os anos 19.
A participação de cada um de nós nunca foi tão importante.