O que falta em uma corrida de F1 no Brasil? Um piloto brasileiro.

O Brasil já foi uma força na Fórmula 1. O país já produziu três campeões mundiais, seus pilotos venceram 101 corridas, o terceiro na lista das nações, e apenas cinco países tiveram mais pilotos do que os 32 do Brasil.

Entre eles estavam Emerson Fittipaldi, campeão em 1972 e 1974, e Nelson Piquet, campeão em 1981, 1983 e 1987. E, claro, havia o lendário Ayrton Senna, que venceu três campeonatos com a McLaren em 1988, 1990 e 1991 antes de morrer aos 34 anos durante o Grande Prêmio de San Marino de 1994, na Itália.

Outros pilotos conquistaram mais títulos, mas muitos especialistas ainda consideram Senna o piloto mais talentoso que já correu no esporte.

Não só um brasileiro não conquistou o título desde Senna em 1991, como a desistência em 2017 de Felipe Massa, que veio dentro de um ponto encerrando a seca de títulos do país em 2008, deixou o Brasil sem piloto em tempo integral.

Haas tem piloto reserva brasileiro, neto de Emerson Pietro Fittipaldique disputou dois Grandes Prêmios em 2020, quando substituiu Os feridos Romain Grosjean, mas 2022 marca a quinta temporada consecutiva sem um running back brasileiro permanente. Até 2010, quatro eram brasileiros.

Não se trata, porém, de diminuir o interesse pelo Brasil. É um dos cinco maiores mercados televisivos da Fórmula 1, com audiência de mais de 70 milhões e crescendo, e é transmitido de forma aberta pela Band, que assumiu os direitos em 2021. O Grande Prêmio de São Paulo do ano passado, o que tem um contrato até 2025, foi o evento de Fórmula 1 mais concorrido do Brasil, atraindo 181 mil espectadores. Na cabine, no entanto, simplesmente falta um próprio.

“Acho que o Brasil não teve uma categoria júnior adequada por muito tempo, depois do kart, para preparar os pilotos da maneira certa”, disse Massa. “Por exemplo, quando terminei a carreira no kart, corri quase dois anos no Brasil, na Fórmula Chevrolet, que era muito forte. Quando cheguei à Europa estava muito preparado e fui imediatamente competitivo”.

Deixar o Brasil para competir na categoria de carros monolugares com foco na Europa também é uma aventura séria que muitos pilotos não podem fazer, especialmente em uma idade jovem. Esse não é um problema exclusivo do Brasil, com a Europa fornecendo 14 dos 20 pilotos em tempo integral este ano e todos os campeões mundiais desde 1998, mas a crise econômica do Brasil exacerbou as coisas.

Há uma década, o real brasileiro valia 0,39 euros, ou 39 centavos, mas agora vale 0,19 euros, dificultando aos jovens a obtenção de dinheiro e patrocinadores para competir. Pode custar cerca de um milhão de dólares para correr na Fórmula 3 e o dobro na Fórmula 2. Os karts também são caros. Chegar à Fórmula 1, consequentemente, parece um sonho para muitos, especialmente aqueles de famílias que não são ricas.

“Acho que a falta de pilotos brasileiros desde 2018 é resultado do alto custo das categorias juvenis na Europa e das dificuldades econômicas que o Brasil enfrentou nos últimos anos”, disse Alan Adler, chefe do Grande Prêmio de São Paulo.

Massa disse que foi difícil encontrar o dinheiro e os patrocinadores. “Sempre foi caro, mas os campeonatos eram bem mais baratos, agora é mais difícil.”

Isso sugere um quadro sombrio, mas uma série brasileira de Fórmula 4 começou este ano, certificada pela FIA, órgão regulador da Fórmula 1, dando aos jovens pilotos um campeonato de nível básico reconhecido pela FIA em casa.

“Existe uma lacuna importante no automobilismo brasileiro em termos de continuidade de carreira, que agora estaremos preenchendo”, disse Fernando Julianelli, presidente-executivo da Vicar, promotora de automobilismo, em 2021, quando a Fórmula 4 foi anunciada.

Mesmo antes do início da nova série, já havia pilotos brasileiros se destacando nas séries correndo na Europa.

Felipe Drugovich deixou o Brasil para correr na Itália aos 13 anos e conquistou o título da Fórmula 2 neste ano. Ele assinou com a equipe de Fórmula 1 Aston Martin e se tornará seu piloto reserva em 2023. Ele participará do treinamento e do teste de jovens pilotos em Abu Dhabi neste mês.

“Meu objetivo sempre foi ser F1, estar lá um dia, mas temos que ir passo a passo”, disse ele. “Primeiro tenho que terminar o ano em alta e aprender o máximo que puder no próximo ano e ver se há uma oportunidade no futuro.”

Há também Enzo Fittipaldi, irmão mais novo de Pietro, que subiu ao pódio seis vezes na Fórmula 2 este ano, e Caio Collet, que subiu ao pódio cinco vezes, incluindo duas vitórias, na Fórmula 3 em 2022. Ele agora é parte da Alpine Academy for Young Drivers. Raphael Camara tem duas vitórias na Fórmula 4 italiana este ano e está na Academia de Pilotos Ferrari.

Quem acabar com a seca no Brasil provavelmente será recebido com entusiasmo em casa.

Pietro Fittipaldi era um candidato para substituir o piloto Nikita Mazepin este ano antes de Haas trazer de volta o veterano Kevin Magnussen. Mas Fittipaldi foi encorajado pelas cenas em casa.

“Houve um grande movimento no Brasil para me colocar na cadeira de corrida, e não víamos isso há muito, muito tempo, e nas redes sociais o engajamento foi insano”, disse ele. “Assim que um [Brazilian] entrar na F1, haverá uma grande explosão de engajamento e audiência. Quem trouxer aquele cara lá dentro, vai ser enorme, vai ser enorme”.

Drugovich espera poder trazer a bandeira brasileira de volta à Fórmula 1 em tempo integral, possivelmente já em 2024.

“As pessoas lá são loucas”, disse ele, “há muitos fãs; dá para ver que as pessoas estão com saudade de um piloto brasileiro de F1”, disse. “Eles querem muito. Estou aqui para fazer o melhor que posso e talvez um dia estarei lá para representar o país.”

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