O dispositivo monitora o ar e ajuda a prevenir o coronavírus em um ambiente fechado – 23/04/2020

Um dispositivo automático para controlar a qualidade do ar interno pode se tornar um aliado importante para combater a transmissão do covid-19. O equipamento com tecnologia SPIRI fornece informações sobre a temperatura, a umidade do ar e a presença de partículas suspensas no ar, nas quais o vírus da doença pode estar presente.

O produto já está disponível no mercado e os criadores começarão a coletar amostras de ar nos hospitais para verificar a presença do vírus covid-19, com um dispositivo adicional adaptado para ajudar a combater a pandemia. O dispositivo é fabricado pela Omni-Electronica, startup incubada no Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), instituição vinculada à USP e ao Ipen (Instituto de Pesquisa Energética e Nuclear).

O dispositivo monitora a qualidade do ar em tempo real, explica o engenheiro Arthur Aikawa, CEO da Omni-Electronica. “Permite a visibilidade e a indicação de que esse ambiente é mais ou menos propício à contaminação cruzada e a todos os outros danos que a má qualidade do ar tem sobre as pessoas que ocupam esses espaços”, diz o pesquisador. Revista USP.

“Manter ambientes bem ventilados, com qualidade do ar adequada, é essencial para poder retomar nossas atividades o mais rápido possível, sem arriscar a sobrecarga do sistema de saúde por um número excessivo de pessoas infectadas simultaneamente”.

Segundo Aikawa, a OMS (Organização Mundial da Saúde) admite que o vírus covid-19 pode ser transmitido através de partículas suspensas no ar. “Quando uma pessoa tosse, ela não gera apenas aerossóis, partículas grandes, da ordem de 10 micrômetros, que caem a uma distância de aproximadamente 1,5 metro”, explica ele. “Também existem bioaerosóis, partículas entre 2 e 5 mícrons de diâmetro, que devido ao seu tamanho e massa reduzida podem ser suspensos no ar em ambientes fechados por até três horas”.

Nas últimas semanas, embora a OMS não tenha evidências científicas suficientes da transmissão do vírus por aerossóis e bioaerosol, organizações como a ASHRAE (Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado) e REHVA (Federação das Associações Europeias de Aquecimento, Ventilação) ) e ar condicionado) descrevem nas notas de orientação nas últimas semanas que esse mecanismo de transmissão não deve ser ignorado, diz o engenheiro Revista USP. “O Covid-19 é uma doença muito recente, estudos e experimentos estão ocorrendo agora e pouco a pouco novos testes estão surgindo”, observa ele.

Um estudo internacional que avaliou a estabilidade do vírus em superfícies também estudou o vírus em bioaerossóis e descobriu que o vírus permaneceu ativo nessas gotículas por até três horas, diz Aikawa. “É extremamente importante que os ambientes sejam bem ventilados e com baixa concentração de partículas em suspensão, como os bioaerosóis”, diz ele. “O monitoramento permite avaliar constantemente se a temperatura e a umidade são adequadas, reduzir a probabilidade de propagação do vírus e também se a ventilação é adequada”.

Qualidade do ar

O dispositivo é multissensorial, capaz de avaliar vários parâmetros do ambiente em que opera. “A equipe monitora os parâmetros básicos da qualidade do ar, como temperatura e umidade relativa, e também os mais avançados, incluindo concentrações de dióxido de carbono (CO2), compostos orgânicos voláteis (VOC) e partículas (PM) , sejam partículas finas ou grossas “, descreve o engenheiro. “Todos esses parâmetros, que fazem parte da Resolução RE-09 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sobre a qualidade do ar interno no Brasil, são relatados a cada dois ou três minutos ao usuário”.

Segundo Aikawa, com uma série de dispositivos instalados em prédios, é possível fazer um raio-x da qualidade do ar em todos os seus ambientes. “Nos hospitais, o dispositivo também aborda a questão da prevenção da contaminação de enfermarias e estruturas de infecção hospitalar que podem ser causadas por reformas em suas instalações”, enfatiza. “Deve haver um equilíbrio entre os parâmetros de qualidade do ar, para que possa diminuir a chance de contaminação para pessoas que geralmente estão em um estado de saúde mais fraco”.

Verificar a qualidade do ar permite tomar as medidas necessárias em caso de anomalias, diz o engenheiro. “Isso é feito monitorando o dióxido de carbono e outros compostos voláteis”, diz ele. Através da ventilação, o ar interno é renovado e filtrado, diluindo-se com o ar externo, o que reduz a concentração de partículas e reduz a carga viral. “Dentro de casa, mesmo a uma distância de dez metros, se esse ambiente não for bem ventilado e as pessoas permanecerem lá por várias horas, elas podem ser contaminadas. Existe a possibilidade de serem contaminadas por bioaerossóis”.

A empresa, fundada em 2016 por um grupo de engenheiros graduados na Escola Politécnica (Poli) da USP, começou a desenvolver a tecnologia SPIRI em janeiro de 2017, com recursos do programa Pipe (Pesquisa Inovadora em Pequenas Empresas) da Fapesp (Foundation of Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo).

O marketing começou no ano passado. “Hoje, o dispositivo está instalado em aeroportos, escritórios e indústrias de alimentos, onde já é usado para avaliar e gerenciar a qualidade do ar”, relata Aikawa. “Tornar-se-á cada vez mais importante quando surgirem situações de pandemia, onde cuidados especiais devem ser tomados para reduzir a probabilidade de contaminação de uma pessoa para outra”.

Além do dispositivo que já está disponível no mercado, a Aikawa informa o Revista USP A empresa começou a trabalhar na replicação de pesquisas internacionais há dez dias para coletar micropartículas e avaliar a presença do vírus. “Estamos em contato com alguns hospitais para coletar amostras de ar e coletá-las. A idéia é incluir um serviço de amostragem para avaliar se o vírus estava presente ou não em micropartículas suspensas naquele ambiente”, destaca. “Isso será extremamente necessário, porque não será possível retomar tudo da noite para o dia como era antes e precisaremos de ferramentas para gerenciar essa recuperação”.

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