Residente cria campanha para arrecadar fundos para democratizar o acesso à Internet para 500 famílias afetadas pela falta de entretenimento e informação durante a pandemia de coronavírus na região do Fundão do Ipiranga, sul de São Paulo
Por Tamires Rodrigues
A moradora Maria Nilda, do Fundão do Ipiranga, sul de São Paulo, compromete-se a criar uma solução para que 500 famílias tenham acesso a Internet qualidade sem sair de casa em tempos de isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus. Para isso, ela criou o projeto “Conexões contra Covid “, cujo objetivo é arrecadar fundos para construir uma infraestrutura de Internet gratuita, comunitária e de qualidade para quem mora na região.
Maria Nilda acredita que a Internet pode ajudar as famílias a passar por esse momento de isolamento. A realização veio após uma experiência pessoal. Ele ficou sem acesso à Internet em casa por alguns dias e não tinha opções para se distrair e trabalhar.
“Senti-me sozinho e violado, sem direito à comunicação, sem poder trabalhar, sem acesso ao lazer, sem saída. Por isso, recebi ajuda de alguns amigos que conheciam minha dificuldade. Recebi R $ 150 e paguei as contas pendentes”, diz ele. residente, poeta e médico em estudos comparativos da literatura portuguesa.
Com poucos recursos para se distrair, Nilda concentrou seu tempo lendo livros e planejando como essa situação poderia mudar, não apenas para ela, mas também para os moradores do território onde mora. “Eu li, escrevi e planejei a campanha”, lembra ele.
O projeto “Conexões contra a Covid” ajudará famílias que vivem em moradias precárias à beira do riacho São Francisco, que divide os bairros do Parque Bristol e Jardim São Savério, que fazem parte da região do Fundão do Ipiranga. Com os recursos captados, será construído um “espaço virtual”, onde a senha do Wi-fi será o mesmo e todos os moradores do bairro terão acesso a ele.
Neste momento, além de informar, comunicar, proporcionar entretenimento e cultura, o acesso à Internet pode salvar vidas, pois permite que você tenha algo a fazer, mesmo no pequeno espaço das cabines, sabia? “
Maria Nilda
A idéia de uma rede comunitária não veio com a pandemia e já era uma prática comum no bairro. “Durante anos, eu tinha uma rede de internet gratuita em casa. Meu nome de rede era ‘Desbloqueie seu wi-fi’ e eu não tinha senha. O bairro se amontoou à minha porta para aproveitar o sinal”, diz ele.
Em relação aos moradores que já possuem internet, a poeta diz que fará melhorias na rede com os recursos da campanha, deixando-os isentos do pagamento de mensalidades.
Juntamente com Nilda, o projeto firmou parceria com os grupos Posse Poder e Revolução, Edições Me Parió Revolução, Sindicato dos Moradores do Parque Bristol e Jardim São Savério.
Até o momento, a iniciativa levantou 20% da quantia necessária para estabelecer a infraestrutura da Internet da comunidade.
Aumentar as chances
Roberto Oliveira, 35 anos, mora no Jardim São Savério e compartilha a internet com o vizinho, pagando R $ 30 por mês. “Fede. Sempre cai”, diz ele.
Diante da possibilidade de ter uma internet de qualidade, com o apoio do projeto, Oliveira imagina como ele aproveitaria os recursos. “Podemos nos expressar mais, fazer visitas virtuais a museus, assistir filmes, documentários, escolher conteúdo, enviar currículos, vendas virtuais”, diz ele.
Para Oliveira, a alternativa de uma rede de qualidade pode ampliar o horizonte de informações dos moradores do bairro.
Basicamente, estamos restritos a canais abertos, onde o conteúdo não adiciona nada a nós. Acredito que, com a alternativa de inclusão, nossos caminhos teriam muito mais oportunidades, tanto educacionais, profissionais quanto de lazer “.
Roberto Oliveira
O dinheiro que você economizaria com a baixa taxa mensal da Internet, por sua vez, seria usado para melhorar sua casa. “É um valor que pode ser convertido em material de construção, para atingir o chão da casa”, diz ele.
Angelina Mota, 31 anos, mora com a casa de Oliveira com o marido e o filho. Ela também compartilha sua internet com o vizinho. No final do mês, a fatura é de R $ 30, mas o valor investido no serviço não tem reembolso para o usuário devido à qualidade da conexão. “A Internet é muito lenta, bloqueia muito”, diz ele.
Mota diz que ficou desempregada durante a quarentena e agora suas despesas são para suprir recursos essenciais. Ela acredita que o “espaço virtual” ajudaria a conter custos. “Eu usaria [o dinheiro economizado da internet] para as despesas do mês, porque com este covid-19 não sabemos como será. “
Hoje, Mota usa a Internet para aprender novas receitas e ajudar seus filhos na escola. “Agora que as crianças precisam estudar online, isso é difícil”.