No Brasil, satélites ajudam cientistas a detectar perdas na floresta amazônica

No Brasil, satélites ajudam cientistas a detectar perdas na floresta amazônica

A organização sem fins lucrativos MapBiomas visa acabar com a ‘impunidade’ por desmatamento ilegal e responsabilizar os responsáveis

Por Fábio Teixeira

RIO DE JANEIRO, 6 de abril (Thomson Reuters Foundation) – Um grupo de pesquisadores brasileiros que usa dados de satélite para rastrear o desmatamento ilegal está em uma missão para atingir os responsáveis ​​onde mais dói: no bolso.

O projeto de mapeamento MapBiomas está trabalhando com governos estaduais, promotores e até mesmo o Banco do Brasil, controlado pelo estado, para sinalizar desmatamentos ilegais e responsabilizar os culpados com consequências que incluem multas, ações judiciais e recusas de liberação.

“Estamos tentando negar (dos desmatadores) o acesso ao sistema bancário”, disse Marcos Rosa, coordenador técnico da rede, à Thomson Reuters Foundation em entrevista por telefone.

O Brasil, que possui mais da metade da floresta amazônica, além da vasta savana do Cerrado, está na linha de frente do combate ao aquecimento global.

Deter o crescente desmatamento da Amazônia é vital para evitar os impactos desenfreados das mudanças climáticas devido à grande quantidade de dióxido de carbono que aquece o planeta absorvido pelas árvores da floresta.

O presidente de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, enfraqueceu as proteções ambientais desde que assumiu o cargo em 2019 e o desmatamento aumentou, dizem especialistas.

MapBiomas, uma rede de cientistas, organizações sem fins lucrativos, universidades e empresas de tecnologia, está monitorando o uso da terra e ajudando a identificar infratores publicando mapas públicos mostrando cobertura florestal, uso da água da terra, locais de mineração e muito mais.

Na quarta-feira, ele recebeu um prêmio de US$ 1,5 milhão da Skoll Foundation, que apoia mudanças sociais e negócios para sempre. A Skoll Foundation é parceira de financiamento da Thomson Reuters Foundation por sua cobertura de economias inclusivas.

Na parceria do MapBiomas com o Banco do Brasil, os proprietários de terras onde a perda de árvores é detectada são sinalizados pelo banco como potenciais desmatadores, disse Rosa.

O alerta vai para todas as agências do banco. Se o desmatador em potencial então buscar um empréstimo agrícola, ele precisará fornecer um documento que comprove que a derrubada da floresta foi legal.

O MapBiomas também fornece dados sobre desmatamento para promotores federais, secretários estaduais de meio ambiente e grandes empresas brasileiras, disse ele.

Algumas autoridades locais estão emitindo multas com base nos dados e outras estão iniciando investigações e processos.

“O que queremos é acabar com o sentimento de impunidade. Se alguém desmatou, tem que ser público e disponível”, disse Rosa.

MAIOR TRANSPARÊNCIA

O MapBiomas é colaborativo e apolítico, disse Rosa, mas acrescentou que, durante a presidência de Bolsonaro, os acordos de parceria que a rede tinha com o governo federal e agências expiraram e não foram renovados.

“À medida que o governo diminui a transparência dos dados… o MapBiomas ganha importância”, disse.

O governo brasileiro não respondeu a um pedido de comentário.

Muitos dos estudos do projeto abordam questões de destaque, como um incidente no ano passado quando navios ilegais de mineração de ouro apreenderam uma das principais hidrovias da Amazônia brasileira, o rio Madeira.

Por meio de imagens de satélite, o MapBiomas mostrou que cerca de 150 embarcações estavam ali por quase um mês antes de a Polícia Federal brasileira lançar uma operação para desmantelá-las.

Os estudos também acompanham tendências maiores. No mês passado, um mostrou como entre 1985 e 2020 houve uma diminuição de 16% na área coberta por água no Brasil, um dado preocupante para um país conhecido por ter água em abundância.

Embora mais conhecido no Brasil, o MapBiomas está executando projetos semelhantes em quase todos os países da América do Sul e na Indonésia, trabalhando em parceria com cientistas locais.

Os líderes do projeto esperam expandir seu trabalho para o Chile, fornecendo tecnologia e treinamento para os cientistas do país começarem a monitorar dados terrestres.

“Até o final do ano esperamos ter o MapBiomas Chile”, disse a coordenadora científica Julia Shimbo.

“Queremos ter ciência colaborativa não apenas dentro da academia, mas fora da academia, com o setor privado, o setor público e a sociedade civil”.

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(Reportagem de Fabio Teixeira @ffctt; Edição de Sonia Elks e Helen Popper. Crédito à Thomson Reuters Foundation, o braço beneficente da Thomson Reuters, que cobre a vida de pessoas ao redor do mundo que lutam para viver com liberdade ou justiça.) Visite http:/ /news.trust.org)

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