A aula on-line, ao vivo ou gravada que você provavelmente viu durante a quarentena do Covid-19 está longe de ser o único recurso disponível na educação a distância. O EAD, que começou com letras e brochuras, vai muito além da videoconferência e pode incluir ferramentas que variam de robôs inteligentes à realidade aumentada, mas até através do WhatsApp e Alexa ou Siri.
Lá fora, diz Ronaldo Barbosa, coordenador dos cursos de Tecnologia da Informação da Unimetrocamp e professor de Midialogia da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas], as experiências são volumosas, em vários níveis de ensino. Você pode colocar, por exemplo, inteligência artificial para monitorar o comportamento dos alunos? Quantos bocejos você deu durante a aula? Você está com sono ou atencioso?
Aqui, algo semelhante já está acontecendo na Live University, uma escola de negócios brasileira, com aulas on-line e professores altamente monitorados. Os resultados da participação nas aulas são inteligentemente cruzados e exibidos em telas ao vivo espalhadas pelas unidades, que hospedam apenas a parte administrativa e alguns cursos que precisam de prática; o resto é virtual.
Da carta à inteligência artificial.
Como aconteceu há quatro décadas, hoje a lógica é garantir que o aluno realmente aprenda o conteúdo. Pode ser chato assistir longas aulas na frente do computador, mas imagino que meu pai se formou em eletrônica na década de 1980 e fez dois cursos por carta. Ele pagou uma quantia a um instituto, que enviou todas as brochuras necessárias para obter o conhecimento esperado para reparar dispositivos eletrônicos. Ele tinha um prazo de estudo e, ao final de cada volume, recebia uma carta com dez perguntas pelo correio, que precisavam ser respondidas e devolvidas. O professor avaliou e respondeu. Em outras palavras, esse processo pode levar semanas ou até meses. O trabalho final do curso foi montar um rádio celular.
Agora, existem sistemas de ensino inteligentes, capazes de detectar a melhor maneira de fazer o aluno aprender o conteúdo individualmente. “Se você quiser ler mais, [o sistema] Separe mais artigos. Se você gosta de assistir a mais vídeos, separe esse tipo de material. Se você é uma pessoa mais auditiva, separe os podcasts “, explica Cláudio Pinheiro, coordenador do curso de pós-graduação em Inteligência Artificial (IA) da ESPM.
Essas plataformas adaptáveis, movidas a IA, são construídas até no Brasil, mas são pouco exploradas, acredita Lana Paula Crivelaro, diretora da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância) e doutora em Educação, Inovação e Tecnologia pela Unicamp. Em geral, eles servem para informar a instituição se o aluno está atrasado ou seguiu o conteúdo. “Mas, ano após ano, a inteligência artificial consegue mostrar qual aluno está prestes a desistir e vai fugir, porque não está acompanhando”, diz ele.
Alexa, você é a professora do futuro?
Os filhos de Crivelaro costumam brincar com “Siri”, assistente virtual da Apple. Para ela, o pequeno robô pode ser uma ótima ferramenta na educação. “O professor pode pedir aos alunos que pesquisem usando o Siri. Isso tornaria a educação mais atraente”, disse ele.
Este é apenas um exemplo simples de como os robôs podem ajudar no processo de aprendizado. A interação começa com uma pergunta para Alexa, mas já é possível ter parte do conteúdo das aulas ministradas por um assistente virtual ou robôs que aprendem os padrões de estudo de cada aluno para personalizar o material escolhido para a lição, algo conhecido como “aprendizado”. máquina automatizada “(ou aprendizado de máquina, em tradução livre).
Para Cláudio Pinheiro, da ESPM, esse é um caminho sem volta. “Teremos assistentes virtuais que ajudarão a responder perguntas sobre a disciplina ou os ambientes que interagem na preparação e criação dos modelos”, diz ele.
O bot funciona mais ou menos como o Akinator, uma ferramenta que aprende com perguntas para adivinhar em qual personagem estamos pensando. “Ele faz uma série de perguntas e obtém uma resposta, mas não possui um padrão fixo. Ele aprende. Quando alguém imagina o mesmo personagem, provavelmente fará perguntas melhores”, explica Barbosa.
É assim que os bots são programados, com todos os processos e pré-requisitos que levam o aluno a entender um determinado conceito. “Você pode entregar os conceitos ao aluno de forma sequencial e programada e exigir o domínio desses pré-requisitos até entender o conceito”, explica ele.
Segundo o especialista, o bot trabalha como tutor. Até então, ele diz, as instituições educacionais tinham o papel de selecionar conteúdo, criar caminhos de aprendizado e vender esse serviço. Hoje as máquinas começaram a fazer isso. “Muitos mestres que agem como máquinas podem ser substituídos por inteligência artificial capaz de fazer associações, comparações e pesquisas muito mais rapidamente”, provoca.
Obviamente, o professor pode ser o protagonista desse processo, se ele conseguir reconstruir seu papel como educador. “O principal erro é querer competir com as máquinas. Professores criativos, que valorizam a comunicação com os alunos e a capacidade crítica dos alunos, se destacam”, defende.
Imersão total ajuda a recriar cenários
Você está em casa, coloca os óculos e eles o transportam para outro local: uma sala de aula, um laboratório, uma sala de operações, um escritório. Isso já acontece em muitos campos da educação, especialmente no treinamento em situações perigosas ou altamente precisas. Em São Paulo, a escola de idiomas Beetools ensina adultos e crianças com a ajuda da realidade virtual, transportando os alunos para locais onde eles podem treinar diálogos. Técnicos de manutenção de elevadores ou cirurgiões podem praticar neste contexto virtual.
Os recursos de realidade aumentada são mais acessíveis e mais fáceis de aplicar em um contexto educacional, mas ainda são adotados timidamente. Na mesma lógica que o Pokémon Go, o jogo de realidade aumentada de maior sucesso do mundo pode digitalizar objetos de estudo. “Um componente de um carro ou do corpo humano, o esqueleto … Você navega tridimensionalmente, apontando a câmera do seu celular para uma área em branco, e a plataforma coloca esse item na sua frente”, explica o coordenador da ESPM.
“É bom ver isso expandir, mas é muito exigente e caro, por isso não é comum”, diz Pinheiro. “E falta gente para produzir esse conteúdo 3D”.
Enviar um zap?
O telefone celular, em geral, é desaprovado pelos educadores tradicionais da educação. Sim, eles podem atrapalhar a classe, distrair os alunos e, por esse motivo, costumam ser itens proibidos em escolas e acadêmicos. Mas olhar para essa ferramenta não deve se limitar a isso, argumentam os especialistas ouvidos por Inclinação.
É necessário saber explorar o smartphone de maneira saudável, como uma importante ferramenta de conhecimento. “Pode ser muito rico. Ainda estamos aprendendo a usá-lo para ensinar, assistir e interagir com colegas”, diz Barbosa. Em muitos casos, ele diz, os telefones celulares são a única opção que muitos estudantes têm para estudar e acessar o conteúdo.
“Eu costumo ir a escolas públicas para dar palestras. Uma vez perguntei a uma turma de 50 juniores se eles estavam usando a Internet para aprender alguma coisa, e poderia ser qualquer coisa: tocar violão, pintar uma imagem, saber escrever uma roteiro de filme, tire fotos. Sabe quantos levantaram as mãos? Quatro ou cinco “, diz o professor da Unicamp.
Quando perguntados sobre o uso das mídias sociais para interagir ou divertir, 45 alunos levantaram as mãos. “Deveríamos investir na formação de professores para mudar essa realidade. Não há sentido em ter uma boa estrutura e não ter uma cultura que incentive a busca autônoma, ao mesmo tempo orientada, pela busca de conhecimento através da mídia digital”.
Crivelaro argumenta que até o WhatsApp pode ser explorado na educação. “As pessoas não entendem que o WhatsApp oferece a possibilidade de comunicação e interação rápidas”, diz ele.
Na PUC-RS, por exemplo, cada turma de cursos a distância de MBA possui um grupo no WhatsApp, que pode ter até 150 pessoas. A instituição os cria como canais para trocar idéias, experiências e estabelecer contatos entre os alunos. Existem dúvidas que eles conseguem resolver entre si, sem ter que entrar em contato com a instituição, pois os professores não participam desses grupos.
Em outros casos, exemplifica Crivelaro, o professor dá o ritmo dos grupos. “Eu, professor, posso ser administrador e ninguém tem o direito de enviar uma mensagem. Envio instruções sobre como será o nosso processo, no momento em que libero para que os alunos enviem a mensagem, a troca ocorre. Isso será avaliativo” . Por exemplo, quando o tempo acabar, fecho novamente [o grupo]”
Barbosa, no entanto, não gosta da ideia. “O WhatsApp pressupõe que as pessoas tenham que responder imediatamente e estar disponíveis o tempo todo. Isso não é educacional, educacional é pensar antes de falar, fazer comparações, síntese”, discorda.