Qual é o animal mais valorizado da fauna do Brasil? Pelo menos nas carteiras e bolsos dos brasileiros, a partir de agosto de 2020, o lobo-guará conquistará esse título carimbando uma nova nota que entrará em circulação: a nota de R $ 200.
Se a notícia se tornasse criticado e até “memes” para alguns, para os amantes da natureza e cientistas, a razão da celebração é. Afinal, ter o único lobo da América do Sul impresso em nosso dinheiro é outra maneira de atrair nossos olhos para nossa fauna e aproximar a população da biodiversidade do país.
G1 em 1 minuto: o Banco Central anuncia que lançará uma nota de R $ 200 em agosto
Segundo Carolina de Assis Barros, diretora de administração do Banco Central, em 2001 o lobo-guará ocupou o terceiro lugar em uma enquete para uso em contas. O primeiro e o segundo lugar foram a tartaruga marinha e o mico-leão-dourado, presentes nas notas de R $ 2 e R $ 20, respectivamente.
Se naquele momento ele assumiu a última posição na classificação, após 18 anos, o animal é exaltado na nota que se tornará a mais valiosa do país. Mas o que isso significa e, afinal, quem é o lobo-guará?
A “máscara negra” da face do lobo-guará é um dos elementos utilizados para distinguir as pessoas – Foto: Thiago Mesquita / VC no TG
Em um hábito amigável e solitário, o lobo-guará geralmente vive mesmo perto de grandes cidades. A espécie é considerada ‘vulnerável’ na lista de animais brasileiros ameaçados de extinção e é considerada ‘quase ameaçada’ em todo o mundo, desde 1996.
Segundo o canídeo biólogo Rogério Cunha de Paula, poucas estimativas imprecisas apontam para a existência de 24.000 lobos no Brasil, número que preocupa quando se trata de reprodução. “Menos da metade delas é capaz de se reproduzir, já que a maioria dos indivíduos é jovem ou velha. Ainda: desse total, menos de 5% vive em ambientes preservados, ou seja, a maioria está em locais afetados pela ação humana “, diz ele.
O lobo-guará é o único lobo no Brasil e, no final de agosto de 2020, será o símbolo da nota de R $ 200 – Foto: Luciano Lima / TG
Mudança nos ambientes naturais é a principal ameaça para as espécies. “Eles são forçados a migrar e se adaptar a situações próximas aos homens. Atropelar e entrar em contato com doenças de animais domésticos, por exemplo, são alguns reflexos negativos dessa relação, que causa a morte do animal”.
Apesar de ser visto durante o dia, o lobo-guará é uma espécie de comportamento solitário e hábitos noturnos – Foto: Tiago Degaspari / Coleção Pessoal
Além de torná-los vulneráveis, a migração também prejudica a comida dos lobos, que não têm mais acesso a um extenso cardápio de frutas, insetos, ratos, pássaros, lagartos, cobras e até pequenos mamíferos. “É o único canídeo grande que se alimenta de presas pequenas para suprir e suprir a necessidade de energia. Outras espécies caminham em grupos e compartilham uma presa grande”, diz Rogério, que detalha o comportamento característico da caça.
“A predação é como uma dança que evoluiu ao longo de milhares de anos. Eles têm um olfato desenvolvido, mas ouvir é o sentido mais usado na caça. Ao detectar uma presa, ela salta para desconcertá-la e depois atacar “, acrescenta.
O momento de caça do lobo-guará registrado na Serra da Canastra captura o hábito de “pular” do animal – Foto: João Roberto Cortez / VC no TG
‘Comer’ em lugares altos e gramados requer adaptações, de modo que lobos-guará de pernas longas estão evolutivamente associados ao comportamento de locomoção e caça
Além das ameaças, o lobo-guará também é alvo da ignorância. A expectativa é que esses fatores tenham repercussões e sejam combatidos com a chegada da nova votação, como apontou Rogério. “Isso terá um impacto muito bom e a disseminação de informações atrairá as pessoas a saberem mais sobre as espécies”, diz o especialista em canídeos.
O pesquisador do projeto Onçafari, Valquíria Cabral, concorda. Para ela, futuras contas emitidas com a imagem do animal terão potencial para ampliar o conhecimento sobre as espécies. “Isso deixará as pessoas curiosas e acho que trará visibilidade ao animal, à ameaça que ele enfrenta e à importância que ele tem no sistema. Espero que ganhemos mais força em pesquisa, mais investimentos, como já acontece com outras espécies “, reforça o biólogo, que garante que a integração da pesquisa com a educação sobre o lobo é a ferramenta mais eficaz para conservá-la.
Conheça algumas curiosidades sobre o lobo-guará, um animal que carimbará a nota de R $ 200 – Foto: Gabriela Brumatti / TG
Os lobos-guará reproduzem-se uma vez por ano, entre os 3 e os 7 anos de idade. No final da estação das chuvas, o casal passa 15 a 20 dias juntos para acasalar. “A loba fica sozinha por cerca de 60 dias e o macho volta ao nascimento do bezerro. Pouco se sabe sobre esse período pós-gravidez, mas acredita-se que a família passe seis a nove meses juntos”, explica o biólogo Rogério de Paula.
Também não se sabe quantos filhotes nascerão em cada ninhada, mas estudos mostram que dois ou três sobrevivem. Segundo a bióloga Valquíria Cabral, a pouca informação sobre o comportamento reprodutivo e o cuidado parental das espécies vem de estudos realizados em cativeiro que às vezes não refletem a realidade. “Já descobrimos um esconderijo com 5 filhotes, um número muito grande, e monitoramos o local desde junho deste ano”, diz ele.
Ao contrário dos adultos, os filhotes de lobo-guará nascem com pêlo escuro e atingem um tom avermelhado quando adultos – Foto: Valquíria Cabral / Onçafari
Monogâmicos, homens e mulheres permanecem com o mesmo parceiro até o final da vida e a troca ocorre, sozinha, quando um deles morre
O lobo-guará é exclusivo da América do Sul e é o maior canídeo do Brasil. Apesar de estar em partes da Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Peru, 80% da população vive no Brasil. Considerado um dos símbolos do Cerrado, não requer florestas fechadas e gosta de habitats abertos, como áreas rurais.
“Acreditamos que a Serra da Canastra (MG), que faz parte do Cerrado, é o local com a população mais abundante de lobos por metro quadrado na América do Sul. O local com mais lobos será sempre o local com a maior área protegida”, Rogério explica.
No entanto, com a destruição do bioma, as populações estão em declínio. “Estimativas recentes apontam para uma redução de 30% na população de lobos-guará no Cerrado nos próximos 20 anos”, diz o biólogo Eduardo Fragoso, que também trabalha com a espécie.
O encontro com o lobo-guará marcou um fotógrafo da natureza que o gravou na cidade de Bocaína (SP) – Foto: Junior Esteves / VC en TG