A medida provisória 954 /2020 Isso permitiu o compartilhamento de dados do telefone celular brasileiro, para que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pudesse realizar Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) não conseguiu esclarecer à população como as pesquisas de dados seriam realizadas.
É a opinião da especialista Laura Schertel, professora da UnB (Universidade de Brasília), que participou do Debate sobre monitoramento, vigilância e uso de dados em meio à nova pandemia de coronavírus.
A parlamentar foi suspensa na semana passada pela ministra da Suprema Corte Rosa Weber, mas teria permitido ao IBGE ter acesso a informações como: nomes, números de telefone e endereços registrados pelas operadoras de telefonia até então. A justificativa usada para esse novo processo seria a emergência de saúde pública resultante do coronavírus.
Para o professor, o MP não detalhou como as pesquisas de dados seriam realizadas ou por que a troca de informações seria útil para a pandemia. Além disso, a urgência associada ao uso das informações causou surpresa.
“Existe uma confiança e uma relevância social reconhecida de todo o trabalho que o IBGE realiza. De maneira alguma é uma desconfiança no trabalho. O que existe é que o MP não esclareceu quais pesquisas [de dados] isso seria feito e por que eles seriam importantes para os cobiçados “, afirmou.
“Um segundo aspecto relevante é que o próprio IBGE explica que as pesquisas são amostras que utilizam dados de 200.000 brasileiros. Não ficou claro por que os dados foram coletados de todos os cidadãos. Essa desproporção entre os dados supostamente necessários e os dados requer um pouco de medo “, completou.
Schertel também observou que sua preocupação não eram apenas as brechas trazidas pelo MP e pela instrução normativa do IBGE. A falta de autoridade para supervisionar todo o processo também foi problemática.
O advogado Renato Vieira Caovilla, especialista em proteção de dados que também participou do debate de hoje, concorda com as precauções que devem existir diante de uma decisão tão importante.
“Simplesmente porque colocamos uma pandemia é uma carta branca para fazer o que queremos? Dificilmente. Tivemos que aprender muito em dois, três meses durante essa pandemia que aprenderíamos em uma década”, disse ele.
O Debate Ele também se encontrou com Rafael Zanatta, coordenador de pesquisa da Data Privacy Brazil; Maria Cecília Gomes, pesquisadora de privacidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV); e André Ferraz, CEO da In Loco Media.