Mais de 4.000 delegados se reúnem para discutir o futuro do icônico sistema de saúde do Brasil : Despacho do Povo

A 17ª Conferência Nacional de Saúde será realizada em Brasília, de 2 a 5 de julho. Mais de 4.000 pessoas foram eleitas como delegadas para votar em 2.000 propostas e diretrizes para o próximo período do Sistema Único de Saúde (SUS). Esses planos foram desenvolvidos por meio de conferências em nível municipal e estadual, além de mais de 100 encontros abertos ao público, todos realizados entre agosto de 2022 e maio de 2023. O processo de preparação para esse evento nacional mobilizou cerca de 2 milhões de trabalhadores, gestores, pacientes, ativistas e outros de todo o país.

As Conferências Nacionais de Saúde são uma plataforma vital para o diálogo entre governo e sociedade civil, representando o que se conhece no Brasil como Controle Social. O Controle Social é um pilar fundamental do SUS, e compreende a compreensão, participação e controle das ações do Estado pela população. Proporciona uma experiência de democracia direta liderada pelo povo. Ao participar do controle social, o cidadão pode contribuir para o planejamento, implementação e avaliação das ações governamentais.

A Conferência Nacional é realizada a cada quatro anos pelo Conselho Nacional de Saúde em colaboração com o Ministério da Saúde. Os Conselhos de Saúde, por determinação da lei, existem em todos os níveis (municipal, estadual e federal) e funcionam como espaços de Controle Social. Eles têm um papel permanente e deliberativo na formulação de estratégias e na supervisão da implementação das políticas de saúde, incluindo aspectos econômicos e financeiros.

Metade dos conselheiros são representantes dos usuários do SUS (população, associações, movimentos sociais etc.), enquanto 25% são profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, sindicatos etc.) instituições filantrópicas ou contratadas).

Ao longo da história da saúde pública no Brasil, foram realizados 16 congressos, antes e depois da formação do SUS. A 8ª conferência, realizada em 1986, tem um significado especial, pois foi a primeira aberta à sociedade. Seu relatório final serviu de base para o capítulo da saúde da Constituição Federal de 1988, que acabou com a ditadura e resultou na criação do SUS.

Defesa do fortalecimento do SUS

A 17ª Conferência compartilha semelhanças com a 8ª Conferência na medida em que se caracteriza pelo entusiasmo que se segue ao fim de um período político autoritário. No entanto, este período também foi trágico para a população devido ao seu impacto negativo na saúde e na vida das pessoas. Sob a administração do ex-presidente Jair Bolsonaro, o Brasil sofreu mais de 700.000 mortes devido à pandemia de COVID-19.

Devido a uma resposta federal baseada no negacionismo e na desinformação, o país, que tem apenas 3% da população mundial, foi responsável por mais de 10% das mortes no mundo. Além da subnotificação de casos, sabe-se que medidas sérias de combate à pandemia poderiam ter evitado aproximadamente metade dessas mortes.

Leia | Bolsonaro governou politicamente inelegível por oito anos

A tragédia poderia ter sido ainda pior se não fosse o SUS e seus dedicados trabalhadores que garantiram a saúde da população. Em resposta a esse período, a sociedade brasileira reconheceu a importância do SUS. Apesar dos ataques às estratégias baseadas na ciência para combater a pandemia, a maioria da população adotou a vacinação. Hoje há um nível inédito de apoio social ao SUS, que se reflete na participação e eleição de inúmeros delegados na preparação da Conferência.

Este também é um momento importante para defender o projeto de saúde escolhido nas eleições brasileiras do ano passado, implantado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, e pelo governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Mesmo com a vitória eleitoral, o atual governo e sua agenda progressista exigem força social e política para continuar. Nos primeiros seis meses de sua gestão, o governo enfrentou dificuldades na implementação de seus programas devido à resistência de setores conservadores, principalmente no Congresso Nacional brasileiro.

O atual presidente da Câmara dos Deputados e líder de um grupo de parlamentares conservadores, Arthur Lira, vem reivindicando maior influência política no Executivo brasileiro, chantageando os processos legislativos que garantem a implementação das políticas do presidente Lula. No mês passado, Lira manifestou interesse em substituir o atual ministro da Saúde por um de seus aliados. No entanto, essa possibilidade foi rapidamente descartada tanto pelo ministro quanto pelo presidente.

Os organizadores e apoiadores da 17ª Conferência veem o evento como uma significativa demonstração de força política em defesa do SUS. Esse compromisso com o SUS foi firmado em acordo com o presidente Lula durante a Conferência de Saúde Livre, Popular e Democrática, realizada em agosto de 2022.

Além disso, a Conferência foi agendada para o início de julho para permitir tempo suficiente para contribuições ao Plano Nacional de Saúde 2024-2027. Esse plano serve como instrumento norteador do planejamento do SUS, a partir do amplo e diversificado debate nacional. Seu objetivo é alinhar-se ao Plano Plurianual geral do governo.

Outro motivo para a escolha da data é a próxima votação, em agosto, da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Esta lei é formulada anualmente para traçar as prioridades do governo para o ano seguinte. Espera-se que a mobilização pela saúde durante a Conferência de Brasília influencie o orçamento, garantindo uma transformação na qualidade da atenção à saúde da população brasileira. Enfatiza também o desenvolvimento colaborativo e participativo de uma agenda entre sociedade e governo.

Programa

Espera-se que a Conferência receba aproximadamente 6.000 participantes, tornando-se o maior evento do gênero na história. A programação inclui diversas atividades como debates, plenárias e uma Cerimônia de Abertura que contará com a presença do Presidente Lula e da Ministra da Saúde Nísia Trindade.

No dia 4 de julho haverá uma manifestação pública em prol do SUS, da vida e da democracia. Além disso, a Conferência incorporará um programa de artes, educação e cultura popular.

A programação da conferência pode ser encontrada aqui (em português).

secretaria de saude popular é um boletim quinzenal publicado pela Movimento de Saúde Popular e despacho de pessoas. Para mais artigos e para assinar o Despacho de Saúde Popular, clique aqui.

You May Also Like

About the Author: Adriana Costa

"Estudioso incurável da TV. Solucionador profissional de problemas. Desbravador de bacon. Não foi possível digitar com luvas de boxe."

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *