RIO DE JANEIRO – Pelo menos 20 pessoas morreram e mais de 50.000 foram expulsas de suas casas pelas desastrosas enchentes que atingiram o nordeste do Brasil, disseram as autoridades na terça-feira.
O poder das águas correndo pelo terreno costeiro deixou os brasileiros estupefatos.
“Já tivemos outras cheias, outras catástrofes com mortes, mas nada, absolutamente nada, com esta extensão territorial, com este número de cidades atingidas ao mesmo tempo e com o número de pessoas atingidas por esta tempestade”, disse Rui Costa. o governador do estado da Bahia.
À medida que as barragens cediam, em alguns bairros submersos, os telhados eram os únicos sinais remanescentes de comunidades outrora vibrantes.
Equipes de resgate utilizaram barcos e helicópteros para entrar em partes de Ilhéus, Itabuna, Irecê e uma centena de outras cidades. Estados vizinhos enviaram aviões e bombeiros para ajudar policiais e militares, enquanto voluntários distribuíam doações de alimentos, colchões e cobertores para as comunidades mais pobres.
Como regiões grandes e pequenas ao redor do mundo afetadas pelas mudanças climáticas, a Bahia tem passado por eventos climáticos extremos nos últimos anos.
Nos últimos cinco anos, a Bahia e seus vizinhos do nordeste sofreram uma forte seca. Mas no início deste mês, os céus se abriram e durante semanas a Bahia foi castigada por extraordinárias chuvas intermitentes. É a precipitação mais forte do mês de dezembro no estado em três décadas, segundo o centro brasileiro de monitoramento de desastres naturais.
As águas chegaram para Gerisnon Vieira Lima e sua família numa madrugada há cerca de duas semanas na cidade de Guaratinga, no sul da Bahia.
Como o nível da água subiu rapidamente dentro da casa que ele divide com sua mãe de 70 anos e três outros parentes, Vieira Lima foi rápido em salvar todos os móveis ou pertences que pôde, embora achasse que teria outra chance.
“Achei que íamos voltar depois que a chuva caísse, mas não foi possível”, disse o frentista de 35 anos.
Enquanto ele observava, sua casa deu lugar a uma torrente de destroços.
Desde então, o Sr. Vieira Lima e sua família estão acampados na casa de sua irmã para tentar se recuperar do trauma. “Foi muito triste, muito difícil”, disse ele. “Eu nunca vi nada assim.”
A situação piorou ainda mais no fim de semana do feriado de Natal, depois que a chuva extrema causou o rompimento de duas barragens. O primeiro estourou em Vitória da Conquista, no sul do estado, na noite de sábado, e o segundo na manhã de domingo 200 quilômetros ao norte, em Jussiape.
“São mais de 116 municípios em estado de emergência”, disse o deputado baiano Valmir Assunção. “As chuvas destruíram pontes, estradas e casas em nosso estado”.
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, um grupo de especialistas em política climática no Brasil, observou que o último relatório das Nações Unidas oferece “fortes evidências” de que tais extremos climáticos são resultado das mudanças climáticas.
“O aquecimento do oceano é particularmente relevante para isso”, disse ele. “Em 2020, os dados mostravam que 80% dos mares sofreram ondas de calor marítimo, e isso gerou desastres como o da Bahia”.
A Sra. Unterstell exortou governos como o Brasil a levar as mudanças climáticas em consideração ao reconstruir. “O Brasil foi feito para um clima que não existe mais”, afirmou.
Na terça-feira, Assunção e outros parlamentares se reuniram para pressionar por recursos financeiros para a reconstrução da região. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, Anunciado uma alocação de ajuda de emergência igual a $ 35 milhões.
Em meados de dezembro, quando as chuvas começaram, o presidente Bolsonaro sobrevoou algumas das áreas mais atingidas. Mas na segunda-feira, quando as chuvas chegaram ao auge, ele rumou para a região sul do país para passar o feriado. Ele deve retornar à Bahia no início do ano novo.
“Espero não ter que voltar mais cedo”, disse Bolsonaro a um apoiador na segunda-feira após o rompimento das barragens, falando nas areias da Praia do Forte, em São Francisco do Sul, reportagem da mídia local.
O presidente foi criticado nas redes sociais por fazer uma pausa durante a crise.
“Enquanto nosso povo passa fome, desemprego, inflação, epidemias e desastres naturais como na Bahia, o Bolsonaro tirou férias!” um senador da oposição, Randolfe Rodrigues, ele disse no twitter. “Sim! Alheio a tudo isso, ele achou que merecia uma folga, como uma grande brincadeira com o povo brasileiro.”
As enchentes também podem atrasar a luta do Brasil contra a pandemia. Costa, o governador da Bahia, disse que algumas cidades de seu estado perderam todos os estoques de medicamentos e vacinas contra a Covid-19.