Igreja brasileira lança campanha contra a fome na Amazônia

SÃO PAULO – Entidades religiosas da Amazônia brasileira, que têm lutado para atender às necessidades de milhares de pessoas durante a pior fase da pandemia da Covid-19, vêm apontando que a situação dos mais pobres não mudou, apesar da normalização vida social durante o último ano.

Uma das consequências da contínua crise econômica na região é a fome generalizada. Segundo informações da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), 54% dos pequenos produtores do norte do Brasil, que constitui a maior parte da floresta tropical, enfrentam insegurança alimentar grave ou moderada.

Em grandes cidades amazônicas como Manaus e Belém, grupos religiosos têm notado um número crescente de moradores de rua nas ruas e uma maior demanda por doações.

Entre vários grupos indígenas, a fome tem aumentado nos últimos anos, levando a catástrofes humanitárias como a que enfrenta atualmente o povo Yanomami, que causou centenas de mortes por fome e malária.

No início deste mês, a Rede Eclesial Panamazônica do Brasil (REPAM) lançou uma campanha contra a fome na região. A ideia é ir além da simples distribuição de kits de alimentação e apontar as raízes do problema.

“A fome é um problema que tem diferentes dimensões na Amazônia. Afeta comunidades ribeirinhas, povos tradicionais e pobres urbanos. A Igreja precisa olhar com atenção e desenvolver um esforço contínuo para combatê-lo”, disse o bispo Evaristo Spengler, de Boa Vista, que preside a REPAM Brasil. Crux.

Este ano, o tema da Campanha da Fraternidade da Conferência Episcopal, uma campanha quaresmal para arrecadar fundos para obras sociais católicas e conscientizar sobre questões sociais, foi a fome, então todas as dioceses, paróquias e organizações eclesiais tiveram a oportunidade de refletir sobre a problema. durante a Quaresma.

“Nossa ideia é continuar a campanha na Amazônia até o final de 2023, considerando a gravidade da fome na região”, acrescentou Spengler.

As causas da insegurança alimentar em um dos biomas mais diversos do mundo são complexas, explicou Dom Pedro Brito, Bispo de Palmas, Tocantins.

“No Tocantins existem 9 milhões de cabeças de gado e uma população de 1,5 milhão de habitantes. Mas toda essa carne não chega aos pobres. O agronegócio é poderoso, mas não beneficia o povo”, disse Brito.

Ele disse que muitos pequenos produtores sentem os efeitos da contaminação causada pelos agrotóxicos usados ​​nas monoculturas e acabam vendendo suas terras para grandes latifundiários. Nas cidades, eles não conseguem encontrar trabalho.

“Os preços dos alimentos são altos, então ninguém pode comprar os itens necessários. Por isso a fome cresce”, acrescentou.

Na cidade de Manaus, a maior da Amazônia com 2,2 milhões de habitantes, a Cáritas local continua distribuindo semanalmente 3.000 kits de alimentação em diferentes bairros.

“A pandemia acabou, mas a taxa de desemprego está alta. A pobreza está aumentando, principalmente na periferia da cidade”, disse o diácono Afonso Brito, secretário executivo da Cáritas Manaus. Crux.

A crise foi agravada pelas fortes chuvas que atingiram a região nas últimas semanas, causando inundações e destruindo dezenas de casas.

“Também percebemos que o número de imigrantes venezuelanos que chegam à cidade vem crescendo. Eles pedem comida e ajudam a se deslocar para outras regiões”, disse Brito.

Após um grande fluxo de venezuelanos entre 2018 e 2019, o número de pessoas que cruzam a fronteira para Roraima teve altos e baixos. Ultimamente, pelo menos 600 imigrantes venezuelanos têm entrado no Brasil todos os dias.

O processo de urbanização está transformando rapidamente a Amazônia, argumentou Spengler, e isso também tem causado insegurança alimentar.

“A moradia é cara. As pessoas não têm dinheiro para comprar comida. Ao mesmo tempo, eles perdem a alimentação que tinham no campo e compram alimentos ultraprocessados ​​na cidade”, disse.

Para populações tradicionais, como grupos indígenas, quilombola comunidades – formadas por descendentes de escravos africanos que fugiram do cativeiro quando a escravidão era legal no Brasil (1500-1889) – e pequenos agricultores, as disputas de terra têm sido uma das principais causas da fome.

“No território Yanomami havia mais de 20 mil garimpeiros ilegais. Eles poluíram a água e o solo, então agora as pessoas não podem plantar, pescar e caçar como antes”, disse Spengler.

No estado de Rondônia, quilombola grupos têm sentido o impacto da poluição dos rios por grandes fazendas que usam agrotóxicos. Os estoques pesqueiros que costumavam pescar estão baixos, explica Roberto Ossak, coordenador local da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

“Muitas comunidades empobreceram nos últimos anos depois que suas terras foram abertas para exploração madeireira. Isso afetou sua capacidade de produzir alimentos”, disse ele. Crux.

Mas o solo fértil da região tem garantido que a maioria quilombolas têm acesso à comida, disse ele.

“O que estamos tentando fazer agora é melhorar a qualidade da comida que eles comem”, disse Ossak.

A CPT tem incentivado quilombolas produzem variedades de vegetais que cultivavam tradicionalmente e trocam essas sementes com seus vizinhos.

“Temos promovido a troca de sementes tradicionais de milho, feijão, mandioca e arroz, que resultarão em alimentos saudáveis, cultivados sem agrotóxicos”, afirmou.

A CPT também apoia a produção local de outros itens, como a farinha de mandioca, algo que ajuda as comunidades a gerar renda.

A REPAM apoia o trabalho de Ossak fornecendo combustível para o barco que ele usa para visitar comunidades remotas.

“Agora estamos ajudando o quilombolas criar associações cívicas, para que possam receber fundos do governo para os seus projetos”, disse.

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