O Brasil deve ter uma “voz mais alta” nos assuntos mundiais, incluindo um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, disse o principal diplomata britânico na quarta-feira.
O “equilíbrio de poder global” mudou para o sul, disse o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, em entrevista coletiva em Brasília, a primeira visita de um diplomata britânico sênior em nove anos. E acrescentou: “É uma realidade que deve se refletir em uma série de instituições multilaterais, inclusive a ONU”.
O Brasil, a maior economia da América Latina e o país mais populoso da região, há anos reclama para ingressar no conselho como membro permanente, movimento que foi bloqueado pelos cinco membros permanentes: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França.
O Brasil “tem um papel decisivo a desempenhar na reformulação da ordem internacional e do sistema multilateral e o Reino Unido reafirma seu apoio à ambição do Brasil de ter um assento permanente no conselho de segurança da ONU”, disse Cleverly.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, disse que seu país e o Reino Unido estão alinhados nesse sentido.
A visita de Cleverly ao Brasil, no final de uma turnê regional que também o levou ao Chile, Jamaica e Colômbia, ocorre depois que Londres anunciou recentemente uma importante contribuição a um fundo brasileiro para proteger a Amazônia.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, prometeu este mês mais de US$ 100 milhões para o fundo durante uma reunião com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva na véspera da coroação do rei Carlos III.
reinicialização regional
Enquanto esteve no Chile, Cleverly pediu que a América Latina tivesse mais voz e influência em instituições multilaterais.
“Os países latino-americanos têm um papel decisivo na reconfiguração da ordem internacional e do sistema multilateral”, disse Cleverly em discurso no Centro Cultural Gabriela Mistral.
“As instituições multilaterais de nosso mundo precisam de reforma, principalmente para dar mais voz e influência à América Latina”, acrescentou o ministro das Relações Exteriores.
Durante a sua visita a Santiago, o governante britânico elogiou a entrada do Chile, Peru e México no Acordo de Parceria Transpacífico Integral e Progressivo (CPTPP) e acrescentou que também espera a adesão de países como a Costa Rica, Equador e Uruguai.
Em particular, Cleverly também destacou o potencial de exploração de lítio no Chile, Argentina e Bolívia. O principal diplomata do Reino Unido destacou o investimento de US$ 1 bilhão da mineradora Rio Tinto, que produzirá cerca de 100 mil toneladas de lítio até 2027.
O Chile é o segundo produtor mundial desse mineral, fundamental para a fabricação de baterias para veículos elétricos e considerado um fator importante no combate às mudanças climáticas.
A visita de Cleverly faz parte das tentativas do governo britânico de comemorar os 200 anos de relações entre o Reino Unido e a América Latina. O deputado conservador é o primeiro chanceler a visitar a América do Sul desde 2018.
“Devemos ser ambiciosos para nosso relacionamento futuro. Não apenas pelos laços históricos de amizade que nos unem há mais de 200 anos, mas porque guardamos os mesmos valores fundamentais que inspiraram a criação desta ordem internacional. Só vai evoluir, sobreviver e prosperar com o apoio incondicional e empenho desta grande região”, disse o chanceler em declarações à imprensa.
– TIMES / AFP