O dia chegou! Esta segunda-feira, 9 de julho “Daffodil de férias”, filme em que Caetano veloso faz um relato íntimo e detalhado de sua prisão pela ditadura militar em dezembro de 1968, atinge exclusivamente a Globoplay. No mesmo dia de sua estreia mundial no 77º Festival de Veneza, que acontece na Itália até 12/09, a peça, em que o cantor fala de seus dias solo, as canções que marcaram o período de confinamento e os episódios com que conviveu. amigo Gilberto Gil, está disponível para assinantes da plataforma.
Que tal aproveitar o feriado para conferir o lançamento? 😉🎬
No filme dirigido por Renato Terra mim Ricardo Calil, uma produção da Uns Produções, produzida pela Paula Lavignee co-produzido pela VideoFilmes, por Walter Salles mim João Moreira Salles, Caetano – que fez 78 anos no último dia 08/07 – Ler e comentar uma série de documentos secretos da ditadura, inéditos até hoje.
“A beleza desse filme é a maneira como Caetano Veloso, hoje com 78 anos, consegue nos trazer de volta àquela cela e nos fazer compartilhar o desamparo do prisioneiro. A simplicidade da encenação – um homem sentado de pernas cruzadas em frente a uma parede de concreto, nada mais – dá voz ao essencial, uma escolha que é estética e moral. Diante da violência, qualquer excesso seria injustificado. Este é um filme sobre o Brasil de antes e talvez amanhã. Os fantasmas continuam conosco ”, analisa o coprodutor João Moreira Salles.
“’Narciso em Férias’ respeita e amplifica cada palavra, memória, gesto, silêncio de Caetano”, diz o diretor e roteirista Renato Terra. “Narciso em Férias é um filme que fala do passado do Brasil, através das memórias de Caetano Veloso de sua prisão na ditadura, mas também fala muito sobre o presente do país”, completa o diretor e roteirista Ricardo Calil .
Caetano Veloso no filme ‘Narciso em Férias’ – Foto: Divulgação / Globo
Não Conversa com Bial a partir de sexta-feira, 4 de setembro Caetano contou como foi revisitar as memórias do período do filme, gravado 50 anos após sua prisão. A escolha do título “Narciso em Férias” se deve ao fato de que, nos 54 dias em que esteve detido, Caetano não se viu no espelho. Esse é o nome de um dos capítulos do livro “This Side of Paradise”, de Scott Fitzgerald, e também do capítulo autobiográfico “Verdade Tropical” (1990) em que a cantora narra a experiência da prisão.
Caetano é convidado do ‘Conversa com Bial’ – Foto: Playback / TV Globo
Na reportagem, o cantor contempla a aparição da polícia em sua casa em São Paulo até sua libertação e chegada em Salvador. Bial comenta que, na prisão, Caetano desenvolveu uma série de superstições e interpretou certos acontecimentos como sinais de bom ou mau presságio. Entre as previsões, ele combinou o dia e a hora em que seria libertado da prisão.
“O aparecimento de uma barata, que ainda me assusta, foi o pior sinal possível. Fui fazer um cálculo, fiz várias coisas bem ”.
👉 Confira entrevista de Caetano Veloso no Conversa com Bial:
Veja entrevista com Caetano Veloso sobre “Narciso em Férias”:
– Como o que você narrou em Narcissus on Holidays afetou suas decisões ao longo de sua vida?
Claro, tal fato, prisão sem motivo explícito, confinamento em outra cidade e, por fim, o exílio não poderia deixar de marcar psicologicamente uma pessoa. Eu, em particular, não estava preparado para nada parecido. Vivi muito mal dois meses na prisão, quatro meses na prisão em Salvador e dois anos e meio no exílio. Eu tinha planos que abandonei e nunca poderia recuperar.
– A música sempre esteve presente na sua vida. Como foi um porto seguro durante esse período?
Um dos meus planos era parar de trabalhar profissionalmente com música. Ou pelo menos exclusivamente ou mesmo prioridade. Eu queria fazer filmes e me imaginei dirigindo pelo Brasil em uma van. A música estaria presente: nunca parei de ouvir músicas e me interessei por elas. Se eu fizesse filmes, faria música para suas trilhas sonoras. Ou eu escolheria coisas que têm muito valor musical para mim. Na prisão não me deixavam ter violão (ao contrário do Gil, que podia ter porque, por regra bem brasileira, quem tem diploma universitário tem privilégios), mas escrevi “Irene”, sem violão sem nada – e Gil depois ele o acompanhou com acordes que poderiam ter lhe rendido uma associação na composição. Enquanto eu estava na solitária do PE da Tijuca, um preso político da cela ao lado me pediu para cantar. E eu cantei. Com medo.
– Algum dos documentos que aparecem no filme foi acessado pela primeira vez nas gravações? Como foi reviver aquele momento?
Até pouco antes de Paulinha decidir fazer o filme, eu não sabia de nada oficial sobre a prisão, os interrogatórios, nada. Uma amiga de Clara Flacksman, minha nora, casada com meu filho Moreno, deu a ela, para me mostrar, as páginas relacionadas a todo o processo. Isso, aliás, estimulou a ideia de fazer o documentário. Eu li algo antes de filmar, mas não li tudo. Renato e Ricardo escolheram trechos relevantes e me deram para ler na hora. Algumas coisas pareciam engraçadas, muitas perguntas cruas. Outros me levaram a memórias que me emocionaram. As fotos da Terra vistas do espaço sideral acabaram me levando a um ponto que tive que pedir para parar de filmar.
– São muito íntimos e cheios de detalhes. Qual foi a coisa mais difícil de lembrar?
O que não me lembro: o nome do sargento baiano que correu o risco de achar um jeito de eu ficar a sós com a Dedé, que era minha esposa, na cela. Lembrar do rosto dele, do jeito que falava, da situação que até lhe rendeu uma prisão disciplinar, mas não ficou com o nome, me fez chorar.
– Você esperava tanto interesse pelo filme?
Não sei. Fiquei surpreso quando Renato e Ricardo vieram dizer que o filme seria reduzido à minha entrevista, às outras coisas que seriam filmadas (Gil? De Dedé? Algum militar? Local em SP, Rio, Salvador?). lado. João Moreira Salles – em quem os diretores Paulinha e eu confiamos – aconselhou que ficasse apenas o material filmado com o meu discurso. Tive medo de não conseguir me ver o tempo todo na tela (em geral não gosto), mas vendo o ritmo que a entrevista estava ganhando com a edição fiquei convencido. Então eu vi reações entusiasmadas dos poucos amigos que eles viram. Por fim, o Festival de Cinema de Veneza convidou o filme a ser exibido fora de competição.
– Qual o legado desse filme para o Brasil e para a História?
É um documento honesto e meticuloso sobre um caso envolvendo o drama da construção brasileira em um detalhamento conflituoso entre arte de massa e política no país.
Veja também o podcast Fale com Bial: