Grandes escritórios de advocacia brasileiros estão reforçando sua expertise tributária para ajudar os clientes, à medida que funcionários do governo buscam mais receita na maior economia da América Latina.
O BMA-Barbosa Mussnich & Aragão Advogados contratou o sócio do escritório Big Four EY, Fabio Florentino, que terá como foco os impostos indiretos e alfandegários. Também em São Paulo, o Demarest Advogados contratou o ex-juiz tributário do estado, Maurício Barros, como sócio tributário.
“O fato é que a tributação no Brasil é complexa e nossa prática está muito ocupada com as crescentes demandas de nossos clientes, tanto no contencioso quanto no trabalho transacional”, disse Paulo Coelho da Rocha, sócio-gerente da Demarest, à Law.com International.
Com a contratação de Barros, o Demarest passou a ter 66 sócios. Barros descreveu sua decisão de ingressar em um grande escritório de advocacia full-service como um passo estratégico em sua carreira que lhe permitirá trabalhar em transações internacionais.
Os desafios econômicos trazidos pela pandemia COVID-19 levaram a esforços de cobrança de impostos mais agressivos na América Latina.
No Brasil, os legisladores discutem atualmente uma proposta de reforma tributária que os advogados alertam que pode aumentar a carga tributária sobre as empresas.
Ao mesmo tempo, as incertezas da pandemia levaram a um aumento no contencioso tributário. As empresas se reinventaram por meio de novas tecnologias e ferramentas digitais, o que também levanta questões tributárias. E o trabalho de M&A que normalmente requer suporte prático de planejamento tributário é rápido.
Tudo isso significa mais trabalho para os advogados tributários brasileiros.
“Embora poucas mudanças tenham sido feitas na legislação tributária durante a pandemia para criar novos impostos, as autoridades fiscais federais e estaduais têm sido muito ativas na auditoria e cobrança de impostos de empresas e pessoas físicas”, disse Ligia Regini, que é parceira tributária. Há quase duas décadas na BMA.
A contratação de Florentino no BMA foi resultado da deserção de uma equipe tributária de cinco advogados, que se mudou para o rival Lefosse Advogados.
Florentino possui mais de 20 anos de experiência na área tributária, realizando projetos como planejamento tributário e auditorias relacionadas a questões de compliance. Ele tem sido particularmente ativo em disputas fiscais. Com Florentino a bordo, o BMA passa a ter 78 sócios.
O BMA disse que as questões fiscais representam cerca de 20% da receita anual da empresa.
O sistema tributário brasileiro é notoriamente complexo e amargo.
Os brasileiros gastam, em média, 1.501 horas por ano tentando cumprir as obrigações fiscais. Isso se traduz na pior eficiência fiscal entre 189 países pesquisados pela PwC, que classifica a experiência fiscal geral no Brasil apenas ligeiramente melhor do que na Venezuela devastada pela crise.
O Brasil depende fortemente de impostos especiais de consumo para aumentar a receita, e as autoridades federais, estaduais e municipais competem para arrecadar sua parte. O resultado é uma teia de regulamentações tributárias contraditórias, bem como “guerras tributárias” entre diferentes localidades que buscam atrair investimentos.
Florentino alerta que “sem uma gestão criteriosa”, o contribuinte no Brasil arrisca avaliações e severas penalidades financeiras.