Eleições no Brasil: acusações e desinformação na campanha eleitoral

  • Por Jake Horton e Juliana Gragnani
  • Reality Check da BBC e Equipe de Desinformação do Serviço Mundial

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Alegações sobre corrupção, covid, desmatamento e até canibalismo chamaram a atenção na preparação para a eleição presidencial do Brasil.

Luiz Inácio Lula da Silva derrotou o atual presidente Jair Bolsonaro em um segundo turno no domingo e assumirá o cargo em 1º de janeiro.

Durante a campanha analisamos algumas das principais linhas de ataque de ambos os candidatos.

Calúnias de satanismo e canibalismo

Bolsonaro e Lula, ambos católicos, buscaram apoio entre os eleitores cristãos evangélicos, que representam quase um terço da população do Brasil.

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Presidente Bolsonaro e sua esposa orando com líderes evangélicos durante a campanha

No entanto, suas estratégias estavam repletas de desinformação religiosa.

Exemplo disso é um vídeo compartilhado por dois filhos de Bolsonaro e outros políticos, no qual um influenciador social que se descreve como satanista declara seu apoio a Lula.

O vídeo se tornou viral, junto com mensagens dizendo que o Brasil estaria em “risco espiritual” se Lula fosse eleito, apesar do influenciador não ser parente do ex-presidente ou influenciar suas políticas.

A equipe de campanha de Lula divulgou nota rejeitando qualquer envolvimento com culto ao diabo, e o vídeo foi banido pelo Tribunal Eleitoral, órgão que fiscaliza a votação.

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Lula em evento com frades franciscanos em São Paulo durante a campanha

Enquanto isso, a equipe de campanha de Lula destacou uma entrevista de 2016 no New York Times com Bolsonaro em que diz que visitou uma comunidade indígena no Brasil que supostamente estava cozinhando um morto, e que ele havia pedido para ver.

Para o ver, recorda na entrevista, disseram-lhe que teria de se juntar à refeição. “Eu comeria”, disse ele. “Eu não teria nenhum problema em comer o indígena.” Mas ele acrescentou que sua comitiva não queria ir, então ele também não.

A campanha de Lula produziu um vídeo da entrevista de 2016, dizendo: “É monstruoso. Bolsonaro revela que comeria carne humana.”

Bolsonaro reclamou ao Tribunal Eleitoral, que posteriormente proibiu o vídeo da campanha de Lula, dizendo que havia retratado a entrevista fora de contexto.

Líderes do povo Yanomami, grupo indígena ao qual Bolsonaro se referia, rejeitam sua afirmação, dizendo que não praticam canibalismo.

Protegendo a Floresta Amazônica

A floresta tropical desempenha um papel vital na absorção de dióxido de carbono prejudicial que, de outra forma, escaparia para a atmosfera, e cerca de 60% da Amazônia está localizada no Brasil.

Tanto Bolsonaro quanto Lula afirmam ter um histórico melhor para protegê-lo.

Durante um debate presidencial ao vivo em outubro, Lula disse: “Em nosso governo, [we had] o menor desmatamento da Amazônia, e na sua é o maior a cada ano”.

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A taxa de desmatamento na Amazônia aumentou nos últimos anos

Bolsonaro respondeu: “Pesquise no Google ‘desmatamento de 2003 a 2006’, nos quatro anos do governo Lula. Depois procure por ‘desmatamento de 2019 a 2022’”.

“Durante o governo dele, o desmatamento dobrou do que o meu”, acrescentou.

Mas depois dos dois primeiros anos de mandato de Lula, a taxa de desmatamento caiu significativamente e, quando ele deixou o cargo em janeiro de 2011, havia atingido níveis recordes.

Sob Bolsonaro, a taxa de desmatamento aumentou a cada ano, continuando uma tendência que começou alguns anos antes de ele assumir o cargo em janeiro de 2019.

Ele implementou políticas que, segundo os críticos, anulam salvaguardas cruciais, e os processos contra a extração ilegal de madeira diminuíram durante seu mandato.

Acusações de corrupção

A corrupção foi um tema central na campanha.

O próprio Lula foi considerado culpado de participação e em 2017 foi preso. Sua condenação foi anulada no ano passado, permitindo-lhe concorrer nesta eleição.

Por sua vez, Lula apontou o dedo para Bolsonaro por permitir a corrupção e o acusou de perder o controle das finanças do país. Com isso, ele se refere a um “orçamento secreto” incluído na lei orçamentária aprovada em 2019, que permite que os legisladores federais gastem fundos públicos com supervisão limitada.

fonte de imagem, Waldemir Barreto/Agência Senado

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O Congresso agora controla vastas somas de dinheiro público por meio de emendas não transparentes

Bolsonaro nega ter aprovado o esquema. “Eu vetei e [Congress] anulou o veto”, disse ele durante um debate em 16 de outubro.

Isso não é verdade. Inicialmente, em novembro de 2019, Bolsonaro vetou o novo mecanismo incluído no orçamento. Um mês depois, porém, a própria Presidência enviou ao Congresso um novo projeto de lei, incluindo o mecanismo “secreto” dentro dele, e foi aprovado.

“É uma institucionalização da corrupção, uma forma de comprar o Congresso com o orçamento do país”, diz Bruno Brandão, diretor-executivo da divisão nacional brasileira da Transparência Internacional.

Ele observa que as investigações da imprensa e da polícia mostraram que existem esquemas de fraude generalizados envolvidos na aplicação desses fundos públicos.

combater o covid

Lula criticou fortemente os esforços de Bolsonaro para controlar a pandemia.

Durante a campanha, ele destacou o número de mortes no país, dizendo: “O Brasil tem 3% da população mundial, e o Brasil teve 11% das mortes por pandemia no mundo”.

Esse é o segundo maior número oficial de mortes no mundo, depois dos Estados Unidos.

Ele também tem uma das maiores taxas de mortalidade global registradas como proporção de sua população, embora não tão alta quanto o vizinho Peru.

Mas os números oficiais podem não refletir totalmente o número real de mortos em muitos países, pois as evidências nem sempre estão disponíveis.

Lula também questionou o tempo que levou para implementar as vacinas contra a covid.

Defendendo o histórico de seu governo, o presidente Bolsonaro disse: “Compramos mais de 500 milhões de doses de vacina… e o Brasil é um dos países mais vacinados do mundo e no menor tempo”.

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O presidente Bolsonaro continuou a realizar comícios com apoiadores durante a pandemia

Isso fez com que a entrega da vacina fosse atrasada, com o lançamento no Brasil inicialmente ficando atrás de muitos outros países da América Latina e do mundo.

Gráficos produzidos por Sarah Habershon.

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