Tim Vickerycorrespondente na América do Sul5 minutos de leitura
Nenhum país jamais ganhou o Taça Libertadores, Liga dos Campeões Sul-Americana, cinco vezes seguidas. No entanto, há uma grande chance de que essa estatística não se aplique mais em breve. O Brasil tem um domínio firme do jogo de clubes no continente.
Não é só que as equipes brasileiras saíram vitoriosas em cada um dos últimos quatro anos. As últimas três finais foram exclusivamente brasileiras e, com seis equipes nas oitavas de final, a quinta vitória consecutiva vai demorar.
O empate de quarta-feira pelas oitavas de final conseguiu separar a maioria dos brasileiros. Quatro estão no meio do sorteio, mas nenhum se encontrará nesta fase. O atual campeão Flamengo é o grande favorito para vencer o Olimpia do Paraguai: eles venceram por 9 a 2 no total quando os times se enfrentaram há dois anos.
O Fluminense, comandado pelo técnico substituto do Brasil, Fernando Diniz, é o favorito para vencer o Argentinos Juniors. O Athletico Paranaense terá que superar o medo da altitude extrema de La Paz, mas ao longo de dois jogos espera vencer o Bolívar. O Internacional contra o River Plate está bem equilibrado, com os gigantes de Buenos Aires talvez o time não brasileiro mais forte em campo, embora as deficiências defensivas sejam motivo de preocupação.
As outras duas seleções brasileiras estão na outra metade do sorteio e se enfrentarão pela terceira temporada consecutiva. Nas duas ocasiões anteriores, o Palmeiras venceu o Atlético Mineiro por mínimas: gols fora de casa, que não valem mais, e depois nos pênaltis. Quem sair desse confronto de titãs brasileiros será o favorito para eliminar os adversários naquela metade do grupo e chegar à final.
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Um do Palmeiras ou do Atlético Mineiro enfrentará os vencedores do confronto entre o perigoso Independiente del Valle, do Equador, e o Deportivo Pereira, estreante da Colômbia. Os adversários da semifinal desse lado do sorteio virão de Nacional do Uruguai, Boca Juniors e Racing da Argentina e Atlético Nacional da Colômbia.
Um quinto triunfo brasileiro consecutivo na Libertadores simplesmente deixaria claro o óbvio: que a diferença entre os clubes brasileiros e o resto da América do Sul é grande e crescente. Isso leva a uma pergunta: o campeonato brasileiro pode ser considerado a Premier League do seu continente?
Em um aspecto, certamente pode. Assim como os clubes ingleses usam sua força financeira extra para contratar talentos das ligas ao seu redor, o Brasil está saqueando os outros campeonatos sul-americanos. Esse processo pode ter ocorrido tardiamente, mas como único lusófono em um continente dominado pela Espanha, o Brasil viveu uma espécie de isolamento cultural e futebolístico. Hoje, porém, os grandes clubes brasileiros estão muito mais atentos ao que está acontecendo nos países vizinhos.
Grandes nomes com reputação construída na Europa como Luis Suárez e (com resultados decepcionantes) Arturo Vidal estão no Brasil. Algumas das estrelas da liga, como o uruguaio Giorgian de Arrascaeta, do Flamengo, e a dupla do Fluminense, o colombiano Jhon Arias, e o argentino German Cano, foram comprados de países sul-americanos e, cada vez mais, os clubes brasileiros estão identificando e contratando jovens de nações vizinhas e desenvolvê-los no Brasil, assim como os clubes da Premier League fazem com seus rivais nos países europeus vizinhos. Tudo isso acaba fortalecendo o campeonato brasileiro e enfraquecendo os demais, aumentando ainda mais a diferença.
Por outro lado, os clubes brasileiros ainda não têm o controle de sua própria competição. Na Inglaterra, a Premier League era uma organização dissidente criada para administrar os negócios dos clubes. O Brasil ainda não chegou lá, pois a federação local continua a organizar a competição. Há muitos movimentos em andamento para iniciar uma liga, mas há problemas e desentendimentos ao longo do caminho. No momento, a questão crucial do calendário, um problema enorme no Brasil, nem está sendo abordada. Foi deixado de lado para ser debatido quando questões como a distribuição do dinheiro da televisão forem resolvidas.
No entanto, mesmo uma estrutura brasileira totalmente profissional e maravilhosamente organizada enfrentaria um problema que a Premier League não enfrenta: a falta de adversários.
A dinâmica da competição ajuda a Premier League a ser honesta, em termos desportivos. Um jogador que ingressa em um dos grandes clubes ingleses sabe que não só será testado contra rivais domésticos, mas também enfrentará a competição continental de nomes como Real Madrid, Bayern de Munique, Paris Saint-Germain, o Internacional, etc. Existe um grande e vasto continente europeu, cheio de rivais com muitos recursos próprios.
Isso não se aplica, não pode e não se aplicará da mesma forma na América do Sul. É verdade que o River Plate respondeu aumentando o tamanho de seu estádio, que agora tem a maior capacidade do continente. O Boca Juniors pode ter que seguir o mesmo caminho e construir um novo estádio gigante. Mas mesmo com essas equipes enormes, o poder e o tamanho da economia brasileira fazem a diferença. Para o resto do continente, é cada vez mais difícil ver como podem competir com os brasileiros.
Talvez, então, o Brasil tenha que criar seus próprios rivais, um processo que certamente será acelerado pelo fato de que os investidores podem agora assumir o controle dos clubes de lá. A direção óbvia é a da expansão pan-americana.
Isso já está sendo planejado, com um novo torneio (com os finalistas da Libertadores e da Liga dos Campeões da Concacaf) programado para começar no ano que vem. A transferência de Lionel Messi para o Inter Miami CF certamente adicionará urgência a este processo. Os homens e mulheres de dinheiro por trás dos clubes brasileiros seriam tolos se não pensassem em uma maneira de colocar seu time em ação competitiva contra Messi e seus novos colegas.
Tudo aponta para uma conclusão fascinante: daqui a pouco, dominar a Copa Libertadores não será suficiente para quem mexe os pauzinhos no Brasil. Eles vão mirar mais alto, até o norte.