Direitos territoriais indígenas ajudam a proteger as florestas do Brasil – Mundo

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Direitos indígenas à terra ajudam a proteger as florestas do Brasil





Paris (AFP) – Territórios na fragmentada Mata Atlântica do Brasil, onde os povos indígenas desfrutam de direitos garantidos à terra, sofreram consideravelmente menos desmatamento do que áreas semelhantes onde a posse da terra é fraca ou inexistente, relataram pesquisadores na quinta-feira.

As descobertas, publicadas na revista PNAS Nexus, são as primeiras a quantificar os benefícios da melhoria dos direitos indígenas à terra para as florestas tropicais do Brasil e se somam a um crescente corpo de literatura revisada por pares que destaca de forma mais ampla as vantagens da administração indígena.

“Mesmo em áreas altamente desenvolvidas e fortemente desmatadas, a concessão de posse de terra aos povos indígenas melhorou significativamente os resultados florestais”, incluindo menos perda de árvores e mais reflorestamento, principal autora Rayna Benzeev, pesquisadora da Universidade de Colorado Boulder.

“Todos os anos após a formalização da posse, houve, em média, um aumento de 0,77% na cobertura florestal em comparação com as terras sem posse”, acrescentou.

“Isso pode se acumular ao longo de décadas.”

A Mata Atlântica, a segunda maior floresta tropical do Brasil depois da Amazônia, estendendo-se ao longo de 3.000 quilômetros (1.860 milhas) de costa, foi dizimada por séculos de urbanização, agricultura, extração de madeira e mineração. É o lar de 70 por cento da população do país, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro.

Apenas 12% da área original da floresta permanece intacta, em comparação com 80% da Amazônia.

Benzeev e seus colegas analisaram dados sobre mudanças na cobertura florestal e posse da terra em 129 territórios indígenas na Mata Atlântica entre 1985 e 2019.

Eles compararam a perda de árvores e o reflorestamento nos territórios antes e depois da concessão dos direitos à terra, bem como entre territórios com diferentes graus de posse da terra.

“As terras indígenas com posse mostraram uma redução no desmatamento e um aumento no reflorestamento em comparação com terras sem direitos legais garantidos”, disse Benzeev, escrevendo da Mata Atlântica do Brasil, onde compartilha suas descobertas com líderes indígenas.

Jera Poty Mirim, liderança Guarani da Terra Indígena Tenonde Pora, disse que o estudo confirmou o que os indígenas já sabiam.

“Mesmo antes de chegar à etapa final para obter o reconhecimento dos direitos sólidos sobre nossas terras, nosso povo começou a cuidar de nossas florestas e cultivar os alimentos tradicionais dos Guarani”, disse ele a repórteres esta semana.

Um desafio contínuo
“Mas onde quer que as comunidades tenham direitos garantidos, podemos proteger melhor nossas florestas e convidar parceiros para apoiar nosso trabalho de reflorestar terras destruídas por outros.”

No papel, o Brasil oferece fortes proteções legais para os direitos indígenas. Mas, na realidade, a aplicação negligente, juntamente com a corrupção, alimentou o desmatamento e a expropriação ilegal.

Na Mata Atlântica, a invasão por grileiros, posseiros e indústrias extrativas, seja de mineração ou extração de madeira, “continua sendo um desafio constante para os defensores da terra”, observaram os autores do relatório.

Essas pressões aumentaram durante a administração do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que renunciou em 1º de janeiro.

O novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu reverter essas tendências e estabeleceu uma meta de 2030 para atingir o desmatamento zero.
“Titular as terras dos povos indígenas é crucial se quisermos garantir o fim do desmatamento e preservar o equilíbrio do clima global”, disse Paulo Moutinho, cientista sênior do Instituto Brasileiro de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e bolsista do Woodwell Climate Research Center. disse à AFP, comentando o estudo.

As apostas para proteger a Bacia Amazônica, o maior bioma tropical do mundo, são locais e globais.

As mudanças climáticas, juntamente com a destruição da floresta, estão empurrando a Bacia Amazônica para um “ponto de inflexão”, onde passará de uma floresta tropical para um estado de savana.

De 2000 a 2020, o Brasil experimentou uma perda líquida de mais de 20 milhões de hectares de floresta, ou cerca de 6% da cobertura florestal total, de acordo com o Global Forest Watch.

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