BRASÍLIA, 1 Dez (Reuters) – O crescimento econômico do Brasil desacelerou mais do que o esperado no terceiro trimestre, uma vez que as taxas de juros mais altas afetaram os gastos das famílias, ressaltando os desafios enfrentados pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no próximo ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) subiu 0,4% nos três meses até setembro, informou o IBGE nesta quinta-feira, abaixo da previsão de crescimento de 0,7% de economistas consultados pela Reuters.
O Banco Central do Brasil elevou os custos dos empréstimos para o maior nível em quase seis anos para combater a inflação de dois dígitos neste ano, que começou a pesar sobre a demanda doméstica.
Economistas alertam que se Lula desencadear novos gastos do governo, o banco central pode não cortar os juros como esperado.
“O balanço de riscos para 2023 é negativo, principalmente devido à política e à deterioração das perspectivas fiscais, que podem manter as taxas de juros altas por mais tempo”, escreveu o economista Andrés Abadía, da Pantheon Macroeconomics, em nota.
O consumo das famílias aumentou apenas 1%, ante 2,1% no segundo trimestre, enquanto o investimento fixo aumentou 2,8% e uma explosão de gastos no ano eleitoral elevou os gastos do governo em 1,3%.
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Pelo lado da produção, a produção agrícola caiu 0,9% no trimestre devido ao atraso na safra de cana-de-açúcar, enquanto a produção industrial avançou 0,8% e o setor dominante de serviços avançou 1,1%
Este foi o quinto trimestre consecutivo de expansão, colocando a atividade na maior economia da América Latina 4,5% acima do nível pré-pandemia no quarto trimestre de 2019.
“A mensagem clara dos números de hoje é que a economia está perdendo impulso”, disse William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, prevendo um quarto trimestre ainda mais fraco devido à piora das perspectivas globais e às altas taxas de juros.
“Mantemos nossa visão de que, embora a economia cresça 3% este ano, ela crescerá pouco mais de 1% em 2023”, escreveu ele em nota aos clientes.
O governo do presidente cessante, Jair Bolsonaro, espera que o PIB cresça 2,7% neste ano e 2,1% em 2023.
O presidente eleito Lula, que tomará posse em 1º de janeiro, está pressionando para excluir um importante programa de assistência social do teto constitucional de gastos do Brasil, abrindo espaço para mais gastos públicos para cumprir suas promessas de campanha.
Como Lula ainda não propôs regras fiscais alternativas para conter a dívida pública, seu impulso para aumentar os gastos lançou dúvidas sobre a política monetária e elevou a curva de juros do Brasil, implicando custos de financiamento mais altos para a pesada conta dos juros do governo.
O banco central interrompeu seu ciclo de aperto em setembro, após 12 altas consecutivas que elevaram a taxa básica de juros para 13,75%, de uma baixa recorde de 2% em março de 2021.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a incerteza fiscal pode forçar os políticos a adotar uma abordagem mais restritiva.
O PIB do Brasil cresceu 3,6% em relação ao terceiro trimestre de 2021, informou o IBGE nesta quinta-feira, ligeiramente abaixo da alta de 3,7% prevista por economistas consultados pela Reuters.
O IBGE também revisou o crescimento do segundo trimestre para 1% em relação ao trimestre anterior, ante 1,2% divulgado anteriormente, enquanto revisou o crescimento do primeiro trimestre para 1,3%, de 1,1% antes.
Reportagem de Marcela Ayres; Editado por Steven Grattan, Brad Haynes e Arun Koyyur
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