As extensas florestas de babaçu do Maranhão abrigam uma flora deslumbrante, mas também a tradicional comunidade de coletores de babaçu. Este grupo local predominantemente feminino que vive no norte do Brasil tem trabalhado em seu ambiente distinto de floresta tropical úmida de folhas largas há décadas, suas vidas diárias e economia fortemente ligadas à planta dominante da região, a palmeira de babaçu. Seu produto, uma fruta semelhante ao coco, pode ser aberto para revelar sementes que podem ser prensadas em óleo, cujas propriedades o tornam popular nas indústrias de beleza, médica e alimentícia. É aqui que o Flume Studio de São Paulo acaba de concluir seu mais novo projeto, o Centro de Referência para Esmagadores de Coco Babaçu, para esta mesma comunidade.
Um centro de colheitadeiras de babaçu por Estudio Flume
‘[Babassu oil] é o sustento de grande parte da população rural, sendo extraído quase exclusivamente por mulheres: as catadoras de coco”, contam os arquitetos Noelia Monteiro e Christian Teshirogi, que lideraram o projeto. ‘Estima-se que existam mais de 300 mil colhedores de babaçu espalhados pelas regiões da Mata dos Cocais. Eles são oficialmente reconhecidos como uma das 28 comunidades tradicionais brasileiras.
No entanto, o reconhecimento e a garantia por lei, pelo menos em alguns municípios, do acesso à terra para a colheita do coco são constantemente reprimidos pelos proprietários, seja bloqueando o acesso ou derrubando palmeiras para fazer pasto. A busca pela sobrevivência dos catadores se baseia em estratégias como agrupar as mulheres por meio de associações, fortalecer sua representação perante as instituições e dignificar seu trabalho ao tentar agregar valor ao produto por meio de aplicações alternativas.’
O projeto foi pensado para isso. Localizada em um povoado a cerca de 35 km do município de Vitória do Mearim, a estrutura é bastante simples, utilizando blocos de terra, composta por solo argiloso, água e uma pequena proporção de cimento. Estes foram compactados manualmente com uma prensa mecânica no local, trabalhando com as limitadas possibilidades de construção nesta área rural de difícil acesso do país. A função do edifício é fornecer um centro físico, um espaço para as mulheres se encontrarem e trabalharem, protegido das intempéries, mas permanecendo aberto o suficiente para se alinhar com as tradições e formas de trabalho da comunidade. Uma série de workshops coletivos no local permitiu que a equipe do Estudio Flume afinasse as necessidades dos usuários e afinasse seu design para melhor atender ao seu propósito.
O resultado é uma série de pátios, alguns totalmente ao ar livre e outros cobertos, que funcionam como um ponto focal para a comunidade. “Considerando que as mais de 40 mulheres que fazem parte do grupo de quebradeiras são mães e avós, o local de trabalho também se torna um local de encontro, mobilização social e lazer para suas famílias e vizinhos”, ressaltam as arquitetas.
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