O cicloturismo como motor do desenvolvimento sustentável do meio rural e da conservação da natureza, escreve Marcos Bosquetti.
Andar de bicicleta é uma forma de transporte ativo, esporte, condicionamento físico e recreação. A bicicleta é inicialmente concebida como um motor de mobilidade sustentável e especialmente para o ambiente urbano, mas também pode desempenhar um papel importante como catalisador de atividades de turismo sustentável em áreas protegidas e rurais.
Para além dos óbvios benefícios do ciclismo para a saúde e o bem-estar, o ritmo contemplativo do ciclismo permite aos ciclistas desfrutar tanto da viagem como do destino, e promove uma ligação mais profunda ao território e à comunidade local.
Para o ciclista, a bicicleta é um meio de transporte, um motivo para viajar e uma forma de fazer turismo. O envolvimento neste modo de transporte ativo torna-se uma parte importante da experiência turística e uma alternativa ao modelo de turismo dominante.
O cicloturismo está alinhado com a filosofia do turismo lento, que se caracteriza por distâncias mais curtas entre os destinos, menor impacto ambiental e maior ênfase na qualidade do que na quantidade de visitas turísticas. Devido a estas características, o cicloturismo é considerado uma expressão de Turismo sustentável.
Escolher a bicicleta em detrimento de outros meios de transporte para as férias é uma decisão que pode ter muitos impactos positivos na natureza e na economia local nas zonas rurais. E à medida que os ciclistas se afastam dos destinos tradicionais de turismo de massa, esses benefícios econômicos podem fortalecer as áreas rurais, constituindo também um incentivo para cuidar das áreas protegidas, já que são pontos de interesse para muitos. turistas de bicicleta.
As ciclovias Acolhida na Colônia e Rota da Baleia Franca são duas iniciativas ascendentes para desenvolver o ciclismo no estado de Santa Catarina, no sul do Brasil. Essas duas histórias de sucesso são apresentadas a seguir para ilustrar o ponto aqui abordado.
A Acolhida na Colônia é uma rota de cicloturismo criada em 2006 pela Agreco, associação local de agricultores familiares de Santa Rosa de Lima em associação com a Caminhos do Sertão, agência de cicloturismo localizada em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Santa Rosa de Lima é considerada a Terra da Agroecologia e pioneira no agroturismo no sul do Brasil.
A ciclovia de 145 km conecta os pontos de agroturismo e também inclui cachoeiras, córregos, cavernas, florestas, mirantes de observação de pássaros, casas de farinha, alambiques e casas coloniais. Esta rota de cicloturismo oferece aos visitantes um ritmo contemplativo para pedalar e uma interação mais profunda com seus anfitriões, eles próprios agricultores familiares locais. Ele Acolhida da Colonia O modelo de negócio que integra agroturismo com cicloturismo já foi replicado em outras duas regiões do Brasil.
A Rota da Baleia Franca é uma ciclovia de 172 km ao longo do litoral sul de Santa Catarina. Foi idealizado em 2007 pela Caminhos do Sertão e implantado em parceria com a comunidade local e o órgão governamental de preservação da natureza (ICMBio). Esta ciclovia está inserida numa área protegida também denominada Baleia Franca, local de reprodução natural da baleia franca austral (Eubalaena australis), que se encontra em perigo de extinção.
A Baleia Franca Austral reproduz-se na costa brasileira e permanece por longos períodos muito perto das ondas, perto da praia e das costas, podendo ser observada durante os meses de junho a novembro ao longo desta área protegida, que é um território de exuberante beleza formada por enseadas, campos de dunas, complexos lagunares, ilhotas, morros e pela rica biodiversidade da Mata Atlântica.
A ciclovia Rota da Baleia Franca inclui o acesso a todos os miradouros para observação terrestre de cetáceos, o que tem a enorme vantagem de ter pouco impacto nas baleias e nas suas crias, face ao turismo de observação de cetáceos a partir de barcos. A iniciativa pioneira de cicloturismo em áreas protegidas do Brasil conquistou o Selo ICMBio de Boas Práticas 2021 em Turismo sustentável.
Os dois percursos cicláveis duram de quatro a cinco dias cada, percorridos em ritmo contemplativo. Permitem o acesso aos recursos naturais e culturais dos territórios, geralmente negligenciados pelo turismo tradicional. Eles também ajudam a reduzir o tráfego de veículos em suas áreas e aumentar a permanência dos visitantes, o que proporciona maior interação com a comunidade local e um maior aumento no consumo de seus serviços e produtos, diferentemente dos turistas em veículos, que costumam percorrer essa distância em apenas um dia.
As iniciativas de desenvolvimento do cicloturismo aqui apresentadas têm ajudado as zonas rurais a rentabilizar o seu capital territorial e têm contribuído para a melhoria do ambiente, tanto para os ciclistas como para a comunidade local.
Cabe destacar que, em 2018, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o dia 3 de junho como Dia Mundial da Bicicletareconhecendo que o ciclismo está diretamente relacionado a 11 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que são 1, 2, 3, 5, 7, 8, 9, 11, 12, 13 e 17.
passeio de bicicleta foi criada em 2022 para estudar o fenômeno da revolução ciclística pós-pandemia, promover a defesa do ciclismo e contribuir para o desenvolvimento do cicloturismo em áreas urbanas, naturais e rurais no Brasil.
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Sobre o autor
Marcos Bosquetti, Ph.D. É professor da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, Brasil, e coordena o Grupo de Pesquisa em Cicloturismo (BikeTour).