Na mesma semana em que a NASA completará sua primeira missão espacial tripulada em nove anos, o Brasil deu o primeiro passo para transformar o Centro Espacial Alcântara (CEA), no Maranhão, em uma plataforma de lançamento para veículos espaciais.
Depois de começar a receber propostas de empresas interessadas em lançamentos orbitais e suborbitais, a Agência Espacial Brasileira (AEB) anunciou nesta segunda-feira (25) que já tem “uma dúzia de possíveis candidatos para operar em Alcântara” e já prevê partidas até 2021.
Alcântara é uma base de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira, que acordo no início de maio para a AEB negociar com empresas que desejam disparar seus foguetes a partir daí.
A localização do CEA possui características que o privilegiam:
- É 2º18 ‘ao sul do equador;
- Fica perto do mar, permitindo o lançamento em órbitas polares e equatoriais;
- Possui baixa densidade demográfica e de tráfego aéreo;
- Não há terremotos ou furacões.
Para se ter uma idéia de quão cruciais são alguns desses fatores, o mau tempo em Cape Canaveral, na Flórida, forçou a NASA a adiar na quarta-feira (27) a primeira missão desde 2011 a trazer astronautas americanos para o espaço a partir de solo americano. O Brasil quer fazer de Alcântara a “janela de acesso ao espaço no hemisfério sul”.
O entendimento de que os principais centros de lançamento estão no hemisfério norte. O Brasil tem um vizinho muito competitivo, que é o Porto Espacial Kourou, na Guiana Francesa, a cinco graus de latitude norte. No hemisfério sul, não temos nada parecido, e a localização de Alcântara em comparação com outras é uma das melhores ou da melhor posição geográfica
AEB
O acordo entre a FAB e a AEB foi o último capítulo da preparação para o Brasil de lançar seu projeto espacial. Antes disso, o Senado aprovou em novembro de 2019 um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas pelo uso da base espacial de Alcântara, que permite o uso comercial do site.
Isso abriu o caminho para o Brasil explorar um mercado espacial que movimenta cerca de US $ 350 bilhões (R $ 1,5 trilhão) por ano. A AEB espera que esse bolo cresça e alcance US $ 1 trilhão (R $ 4,4 trilhões) em 2040. A partir deste ano, o Brasil espera, em um cenário conservador, enganchar pelo menos 1% desse negócio, algo como US $ 10 bilhões (R $ 44 bilhões).
Antes da assinatura dos dois acordos, as empresas já haviam se aproximado do Brasil. Com a chamada pública desta semana, as propostas começaram a tomar forma, diz a AEB.
“Atualmente, existem cerca de 100 empresas no mundo, entre pequenas e grandes, com foco em pequenos lançadores. Atualmente há uma dúzia de candidatos em potencial para operar em Alcântara”, diz a agência.
Como pode ser o uso?
A idéia é que os primeiros lançamentos sejam realizados na área da CEA, que já possui infraestrutura e não precisa de obras para adaptação. Atualmente, a base está pronta para lançar pequenos satélites, pesando até 200 quilos, para órbitas baixas a médias, a cerca de 600 km de altitude.
O centro já possui radares, dispositivos meteorológicos e outras tecnologias para esse tipo de missão. As apostas AEB que começarem com essas configurações serão feitas a partir de 2021.
Outra possibilidade viável, que já foi estudada em 2019, é o lançamento a partir de plataformas aéreas. Ou seja, aviões que carregam foguetes. Essas decolagens receberiam apoio do aeroporto de Alcântara.
A idéia é tornar Alcântara um centro sólido para pequenos lançadores antes de permitir foguetes maiores. Esse tipo de operação requer ajustes na infraestrutura, mas, segundo a AEB, há espaço físico para isso.
Nos arredores Quilombola
Apesar do otimismo da AEB em relação a Alcântara, há questões abertas e críticas para o projeto. Um ponto ainda não resolvido é o disputa com os habitantes da maior área de quilombola de Alcântara, que teve seu processo de titulação interrompido por 11 anos.
A comunidade local é contra a idéia de expandir o centro espacial, pois pode resultar na remoção de moradores do local. Para a AEB, não há previsões de expansão, pois a área utilizada pela CEA já permite o lançamento de pequenos satélites.
Em abril do ano passado, Quilombolas apresentou uma queixa formal na OIT (Organização Internacional do Trabalho) contra o Estado brasileiro por violações de planos de expansão da base.