Tim Vickerycorrespondente na América do Sul4 minutos de leitura
Ainda não há episódio final da grande novela brasileira, intitulada “Quem será o próximo técnico da seleção?”
Isso significa, como especulam alguns meios de comunicação brasileiros, que o Brasil esperará até meados de 2024 por seu homem? Rodrigues não parece negar. Até lá, o Brasil disputará seis rodadas das Eliminatórias da Copa do Mundo, amistosos de alto nível contra rivais europeus em março próximo e terá se preparado para a Copa América, nos Estados Unidos. Além, é claro, dos dois amistosos da Fifa neste mês. Eles podem realmente deixar um chefe interino encarregado de tudo isso?
– Transmissão no ESPN+: LaLiga, Bundesliga, mais (EUA)
Não seria uma venda fácil. O atual interino, Ramón Meneses, carece de experiência e, talvez mais precisamente, de resultados. Sua principal função é treinar a seleção sub-20. A eliminação de Israel na recente Copa do Mundo Sub-20 naquele nível não é um argumento convincente para a promoção à seleção brasileira principal. E em março, em seu primeiro jogo no comando, levou o Brasil à primeira derrota contra o Marrocos.
Mas ele é o homem que vai escalar a equipe para mais dois jogos contra adversários africanos, quando o Brasil enfrentar a Guiné em Barcelona no sábado, seguido de um confronto com o Senegal em Lisboa na terça-feira. Assim, enquanto Rodrigues está ocupado com a diplomacia de peteca com Ancelotti, enquanto ouve os jogadores sobre possíveis alternativas, Meneses espera manter o foco de todos em campo.
Estes, então, são amistosos de final de temporada sob os cuidados de um técnico interino que provavelmente não permanecerá no cargo por muito tempo. Em termos puramente esportivos, eles podem não parecer particularmente importantes, mas a Federação Brasileira de Futebol encontrou uma maneira justificável de torná-los relevantes, especialmente os primeiros.
Enfrentar um adversário africano na Espanha deu ao Brasil a chance de fazer um ponto válido, ao mesmo tempo em que ofereceu apoio ao craque Vinicius Junior. Este, é claro, é o país onde Vinicius joga seu clube de futebol no Real Madrid, onde ele foi repetidamente submetido a abusos racistas e onde as autoridades foram tão lentas (e até aparentemente relutantes) em fazer qualquer coisa a respeito.
A partida contra a Guiné assume um significado muito mais amplo do que o esporte: pretende ser uma celebração do antirracismo. Pela primeira vez em sua história, o Brasil entrará em campo com a camisa preta, mudando para a tradicional amarela no segundo tempo. Portanto, um amistoso de final de temporada potencialmente sem sentido assume um importante contexto diplomático e social, mas há preocupações. Marcelo Carvalho dirige o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, equivalente brasileiro da organização britânica “Kick It Out”.
“Eu apoio este jogo”, disse ele recentemente quando perguntei a ele sobre isso no SporTV do Brasil. “Mas não apoio 100%. Tenho dúvidas.”
A maior preocupação potencial é: se houver atos de racismo na multidão, o que acontecerá? Existe um protocolo para lidar com a situação, interromper o jogo e retirar os jogadores do campo, por exemplo?
Esperemos que tudo corra bem e que esteja firmemente estabelecido que o comportamento racista dentro dos estádios de futebol não é aceitável. Rodrigues revelou recentemente que enviou uma mensagem a Ancelotti para agradecê-lo pelo apoio que tem dado a Vinicius ao longo de uma temporada difícil. Não é apenas sua longa lista de títulos, mas também a sensibilidade de Ancelotti e sua capacidade de gerenciar o grupo de jogadores que convenceu o Brasil de que ele é o homem certo para o trabalho. Mas quanto tempo eles estão dispostos a esperar?