Brasil avança no garimpo ilegal em território indígena Yanomami

Lá de cima, policiais fortemente armados e funcionários do órgão ambiental Ibama espiam um acampamento: uma mancha marrom de terra desmatada no meio do vasto tapete verde que é a Amazônia.

Existem quartos improvisados, uma cozinha, banheiros. O zumbido dos motores indica que os mineiros não estão longe.

Agentes do governo já bloquearam o movimento ilegal nos dois principais rios da região, disse Felipe Finger, coordenador do Ibama. “Agora estamos iniciando outra fase: atacando essas operações de mineração, desmantelando e neutralizando esses acampamentos”.

Vendo os helicópteros, “garimpeiros”, ou garimpeiros ilegais, fugirem para a selva, deixando para trás sacos de cassiterita, um mineral rico em dióxido de estanho conhecido como “ouro negro”, que vendem a compradores comerciais.

Enquanto soldados camuflados ateiam fogo ao acampamento, os agentes questionam um mineiro de 36 anos que não conseguiu escapar.

“A mineração ilegal não vai acabar, não tem nada a ver com Lula ou Bolsonaro”, diz, referindo-se ao atual presidente de esquerda e seu antecessor de direita.

O garimpeiro, que se identificou como Eduardo, disse que poderia ganhar R$ 5.000 por semana trabalhando no acampamento, acrescentando: “Onde você pode ganhar isso na cidade?”

Líderes Yanomami afirmam que cerca de 20 mil garimpeiros clandestinos invadiram seu território, matando indígenas, abusando sexualmente de mulheres e adolescentes e contaminando rios com mercúrio que usam para separar o ouro dos sedimentos.

‘Nada para comer’

Em janeiro, a Polícia Federal abriu uma investigação sobre um possível genocídio relacionado ao abuso dos Yanomami e de seus recursos por garimpeiros.

A mudança ocorreu depois que um relatório oficial constatou que cerca de 100 crianças morreram na área no ano passado, algumas de desnutrição.

“Sofremos de diarréia e vômito, não temos atendimento médico, as pessoas estão passando fome e não temos o que comer”, disse um Yanomami à AFP na sexta-feira.

A Força Aérea do Brasil montou um hospital de campanha em Boa Vista, capital do estado de Roraima, no norte, e o Exército disse que evacuou cerca de 130 pacientes de helicópteros de locais remotos.

Na manhã desta quinta-feira, garimpeiros armados a bordo de sete barcos atacaram um posto de controle do Ibama no rio Uraricoera. Um membro da gangue foi ferido em uma troca de tiros, enquanto o restante fugiu.

As autoridades disseram que o ataque mostrou que os criminosos estavam sentindo a pressão da operação do governo.

A mineração ilegal aumentou consideravelmente durante a presidência de 2019-2022 de Jair Bolsonaro, que favoreceu a abertura de terras indígenas para tal atividade.

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