Brasil adia julgamento importante sobre direitos territoriais indígenas

O caso, que começou em 2021 e foi chamado de “o julgamento do século” para os povos nativos do país, pode retirar o status de proteção de algumas terras nativas, abrindo-as para o agronegócio e a mineração.

Centenas de indígenas de todo o país acamparam em Brasília esta semana em antecipação ao julgamento, que estava marcado para começar na quarta-feira.

A demora ocorreu porque um dos juízes pediu mais tempo para analisar o caso, que questiona se o governo deveria reconhecer terras indígenas protegidas onde os atuais habitantes não viviam quando a constituição do país de 1988 foi adotada.

Até agora, três dos 10 juízes votaram no caso, um a favor da corte de 1988, ou contra os povos originários, e dois com opinião contrária.

Agora, o tribunal tem 90 dias para marcar uma nova data para proceder à votação.

A questão gira em torno da proteção das terras indígenas na constituição brasileira.

O lobby do agronegócio argumenta que essas proteções deveriam se aplicar apenas às terras cujos habitantes estavam presentes em 1988, quando a constituição foi adotada.

Ativistas dos direitos indígenas argumentam que a constituição não menciona tal limite de tempo e que os habitantes nativos muitas vezes foram forçados a deixar suas terras ancestrais.

Membros de 20 etnias diferentes, juntamente com a Ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara, compareceram ao tribunal na quarta-feira.

O adiamento do julgamento é “emocionalmente desgastante” para as comunidades brasileiras que aguardam uma resposta, disse Daniel Pataxo, líder do povo Pataxo no estado da Bahia.

“Acaba sendo uma falta de respeito com a gente como ser humano”, disse à AFP o homem de 38 anos, que viajou a Brasília para o julgamento, diante do tribunal, onde dezenas de indígenas se reuniram.

Em outras partes do Brasil, os povos indígenas montaram barricadas em pelo menos três estados diferentes na quarta-feira, disseram as autoridades.

Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei pró-limite de tempo de 1988, em um golpe para o presidente esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, que fez campanha para proteger os direitos indígenas.

O Brasil tem cerca de 800 territórios indígenas, embora cerca de um terço deles ainda não tenham sido oficialmente definidos, segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNA).

Ambientalistas dizem que proteger as reservas indígenas é uma das melhores maneiras de impedir a destruição da Amazônia, um recurso crítico na corrida para conter as mudanças climáticas.

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