Bolsonaro presta depoimento à polícia sobre os distúrbios de 8 de janeiro

O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro testemunhou na sede da Polícia Federal na quarta-feira sobre suas ações antes dos ataques de 8 de janeiro a prédios do governo na capital Brasília.

SÃO PAULO – O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro prestou depoimento nesta quarta-feira na sede da Polícia Federal sobre suas ações relacionadas aos ataques de 8 de janeiro a prédios do governo na capital, Brasília.

Uma semana depois que seu sucessor de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu o cargo, apoiadores de Bolsonaro invadiram e vandalizaram o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e os prédios do palácio presidencial. Espera-se que centenas deles sejam julgados.

Procurador Geral do Brasil. Augusto Aras disse no início deste mês que Bolsonaro “supostamente incentivou a prática de crimes” contra o estado de direito. O ex-presidente havia deixado o país após a derrota e estava em Orlando, na Flórida, durante os ataques, negando qualquer envolvimento com eles.

Bolsonaro nunca admitiu abertamente a derrota na corrida presidencial mais disputada desde o retorno do Brasil à democracia, mais de três décadas atrás. Ele também fez repetidas afirmações infundadas que lançaram dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de votação eletrônica do Brasil. Muitos de seus partidários convictos ainda acreditam que a eleição foi fraudada, embora não haja provas.

Seu depoimento na quarta-feira durou cerca de duas horas e é um passo à frente em apenas uma das investigações contra o líder de extrema-direita que pode deixá-lo inelegível para as próximas eleições ou resultar em prisão. Bolsonaro admitiu em 15 de março que sua inelegibilidade é possível, mas disse que a prisão só poderia resultar de uma decisão “arbitrária”. O ex-presidente negou qualquer irregularidade nos casos.

Saindo do prédio da polícia, Bolsonaro saiu do veículo e ofereceu um sorriso e um sinal de positivo aos repórteres, mas encaminhou as perguntas para seus advogados.

“Eu sinto sua falta, ok?” ele disse. “Abraços a todos”.

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República para investigar a atuação de Bolsonaro, citando um vídeo que o ex-presidente postou no Facebook dois dias após os distúrbios. Ele alegou que Lula não foi eleito para o cargo, mas foi escolhido pelo Supremo Tribunal Federal e pelo corpo eleitoral, também supervisionado pelo desembargador de Moraes.

Embora Bolsonaro tenha postado o vídeo no Facebook após os tumultos e o removido horas depois, os promotores argumentaram que seu conteúdo era suficiente para justificar uma investigação prévia sobre sua conduta. Falando a repórteres do lado de fora do prédio da polícia na quarta-feira, o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, disse que o ex-presidente postou acidentalmente enquanto estava hospitalizado e tomando remédios, removendo-o assim que descobriu.

Embora Bolsonaro possa ser visto como uma espécie de “mentor intelectual” do que aconteceu, já que os manifestantes eram seus apoiadores, responsabilizá-lo legalmente seria um desafio, disse Mario Sergio Lima, analista político sênior para o Brasil na Medley Global Advisors.

“A menos que eu encontre algum tipo de áudio do WhatsApp com alguma ordem direta, ou talvez se (o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro) Anderson Torres disser algo, o que não parece muito provável”, disse Lima.

Grande parte da atenção até agora se concentrou em Torres, que assumiu a chefia da segurança do Distrito Federal em 2 de janeiro e estava nos Estados Unidos no dia dos distúrbios. De Moraes abriu uma investigação sobre Torres, observando que ele demitiu seus subordinados antes de deixar o país e dizendo que isso é uma indicação de que ele estava deliberadamente preparando o terreno para a agitação. Torres está atualmente na prisão.

O ex-presidente deve prestar depoimento em diversos outros casos envolvendo ações durante sua presidência. No início deste mês, a Polícia Federal o interrogou sobre três conjuntos de joias com diamantes que recebeu da Arábia Saudita. Ele também nega qualquer irregularidade nesse caso.

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O repórter da AP Mauricio Savarese contribuiu de São Paulo.

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