O presidente brasileiro teve um papel “direto” na divulgação de desinformações sobre o processo eleitoral, diz um boletim de ocorrência.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro teve um papel “direto e relevante” na divulgação de informações errôneas sobre o processo eleitoral do país em transmissões ao vivo nas redes sociais, segundo documento da polícia.
O comissário da Polícia Federal, Denisse Ribeiro, escreveu no documento que as transmissões do Bolsonaro tinham um “propósito claro” de enganar os brasileiros sobre a integridade das eleições no país, disse a agência de notícias Reuters na sexta-feira, que analisou o arquivo policial.
Em orientação política semelhante à usada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, Bolsonaro disse várias vezes nos últimos meses que o sistema de votação eletrônica do Brasil foi fraudado durante a eleição presidencial de 2018, que ele venceu.
Ele diz que deveria ter sido eleito no primeiro turno, mas nunca apresentou qualquer evidência de fraude.
Também questionou a integridade da eleição do próximo ano, o que significa que pode não aceitar os resultados se o sistema eletrônico não for alterado para um que inclua recibos em papel que possam ser contados.
As alegações de Bolsonaro foram rejeitadas por especialistas judiciais brasileiros, e os críticos acusaram o líder de extrema direita, que viu uma queda na popularidade em meio à crise do COVID-19 no Brasil, de tentar lançar dúvidas antes da votação de 2022 para disputar. os resultados.
Bolsonaro atualmente está atrás do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de opinião. Lula, que liderou o Brasil de 2003 a 2010, tem 48 por cento dos votos, em comparação com 22 por cento do Bolsonaro, de acordo com uma pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Datafolha.
Isso significa que se as eleições fossem hoje, Lula teria votos suficientes para vencer no primeiro turno. A lei eleitoral brasileira exige que um candidato obtenha mais da metade de todos os votos válidos, subtraindo os votos em branco e os nulos.
A pesquisa anterior do Datafolha, em setembro, apontava Lula com 44% dos votos, ante 26% do Bolsonaro.
O gabinete do presidente brasileiro não respondeu imediatamente a um pedido da Reuters de comentários sobre o documento da Polícia Federal.
Ribeiro lembrou em seu relatório que o presidente questionou a atuação de uma série de servidores públicos envolvidos no processo eleitoral, ao mesmo tempo em que promoveu a desinformação apoiada por seus partidários conservadores.
“Esta investigação permitiu identificar que Sua Excelência o Presidente Jair Messias Bolsonaro teve uma ação direta e relevante na promoção da desinformação, seguindo um padrão já utilizado por governos de outros países”, disse.
A denúncia foi enviada ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que lidera uma investigação sobre notícias falsas.
A investigação da Polícia Federal foi motivada por um vídeo transmitido pelo Bolsonaro em agosto, no qual ele levantava uma série de questões sobre a segurança do sistema de votação eletrônica usado no Brasil desde 1996.
Nem Bolsonaro nem Lula declararam oficialmente sua candidatura às eleições presidenciais do próximo ano no maior país da América Latina.